Roberto Martínez: "A rivalidade clubística pode reduzir o que podemos fazer"

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Roberto Martínez: "A rivalidade clubística pode reduzir o que podemos fazer"
Roberto Martínez abordou vários aspetos da seleção nacional
Roberto Martínez abordou vários aspetos da seleção nacionalAFP
Leia abaixo as declarações do selecionador português na grande entrevista concedida à Sport TV, na qual abordou os vários aspetos da seleção nacional antes do Euro-2024.

Sorteio favorável: "Todos os sorteios são complicados, agora é mais para nós. Os passos que temos são muito claros, o estágio de março é essencial para finalizar a lista (de convocados), é um passo difícil. Mas temos muita ilusõa, dá-nos a possibilidade de um jogador estar num Europeu que é um momento-chave na carreira e é uma memória única para os nossos adeptos. Mas, em Março, temos dois jogos, estamos a finalizar isso. Jogamos com a Suécia que tem individualidades interessantes para nós experimentarmos situações que não tivemos no apuramento e preparar o estágio de junho. Gostaria de ter três jogos antes do início do Euro. É importante conseguir os aspectos que precisamos de trabalhar. Os jogadores têm caminhos diferentes no primeiro dia oficial em que estaremos juntos na cidade do futeobol, agora é finalizar os adversários, mas está tudo muito claro para olhar para a preparação".

Estatuto de candidato: "A nossa seleção durante o percurso de apuramento alcançou o respeito dos outros. é normal. mas num europeu não há favoritos, há um grupo de seleções que tem o nível para lutar pelo título e é bom para nós saber que estamos incluídos. Ainda temos um caminho importante por fazer, precisamos de experimentar nos jogos de preparação coisas qeu ainda não fizemos, em termos de jogo sem bola, controlar as emoções depois de sofrer o primeiro golo, conseguir virar um resultado adverso. TUdo isso é importante antes do Europeu, é um torneio em que os jogos são decididos em detalhes. É uma boa satisfação para nós e os adeptos precisam de saber isso, que a equipa está comprometida para dar tudo pela camisola e com os valores que mostramos de respeito, trabalho, dedicação e ilusão. Vamos dar tudo".

Como lida com a constante insatisfação dos adeptos: "É natural, sou espanhol e acho que a nossa cultura na Península Ibérica é estarmos sempre a achar que alguma coisa não está bem e também acreditamos mais. Eu gosto disso. Críamos um ambiente de alto rendimento, isso faz parte de ganhar um jogo e olhar logo para o próximo adversário e de melohrar o que já fizemos, gosto disso. O apoio e afeto dos adeptos foi espetacular, lembro-me de momentos cruciais e acho que isso é mais importante do que a insatisfação. É Portugal, é a forma que temos para continuar a melhorar e dar o nosso melhor. O talento individual assim o exige".

Identidade da equipa: "É muito clara: queremos ter a bola, uma reação à perda imediata e um grupo dinâmico que quer marcar golos e somar oportunidades com bola. Mas a estrutura é diferente, agora no futebol moderno precisamos de ser flexíveis porque temos muitas opções, muitos jogadores diferentes que podemos utilizar em determinado momento do jogo e em relação adversário. Podemos utilizar uma linha de três ou quatro defesas, isso é importante, continuaremos no mesmo caminho. É importante para nós a flexibilidade tática, mas o conceito de equipa é o mesmo". 

Jogadores adaptam-se ao selecionador ou o selecionador aos jogadores?: "É uma reflexão muito interessante. Acho que é o treinador que se tem que se adaptar ao treino individual e dar uma ideia de jogo. Mas depois é o treinador que precisa de dar a clareza para que o jogador possa disfrutar com um papel dentro da equipa. Isso é interessante. O treinador precisa de trabalahr muito para conseguir a ideia perfeita para os jogadores, a equipa técnica adapta-se ao que há no balneário e depois é o jogador que precisa de seguir uma disciplina tática para que o talento individual tenha um equilíbrio coletivo".

