O técnico, de 41 anos, regressou ao clube esta temporada, após uma breve passagem pela Premier League, primeiro como adjunto de David Moyes no West Ham e depois integrando a equipa técnica de Arne Slot, na temporada de estreia vitoriosa do título no Liverpool.
É justo dizer que Heitinga tem experiência ao mais alto nível, mas o estilo de futebol praticado pela sua equipa atualmente deixa muito a desejar, com uma defesa frágil e remates desastrosos a tornarem-se marca habitual do conjunto atual.
Defesa displicente não ajuda o Ajax
Paul Winters, editor global do Flashscore para o mercado neerlandês e adepto do Ajax, é apenas um dos muitos que expressam o seu desagrado com o que têm visto de uma equipa que normalmente se destaca pelo futebol atrativo, tanto com como sem posse de bola.
"Sou adepto do Ajax e estão muito, muito mal esta época. Parecem perdidos em campo, sem plano, sem orientação – está a ser terrível... as pessoas imploram para que ele (Heitinga) seja despedido", afirmou.

Tendo em conta que, na principal divisão neerlandesa esta época, os De Godenzonen venceram quatro e empataram quatro dos seus oito jogos, a análise de Winters mostra que não basta ganhar, é preciso fazê-lo de uma forma convincente.
Os adeptos querem, e têm direito, a ser entretidos.
Mais do mesmo após o colapso da época passada
Depois do desfecho desastroso da última temporada, sob o comando de Francesco Farioli, agora no FC Porto, é compreensível que Winters e outros não estejam dispostos a tolerar futebol medíocre por muito mais tempo.
O treinador italiano assinou um contrato de três anos no início da época 2024/25, mas saiu antes de completar o primeiro ano, após o Ajax falhar a conquista do título da Liga.
Com sete jornadas por disputar, a equipa de Farioli tinha nove pontos de vantagem e era favorita a levantar o troféu. No entanto, um colapso total permitiu que PSV Eindhoven ultrapassasse o Ajax por apenas um ponto.
"A direção e eu temos os mesmos objetivos para o futuro do Ajax, mas visões e prazos diferentes sobre como devemos trabalhar para os alcançar", foi tudo o que Farioli ofereceu como explicação após o final da temporada.
Questões internas ditaram o fim de Farioli
Em termos de números, o seu registo não foi mau: em 54 jogos em todas as competições, venceu 35, empatou sete e perdeu 12, com 102 golos marcados e 53 concedidos, o que lhe deu uma percentagem de vitórias de 64,8%.
No entanto, alguns jogos podem ter sido ganhos mais por sorte do que por mérito, e o estilo de gestão de Farioli estava claramente em desacordo com a direção.
Essas divergências internas, desde táticas a transferências e constituição da equipa técnica, agravadas pelo final de época tão negativo, levaram à saída do treinador italiano, que rumou depois ao FC Porto. Raramente se vê um caso de uma equipa tão próxima e, ao mesmo tempo, tão distante da glória.
A nomeação de Heitinga foi, por isso, vista como uma tentativa de motivar o plantel e os adeptos que investem o seu dinheiro para ir ao Johan Cruyff Arena e apoiar a equipa todas as semanas.
Foi um jogador formado no clube, que deu o salto do Jong Ajax para a equipa principal, onde se destacou durante vários anos antes de rumar ao Atlético de Madrid, Everton, Fulham e Hertha Berlim, terminando a carreira de jogador onde a começou.
Heitinga sabia o que significava vestir aquela camisola, assumir a responsabilidade que isso implica, e isso deveria contar para alguma coisa.
Frustração nas bancadas
Talvez seja por isso que os adeptos estão tão frustrados com o que têm visto atualmente, mesmo que, em termos internos, os números contem outra história.
A forma passiva como a equipa se rendeu ao Marselha na Liga dos Campeões, acabando por perder por 4-0, é um exemplo claro do oposto do que os adeptos esperam dos seus ídolos.
Tendo em conta que esse resultado sucedeu a uma derrota por 2-0 na jornada inaugural frente ao Inter de Milão, a equipa que outrora era considerada o berço do futebol total encontra-se agora na 35.ª posição entre 36 equipas na atual tabela da Liga dos Campeões, ficando acima apenas porque o Kairat concedeu mais dois golos.
O que parece desconcertante para os adeptos é a abordagem de Heitinga ao treino – alguns até dizem que é inexistente –, a sua evidente falta de perspicácia tática e a forma como organiza a defesa, especialmente nas bolas paradas.
Hora de agir para a direção do Ajax?
O treinador aponta para um registo de quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas, mas apenas 17 golos marcados e 16 concedidos nesse período não são números que lhe permitam justificar o cargo.
Especialmente com uma percentagem de vitórias de 40%, muito abaixo do que o seu antecessor conseguiu.
No último jogo do Ajax, por exemplo, a equipa teve de recuperar de uma desvantagem de 3-1 frente ao 11.º classificado, o Sparta de Roterdão, apenas para garantir um ponto, algo claramente insuficiente para um clube com esta dimensão e história.
"Ouçam, os adeptos estão desiludidos, nós também, mas somos uma equipa em construção," disse Heitinga após a derrota com o Marselha.
"E sei que, com o tempo, vamos acertar, mas isso vai demorar. Estou preocupado com o meu lugar? Não", acrescentou.
Com a pausa internacional a decorrer, é evidente que a direção do Ajax tem uma decisão importante pela frente, mas a questão é: terão coragem para a tomar?
