Mais

Sarina Wiegman, o rosto do reinado europeu no futebol feminino

Sarina Wiegman, peça-chave no novo triunfo da Inglaterra no Euro
Sarina Wiegman, peça-chave no novo triunfo da Inglaterra no EuroMiguel MEDINA / AFP

Sarina Wiegman, de 55 anos, elevou ainda mais o seu nome entre os maiores treinadores da história do futebol no domingo, ao conquistar o seu terceiro Campeonato da Europa. Com a serenidade que a caracteriza, guiou a Inglaterra à vitória frente à Espanha (1-1, 3-1 nas grandes penalidades), consolidando um percurso impressionante no topo do futebol europeu.

Recorde as incidências da partida

Este domingo, em Basileia, Sarina Wiegman alcançou a sua quinta final consecutiva num grande torneio internacional, um feito sem precedentes. A treinadora neerlandesa esteve presente nas decisões do Euro 2017 e Mundial 2019 com os Países Baixos, e, desde que assumiu o comando da Inglaterra, somou mais três finais: Euro-2022, Mundial-2023 e agora Euro-2025. Venceu todos os torneios europeus, afirmando-se como uma das figuras mais dominantes da história do futebol feminino.

As suas estatísticas eclipsam até nomes consagrados do futebol masculino, como Vicente del Bosque, vencedor do Mundial 2010 e Euro 2012 com Espanha, ou Didier Deschamps, que somou presenças em finais do Euro-2016 e Mundial-2022, vencendo apenas o Mundial de 2018.

Natural de Haia, Wiegman começou por conciliar o futebol com os estudos em Educação Física, convencida de que o treino profissional seria um sonho distante. Jogadora com 99 internacionalizações pelos Países Baixos, integrou a equipa técnica da seleção em 2014 e foi promovida a selecionadora principal em 2017, seis meses antes de conquistar o Euro no seu próprio país.

Desde 2021, lidera a seleção inglesa, com quem continuou a colecionar títulos e finais, consolidando uma carreira que já é considerada histórica.

"Conversas difíceis"

Para alcançar o sucesso continuado, Sarina Wiegman manteve os seus princípios-base, onde cada jogadora conhece exatamente o seu papel, mas adaptou a sua postura relacional, tornando-se mais próxima e comunicativa. A mudança foi notada dentro do balneário.

"Agora vêmo-la a dançar e a cantar. Isso mudou em comparação com o início", revelou Keira Walsh durante o torneio.

Wiegman também incentivou uma cultura de diálogo mais direto e honesto entre treinadora e jogadoras, como recordou a capitã Leah Williamson.

"Ela é uma boa pessoa. Como jogadora, queres respeitar quem está no comando. Ela desafia-nos e impulsiona-nos a melhorar. Já tivemos conversas difíceis, mas sempre construtivas", confessou.

Apesar da serenidade habitual na zona técnica, a neerlandesa deixou-se contagiar pela emoção em momentos decisivos: celebrou efusivamente os golos marcados nos instantes finais dos quartos de final frente à Suécia (2-2, 3-2 nos penáltis) e na meia-final contra a Itália (2-1, no prolongamento).

Beth Mead resumiu o impacto da treinadora de forma clara: "A Sarina criou um ambiente onde somos mais solidárias, mais confiantes umas nas outras, dispostas a partilhar momentos difíceis e a ajudar-nos mutuamente. Ela apoia-nos e nós apoiamo-la."

Objetivo 2027

O que Sarina Wiegman realmente exige da sua equipa? "Que estejamos unidas e lutemos umas pelas outras", responde Ella Toone. A média inglesa destacou como o grupo se tornou ainda mais coeso após os dramas pessoais que marcaram a treinadora, ela própria e Beth Mead.

As conversas de Wiegman são também elogiadas dentro do balneário: "Ela é muito motivadora, une-nos a todas e estamos sempre atentas às suas palavras. Os seus discursos melhoraram o nosso jogo e fazem com que todas estejamos prontas", destacou Toone, jogadora do Manchester United.

O percurso até ao título europeu não foi isento de obstáculos. Pouco antes do torneio, a seleção inglesa sofreu abalos importantes: a retirada inesperada da guarda-redes Mary Earps, que recusou ser suplente, as ausências de Millie Bright e Fran Kirby, e a escassez de opções-chave no meio-campo e na lateral esquerda.

Mesmo assim, Wiegman conduziu a equipa até ao topo do futebol europeu pela terceira vez consecutiva, mantendo a Inglaterra no trono que ocupa desde 2022.

A federação inglesa, ciente do valor inestimável da sua treinadora, não quer correr riscos.

"Não há preço pelo qual estejamos dispostos a abdicar dela", garantiu o diretor-geral Mark Bullingham, sublinhando que Wiegman tem contrato até ao Mundial de 2027, o único título que ainda escapa às Lionesses.

Leia a crónica da partida