Nuno Gomes é sinónimo de golos, mas também de extrema inteligência. Dentro e fora do campo. O avançado, que disputou 79 jogos por Portugal, com 29 golos, falou em exclusivo ao Flashscore sobre o Euro-2024.
- A cada ano que passa, parece que Portugal está a ficar cada vez mais forte. Como é que se explica isso?
- Parece incrível que um país tão pequeno possa produzir tanto talento. Mas é verdade. No plantel deste ano há muito talento em todos os setores. Roberto Martinez terá muitas alternativas por posição. É verdade, porém, que esta é uma das melhores gerações de sempre.
- Portugal é, por isso, um dos favoritos a vencer o Euro-2024?
- As expectativas são elevadas, e com razão. Mas sabemos muito bem que no futebol tudo pode acontecer e que o favoritismo tem de passar do papel para o camo. Muitas vezes, de facto, os melhores não ganham. Até porque, no final, só um é que ganha.
- E quem seria a melhor equipa neste Euro-2024?
- Para mim, à frente de todos estão a França e a Inglaterra. Depois vêm a Alemanha, Portugal e Espanha. Mas também temos de estar atentos à Itália, como sempre.
- A qualidade de Portugal é, no entanto, inigualável. Basta ver que João Félix e Rafael Leão podem começar este Europeu com o estatuto de suplentes.
- Temos uma grande Seleção que vem de um bom momento. E eles podem jogar bem. Mas temos de provar tudo em campo. Roberto Martinez vai ter uma dor de cabeça para escolher o onze inicial. Porque há muitas opções.
- O jogo contra a República Checa é um bom teste para começar.
- É uma equipa que pode sofrer com alguma individualidade. Não vai ser fácil enfrentá-los. Também me lembro que, depois do empate, escrevi uma mensagem ao meu antigo companheiro de equipa Tomas Repka, com quem joguei na Fiorentina. Desde então, não tive mais notícias dele. Acho que antes do jogo vou enviar-lhe uma mensagem para o provocar...
- E como é que vê este Grupo F, o de Portugal?
- É um grupo que pode ser perigoso porque pode ser enganador. No papel, parece fácil, dada a ausência de equipas nacionais fortes. Mas a Turquia é uma boa equipa e tem Montella, que trará experiência. A Geórgia, apesar de ser particularmente experiente, conta com Kvaratskhelia e irá certamente causar problemas. Eu digo que somos favoritos, mas temos de estar totalmente concentrados para seguir em frente.

- Vê nos movimentos de Kvaratskhelia aquele Cristiano Ronaldo mais jovem?
- Um bocadinho, sim. Estamos a falar de um jogador muito forte, jovem, que esteve muito bem em Nápoles. E depois de ter chegado a este palco, vai querer também deixar a sua marca ao mais alto nível.
- Cristiano Ronaldo, por outro lado, vai disputar o seu sexto Europeu com a mesma fome de sempre. Nas edições anteriores, conquistou por duas vezes o título de melhor marcador, mas sempre em conjunto com outro jogador. Será que este ano também vai querer impor-se?
- Poderá fazê-lo, porque agora está a jogar como avançado. E, com a equipa que tem, poderá ficar perto da baliza para aproveitar as muitas assistências que os seus companheiros lhe proporcionarão.
- Aos 39 anos, também pode vir a ser suplente, como aconteceu no Campeonato do Mundo?
- Cristiano vai começar como titular, depois veremos como correm as coisas. No último amigável antes do Campeonato da Europa, marcou dois golos. Nesta idade, só fenómenos como ele podem fazer isso. E penso que ele tem a confiança necessária para se sair bem. Vai ser titular e, se marcar um ou dois golos no início do torneio, vai chegar ao fim.
- O ponto forte de Portugal é, no entanto, o meio-campo. Um meio-campo nevrálgico, no qual Vitinha tem batido à porta da titularidade.
- É o jogador que deu o maior salto de qualidade este ano. Está a viver um momento de forma absoluto e terminou a época com o Paris Saint-Germain de forma espetacular, como demonstrado nas meias-finais da Liga dos Campeões. Sabe fazer com que os seus companheiros joguem melhor e compreende muito bem o jogo, além de poder jogar em qualquer posição do meio-campo. Vai jogar ao lado de Bruno Fernandes e João Palhinha, ao que me parece. E no banco haverá outros médios muito fortes, como Rúben Neves e João Neves, de quem gosto muito. É muito jovem, mas já está pronto para jogar como titular.
- O Bruno Fernandes está hoje entre os melhores médios do mundo. E pensar que há oito anos, quando Portugal foi campeão, era quase desconhecido dos portugueses, quando jogava na Sampdoria.
- O Bruno é um futebolista muito forte, que amadureceu com o tempo, usando a sua inteligência. E, nos últimos anos, também acrescentou muitos golos ao seu repertório. Tem um remate excecional e consegue dar um enorme equilíbrio à equipa, para além de ser um excelente finalizador.
- Em 2008 o Nuno Gomes era capitão. Apercebeu-se de que estava a começar uma grande era do futebol português?
- É verdade, eu era capitão antes do Cristiano Ronaldo. Foi uma passagem de testemunho, após a qual ele iniciou o seu importante percurso. Mas, para ser sincero, na altura não pensei que Portugal pudesse tornar-se tão forte. Foi tudo resultado de um trabalho a partir da base, com os jovens. Investimento direcionado para o sector da juventude, através da competência. E os resultados estão à vista.
- Entre os jogadores portugueses que atuam em Itália, um dos mais destacados é Rafael Leão, do AC Milan. Aos 25 anos, será que chegou finalmente a altura de dar o salto decisivo na carreira?
- Ele e João Félix são dois excelentes jogadores para jogar no ataque da Seleção Nacional. E caberá ao treinador decidir em quem apostar, dependendo do adversário. Mas o Rafael Leão é um jogador muito forte, que pode decidir um jogo sozinho. E acredito que o Campeonato da Europa, para ele, pode ser um trampolim para a história da Seleção Nacional. Se estiver bem, o Rafael Leão é uma vantagem para nós.
- Voltando ao seu passado italiano, voou imediatamente para Florença. Com o Nuno Gomes, a Fiorentina ganhou o seu último troféu, a Taça de Itália em 2001.
- Um troféu histórico que nunca esquecerei, com aquela a celebração na estrada.
- As duas últimas finais, no entanto, foram perdidas.
- Infelizmente não correu bem. E tenho muita pena porque os adeptos da Fiorentina merecem-no. Por um lado, era importante estar novamente na final este ano, mesmo que tenha acabado mal. Agora o clube tem de recomeçar com novos jogadores, para continuar a crescer. E quem quer que chegue, equipa técnica e jogadores, tem de saber o que a Fiorentina significa para os adeptos.
- Acha que Palladino é uma boa escolha para treinador?
- Ele fez um bom trabalho, esperemos que esta nova experiência lhe corra bem. É um passo importante na carreira dele, e eu vou segui-lo com certeza. Como sempre acompanho a Fiorentina.
- Ponha-se na pele de olheiro, por um momento. Que jogador português iria sugerir à Fiorentina?
- Dos que estão atualmente no Euro-2024, muitos já têm preços elevados, quanto mais depois do torneio. A minha escolha seria Jota Silva, um extremo que esteve perto de ser chamado ao Campeonato da Europa até ao último minuto. E depois joga no Vitória SC, onde os adeptos são calorosos e apaixonados, tal como em Florença.