Adaptação de Ronaldo: "Todos os jogadores têm um talento individual específico. O importante é a ideia coletiva em que o jogador pode dar o que tem numa disciplina coletiva. Isto funciona para o Cristiano e para os outros. Nos últimos 10 jogos, vimo uma ideia muito clara na nossa seleção que todos os jogadores executaram bem. Isso é um sinal importante. Precisamos de continuar na mesma maneira. A experiência que o Ronaldo tem - e tivemos azar porque o Pepe não teve a oportunidade passar a sua experiência nos estágios - é importante para os jogadores que não a têm. É a mistura que precisamos. A linha a seguir é a mesma dos últimos 10 jogos". 

Ritmo dos jogadores na Arábia Saudita: "A palavra ritmo é difícil no contexto futebolístico. Todos os jogadores estão numa situação diferente. Não é a mesma coisa jogar fora das cinco ligas principais com 20 ou 22 anos ou ter uma forte experiência no futebol europeu. Na Liga saudita há muitos jogadores que jogam em seleções europeias e as nossas estatísticas físicas são de alto nível. Para jogadoers com o Otávio ou Rúben Neves vi que melhoraram fisicamente ao fim de alguns meses. Depois depende da posição, há algumas que são gerais. Quando um jogador precisa de um adversário com nível específico pode afetar o nível, mas não é uma questão de ritmo ou física. Eu vi isso no passado quando tive jogadores que foram para a China e isso foi positivo para eles porque trouxe uma energia nova e forte à seleção. O que é importante é que o jogador tenha um papel importante e não estar numa equipa que não quer ganhar. O nível de competitividade é importante para poder jogar ao alto nível. Neste momento temos jogadores na Arábia Saudita com mais minutos do que outros. Isso é um efeito muito positivo para nós. Obviamente que não é o mesmo do que jogar na Liga dos Campeões, mas são casos mais pontuais do que geralmente negativo".

Papel de líder de Ronaldo: "É muito importante falar como valorizamos um jogador no balneário: o primeiro é o talento - podemos falar com os adeptos com as mesmas ideias -, depois é a experiência - não é a mesma coisa jogar com 100 internacionalizações ou duas -, por fim, o que multiplica tudo é a atitude, o compromisso - o que se faz para ajudar a equipa a ganhar um jogo. Nos últimos 10 jogos, a atitude dos jogadores foi superlativa. No entanto, um jogador pode mudar muito rapidamente de atitude, esse é o aspeto que valorizamos de forma constante". 

Cristiano Ronaldo continua a ser importante para Portugal
Cristiano Ronaldo continua a ser importante para PortugalAFP

Problemas físicos de Pepe: "É importante estar presente nos estágios, nós temos muitas opções para todas as posições. Há centrais que estão a trabalhar muito bem e é importante, para podermos contar com o Pepe no Europeu, que possa estar no estágio de março. Nós sabemos muito bem o que o Pepe pode fazer esta época, tem uma experiência e atitude espetaculares. Quando estagio connosco vimos aquilo que traz. Mas é importante agora este período de 13 semanas - até março - que os jogadores mostrem o que conseguem fazer. Mas é importante para o Pepe como para os restantes centrais que ainda não tiveram oportunidades, como o Diogo Leite que nunca foi chamado, mas tem estado na lista de observação". 

Experiências no estágio de março: "O objetivo é muito claro: é precisamente poder dar opções aos jogadores que estiveram nas pré-listas mas nunca tiveram oportunidade de estar na lista final. Mas também é importante continuar a preparação para o Europeu. Vamos ter 5 jogos até o pontapé inicial do Euro em que o objetivo é trabalhar nos conceitos e sincronização de como queremos jogar. Mas o estágio de março é essencial porque os jogadores têm muitos minutos e é essencial para os papéis nos clubes. Trabalharemos nos dois objetivos de dar oportunidade aos jogadores que trabalharam muito bem e continuar a preparação".

