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"Lucy Bronze é simplesmente única. Nunca vi nada igual na minha vida", elogiou a treinadora Sarina Wiegman, embora não seja adepta de elogios públicos ou palavras enfáticas. No jogo mais louco do torneio, disputado em Zurique na quinta-feira, a lateral-direita de 33 anos liderou a revolta das campeãs europeias contra a Suécia, que ainda mantinha uma vantagem de 2-0 a onze minutos do fim.
Com Chloe Kelly a servir-lhe o golo de bandeja, Lucy Bronze marcou de cabeça (2-1, aos 79’), dois minutos antes de Michelle Agyemang restabelecer a igualdade (2-2, aos 81’). Mais tarde, Bronze acabaria por encerrar uma dramática disputa de grandes penalidades (3-2), após o empate no prolongamento.
Entretanto, a jogadora mais experiente das Leoas, com 138 internacionalizações e 20 golos em 12 anos, enfaixava a coxa direita enquanto o contacto físico intenso do prolongamento mantinha os treinadores ocupados. Uma "atitude de guerreira", como sublinhou Wiegman.
"Estava a sentir-me um pouco tensa no final do jogo e pensei: ‘Tenho de aguentar para garantir que posso continuar’", explicou Bronze aos jornalistas.
Confiança e matemática
A defesa-central sabia bem o que era estar sob pressão numa decisão por penáltis, mas "não esperava" ter pela frente a guarda-redes Jennifer Falk, com máxima pressão e pouca experiência neste tipo de situações.
"Nunca tinha marcado um penálti pela Inglaterra. Mas confio nas minhas capacidades e na nossa guarda-redes, a Hannah (Hampton). Sabia que tinha de assumir a responsabilidade e que a Hannah faria o que era preciso", disse Bronze após a partida.
Depois de uma autêntica montanha-russa de grandes penalidades (oito falhanços em 12 tentativas), a lateral-direita disparou um míssil certeiro para o centro da baliza, antes de ver a jovem Smilla Holmberg desperdiçar a última oportunidade da Suécia.
"Estatisticamente, numa decisão por penáltis, é bastante arriscado para um guarda-redes manter-se imóvel no centro da baliza", analisou, com a calma de quem conhece bem as probabilidades. Afinal, a sua mãe é professora de matemática e assistia ao jogo com os olhos tapados para conter o nervosismo.
Apoiante incondicional da filha mais nova desde a infância em Berwick-upon-Tweed, a dois passos da Escócia, Diane Bronze descreveu-a, em 2020, como uma criança tão apaixonada que "fazia malabarismos na cozinha enquanto preparava o chá."
Perturbação autista
Tímida, com insónias e prejudicada na escola e nas suas relações sociais por uma perturbação de défice de atenção e uma perturbação do espectro do autismo, diagnosticadas apenas já em adulta, Lucy Bronze encontrou desde cedo refúgio e equilíbrio no desporto. A criança desabrochou de imediato no campo, tranquilizada pelo esforço físico.
"Não sei se diria que sou apaixonada, mas sim obcecada. Esta hiperfocalização no futebol é o efeito do meu autismo", explicou a campeã à BBC, em 2021, sublinhando o esforço que sempre fez para comunicar com as suas companheiras de seleção e para conseguir olhá-las nos olhos.
A defesa do Chelsea, que passou por Liverpool, Manchester City, Lyon e Barcelona, e que conquistou cinco Ligas dos Campeões e nove campeonatos nacionais, está certamente longe dos seus melhores anos, aqueles que lhe valeram o prémio FIFA The Best em 2020. Mas "ter alguém assim na nossa equipa dá-nos muita força", garantiu a avançada Alessia Russo, na passada sexta-feira, num podcast dedicado às Leoas.
"Ela é muito apaixonada, faz de tudo para ganhar. É uma vencedora nata, não apenas no futebol, mas em todos os aspectos da vida. Inspira-nos com a sua forma de estar e com tudo aquilo que faz. É, simplesmente, uma lenda", resumiu a avançada de 26 anos. Ao seu lado, Hannah Hampton concordou: "Acho que não haverá outra Lucy Bronze tão cedo."