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Análise: Por que razão os adeptos do Ajax pedem a demissão de John Heitinga

John Heiting sob pressão no Ajax
John Heiting sob pressão no AjaxČTK / imago sportfotodienst / IMAGO

Apesar de o Ajax ser um dos dois únicos clubes na Eredivisie que ainda não perderam qualquer jogo esta época – sendo o outro o líder Feyenoord –, parece existir um movimento genuíno entre os adeptos do clube para pressionar a direção a afastar o atual treinador, John Heitinga.

O técnico, de 41 anos, regressou ao clube esta temporada, após uma breve passagem pela Premier League, primeiro como adjunto de David Moyes no West Ham e depois integrando a equipa técnica de Arne Slot, na temporada de estreia vitoriosa do título no Liverpool.

É justo dizer que Heitinga tem experiência ao mais alto nível, mas o estilo de futebol praticado pela sua equipa atualmente deixa muito a desejar, com uma defesa frágil e remates desastrosos a tornarem-se marca habitual do conjunto atual.

Defesa displicente não ajuda o Ajax

Paul Winters, editor global do Flashscore para o mercado neerlandês e adepto do Ajax, é apenas um dos muitos que expressam o seu desagrado com o que têm visto de uma equipa que normalmente se destaca pelo futebol atrativo, tanto com como sem posse de bola.

"Sou adepto do Ajax e estão muito, muito mal esta época. Parecem perdidos em campo, sem plano, sem orientação – está a ser terrível... as pessoas imploram para que ele (Heitinga) seja despedido", afirmou.

Os últimos resultados do Ajax
Os últimos resultados do AjaxFlashscore

Tendo em conta que, na principal divisão neerlandesa esta época, os De Godenzonen venceram quatro e empataram quatro dos seus oito jogos, a análise de Winters mostra que não basta ganhar, é preciso fazê-lo de uma forma convincente.

Os adeptos querem, e têm direito, a ser entretidos.

Mais do mesmo após o colapso da época passada

Depois do desfecho desastroso da última temporada, sob o comando de Francesco Farioli, agora no FC Porto, é compreensível que Winters e outros não estejam dispostos a tolerar futebol medíocre por muito mais tempo.

O treinador italiano assinou um contrato de três anos no início da época 2024/25, mas saiu antes de completar o primeiro ano, após o Ajax falhar a conquista do título da Liga.

Com sete jornadas por disputar, a equipa de Farioli tinha nove pontos de vantagem e era favorita a levantar o troféu. No entanto, um colapso total permitiu que PSV Eindhoven ultrapassasse o Ajax por apenas um ponto.

"A direção e eu temos os mesmos objetivos para o futuro do Ajax, mas visões e prazos diferentes sobre como devemos trabalhar para os alcançar", foi tudo o que Farioli ofereceu como explicação após o final da temporada.

Questões internas ditaram o fim de Farioli

Em termos de números, o seu registo não foi mau: em 54 jogos em todas as competições, venceu 35, empatou sete e perdeu 12, com 102 golos marcados e 53 concedidos, o que lhe deu uma percentagem de vitórias de 64,8%.

No entanto, alguns jogos podem ter sido ganhos mais por sorte do que por mérito, e o estilo de gestão de Farioli estava claramente em desacordo com a direção.

Essas divergências internas, desde táticas a transferências e constituição da equipa técnica, agravadas pelo final de época tão negativo, levaram à saída do treinador italiano, que rumou depois ao FC Porto. Raramente se vê um caso de uma equipa tão próxima e, ao mesmo tempo, tão distante da glória.

A nomeação de Heitinga foi, por isso, vista como uma tentativa de motivar o plantel e os adeptos que investem o seu dinheiro para ir ao Johan Cruyff Arena e apoiar a equipa todas as semanas.

Foi um jogador formado no clube, que deu o salto do Jong Ajax para a equipa principal, onde se destacou durante vários anos antes de rumar ao Atlético de Madrid, Everton, Fulham e Hertha Berlim, terminando a carreira de jogador onde a começou.

Heitinga sabia o que significava vestir aquela camisola, assumir a responsabilidade que isso implica, e isso deveria contar para alguma coisa.

Frustração nas bancadas

Talvez seja por isso que os adeptos estão tão frustrados com o que têm visto atualmente, mesmo que, em termos internos, os números contem outra história.

A forma passiva como a equipa se rendeu ao Marselha na Liga dos Campeões, acabando por perder por 4-0, é um exemplo claro do oposto do que os adeptos esperam dos seus ídolos.

Tendo em conta que esse resultado sucedeu a uma derrota por 2-0 na jornada inaugural frente ao Inter de Milão, a equipa que outrora era considerada o berço do futebol total encontra-se agora na 35.ª posição entre 36 equipas na atual tabela da Liga dos Campeões, ficando acima apenas porque o Kairat concedeu mais dois golos.

O que parece desconcertante para os adeptos é a abordagem de Heitinga ao treino – alguns até dizem que é inexistente –, a sua evidente falta de perspicácia tática e a forma como organiza a defesa, especialmente nas bolas paradas.

Hora de agir para a direção do Ajax?

O treinador aponta para um registo de quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas, mas apenas 17 golos marcados e 16 concedidos nesse período não são números que lhe permitam justificar o cargo.

Especialmente com uma percentagem de vitórias de 40%, muito abaixo do que o seu antecessor conseguiu.

No último jogo do Ajax, por exemplo, a equipa teve de recuperar de uma desvantagem de 3-1 frente ao 11.º classificado, o Sparta de Roterdão, apenas para garantir um ponto, algo claramente insuficiente para um clube com esta dimensão e história.

"Ouçam, os adeptos estão desiludidos, nós também, mas somos uma equipa em construção," disse Heitinga após a derrota com o Marselha.

"E sei que, com o tempo, vamos acertar, mas isso vai demorar. Estou preocupado com o meu lugar? Não", acrescentou.

Com a pausa internacional a decorrer, é evidente que a direção do Ajax tem uma decisão importante pela frente, mas a questão é: terão coragem para a tomar?

Jason Pettigrove
Jason PettigroveFlashscore