Dúvidas na lista: "As dúvidas só aparecem no momento de decisão, agora não é esse período. Para um selecionador há dois períodos muito diferentes, um é acumular informação e trabalhar à distância com os jogadores e é nessa função que estamos. Depois é o período de decisão, é preciso muita honestidade e responsabilidade e podem haver dúvidas, que normalmente, são resolvidas por estatísticas e informações em primeira mão. Mas agora é o período de desfrutar do que os jogadores estão a fazer com os clubes".

Opções: "É importante ter jogadores que possam fazer posições diferentes, mas mais importante do que isso é ter papéis diferentes. O Danilo e o Palhinha conseguem fazer as duas posições (médio defensivo ou defesa central), é importante ter dois ou três jogadores capazes de fazer a mesma posição. Há 31 jogadores, mais três que tiveram um desempenho exemplar, mostraram motivos para estar na lista, mas as regras tornam a situação difícil".

Nuno Mendes: "Gostaríamos de dar oportunidade ao Nuno Mendes para ver se está apto porque é um jogador diferente. Foi muito importante ver o Raphael Guerreiro no último estágio. Foi uma surpresa muito grande ver que o Diogo Dalot consegue fazer as duas alas, por dentro e por fora. Essa informação é essencial para fazer a última escolha. Precisamos de ter jogadores suficientes no ataque e para dar equilíbrio à forma como queremos jogar".

Geração atual traz pressão: "A geração atual coloca a formação do futebol português numa posição excelente. Não é acidente ou casualidade termos os jogadores que temos. Estão nos maiores balneários do futebol mundial. Isso é uma responsabilidade e uma oportunidade de poder disfrutar de jogos e torneios grandes. Mas o outro lado é como é que nós podemos ir ao Europeu. Temos que ir com um sonho que partilhamos com todo o país para desfrutar. Quando o talento tem sorriso dá um nível mais alto e precisamos de usar a responsabilidade e pressão de forma positiva".

Roberto Martínez chegou em janeiro e fez história
Roberto Martínez chegou em janeiro e fez históriaAFP

Público português: "O povo português vê a seleção como algo muito importante e esse é um sentimento que eu partilho. Estamos todos juntos para melhorar. E é normal achar que quando perdemos o treinador está mal e quando ganhamos está tudo bem. As pessoas têm a seleção no coração, é algo que vamos utilizar no balneário durante o Europeu". 

Relação com os clubes: "Falamos menos do que eu gostaria (com os treinadores dos clubes), é uma situação de respeito. É muito difícil no dia-a-dia de um treinador de clube colocar o futebol internacional. O jogador tem que estar focado no jogo do fim de semana. Ainda assim tenho uma relação de respeito, falei com todos os treinadores da Liga Portugal, mas não posso estar em cima deles. Eu sei o que é o dia-a-dia de um treinador de clube". 

Palavras de Sérgio Conceição: "As palavras precisavam de um contexto, estive tranquilo porque a relação com o Sérgio Cinceição é muito boa. As palavras tiveram um contexto negativo para nada, eu não o interpretei assim".

Jogadores do Sporting fora da convocatória: "É uma situação normal, já tive no lugar (do Rúben Amorim) porque o apoio aos nossos jogadores é importante. Mas o treinador dos clubes não têm toda a informação, não espero que um treinador de um clube português consiga estar a par do trabalho dos jogadores na Premier League, Bundesliga e Serie A. É esse o trabalho de um selecionador: ser neutro e trabalhar muito. Vou a Alvalade ver muitos jogos porque é importante ter a informação em primeira mão e agora nas próximas 13 semanas há uma oportunidade para todos os jogadores que observamos entrarem na convocatória. Temos um ambiente muito competitivo, há muitos jogadores para as mesmas posições e é uma situação normal. Um treinador fala dos seus jogadores como um pai fala das suas crianças. O Pote é um jogador muito importante, muito competitivo que está num nível muito alto, mas há outros jogadores que também jogam nas mesmas posições e a competitividade é alta. É uma situação normal, estou sempre aberto a falar com os treinadores e explicar porque é que os jogadores não são chamados".

Nuno Santos"O Nuno é um jogador com uma capacidade físicam muito alta, mas temos o Nuno Mendes que pode fazer o mesmo, o Raphael Guerreiro que joga na mesma posição e o Rafael Leão que faz o mesmo papel, mas numa estrutura diferente. O Nuno tem a dificuldade que é ter muitos jogadores à frente".

