Não é à toa que o termo “joia” – que, como sabemos, é um bem valioso – vem ganhando mais espaço na mídia nos últimos anos.
Segundo a ferramenta Exploding Topics, “joia” já é mais usado em notícias que aparecem no Google Notícias do que o termo “cria" da formação.
Cria, como sabemos, é um animal, não um bem, e a escolha de palavras escancara como o futebol moderno passou a tratar os atletas sub-20.

A Lei que mudou tudo
A revolução que trouxe a supermercantilização dos futebolistas veio com a Lei Bosman, regra que revolucionou o desporto em 1995.
Nascida depois do ex-jogador belga Jean-Marc Bosman ter ganho um processo contra o RFC Liege, a sua equipa na altura, a lei permitiu que atletas deixassem os seus clubes no término dos seus contratos.
Antes de 1995, os clubes detinham o famigerado “passe” dos jogadores. Depois daquele ano, livres para decidirem os seus destinos, as jovens promessas podiam buscar contratos melhores.
E uma das consequências da revolução Bosman foi que ela abriu a porta para os clubes mais ricos assinarem com os melhores jogadores.
Em menos de cinco temporadas após a regra entrar em vigor, o futebol sul-americano não conseguia mais segurar os seus craques, que passaram mudar-se para a Europa a toque de caixa.

Copinha na vitrine
Sob esta nova ordem, o mercado da bola inflacionou ano a ano e expandiu os seus tentáculos para atletas cada vez mais jovens.
E a Copinha tornou-se a feira perfeita dos novos talentos deste mercado.
Tem tanto clube e empresário desesperado em fazer dinheiro – e tanto jogador a precisar de um bom negócio – que o torneio aumentou de 36 equipas em 1990 para 128 em 2023. Um aumento de "apenas" 355%.
Em 2008, o Botafogo recusou participar no torneio devido à invasão de equipas de empresários (como o famigerado Roma Barueri, que era uma equipa alugada, e venceu a Copinha de 2001).
Hoje o Fogão entendeu que o torneio não é mais aquele que produziu finais épicas como o São Paulo x Corinthians de 1993, e está muito feliz a disputar o campeonato atual, ao lado de dezenas de clubes esquisitos – e esperando ter lucro e revelar "joias" como todos os outros.
Quase 30 anos após a lei que aboliu o passe, a Copa São Paulo de Futebol Júnior tenta manter o seu charme, convivendo com a sua função moderna, que agora é a mais importante de todas: produzir, lapidar e tentar vender rubis e diamantes.