Paulinho: "O Paulinho é ponta de lança e tem forte concorrência direta no seu clube. Mas temos jogadores como o André Silva, que está apto outra vez, o Beto, da mesma posição mas muito diferente, e um jovem jogador Tiago Tomás que tem estado muito bem na Bundesliga. A nossa escolha é ter dois pontas de lança. Mas estamos a acompanhar o Paulinho".

João Neves"Fez um caminho muito elaborado, trabalhamos muito com o Rui Jorge nos sub-21. O João não podia queimar etapas, fez o Europeu sub-21, depois no início da época há um momento-chave quando acompanhamos um jogador jovem e é o homem do jogo num dos jogos mais importantes da Liga precisa de ser recompensado. Está a crescer mais do que esperávamos. A porta de seleção precisa de estar aberta para jogos assim". 

João Neves repetiu prémio de melhor médio do mês na Liga Portugal
João Neves repetiu prémio de melhor médio do mês na Liga PortugalLiga Portugal

Jogadores do SC Braga: "O SC Braga merece estar no mesmo patamar que o Benfica, FC Porto e Sporting. Nas últimas quatro épocas tornou-se num clube com um reconhecimento e respeito futebolístico em toda a Europa. O treinador está a fazer uma época muito interessante, está na Liga Europa depois de jogos contra o Nápoels e o Real Madrid. São passos em frente. O período de qualificação para a Champions foi muito importante e é uma força no futebol português".

Retrato da Liga portuguesa: "Gosto muito porque é muito competitiva. Estamos a ter desempenhos interessantes de equipas que conseguem jogar olhos nos olhos com os grandes. Culturalmente é uma Liga com muitas paragens durante o jogo, precisamos de melhorar isso em Portugal. Um dos objetivos da UEFA é ter 60 minutos de jogo útil em todas as ligas. Mas a nossa é muito competitiva e para os jovens é uma plataforma perfeita para a formação dos jogadores".

Momento negativo: "Faz parte do percurso haver momentos de felicidade, difíceis e de muito trabalho. Faz parte do futebol. É com a vida, não há resultados fáceis. Ganhámos 10 jogos, mas o trabalho foi duro. TIvemos jogadores lesionados e tivemos que trabalhar muito para jogar como jogámos. É importante ao fim de um ano juntos que tenhamos um sonho e possamos dar tudo para cumprir o sonho. Penso que estamos mais fortes agora e se estamos todos juntos somos mais fortes".

Assobios aos jogadores: "É importante ter uma voz neutra. Gosto de poder dizer que a rivalidade do futebol português é fantástica e essencial, mas é para dar formação aos jogadores. Quando chegam à seleção, as coisas mudam. Temos a responsabilidade de todos disfrutarmo quando estamos na seleção, é uma memória e sentimento único para as pessoas e jogadores. Não podemos ter a rivalidade clubística na seleção porque pode reduzir o que podemos fazer juntos. Os dois últimos jogos em casa foram festas e é esse o caminho, não há outro".

Renúncias à seleção: "Não precisamos de fazer um juízo de valor, é um momento de respeitar a decisão pessoal. Na carreira de um jogador há situações pessoais, com família, estar fora do dia-a-dia humano e um jogador tem muita responsabilidade e trabalho. Quando não se pode dar tudo pela seleção, é honroso admitir isso. Não nos dá tristeza, temos de respeitar. Tiveram as suas memórias com a seleção e com um comportamento exemplar. O que me entristece é quando um jogador não dá tudo durante o estágio, porque não está a entender o que precisa de fazer. Mas numa decisão racional, é o processo natural. Nunca vi um jogador que joga 50 anos com a seleção e não vamos ver".

Análise aos adversários: "O nosso europeu começou a 02 de dezembro na altura do sorteio. A República Checa tem a dúvida do selecionador, a Turquia é um desafio para os portugueses que estão no estrangeiro. Tivemos uma apoio fantástico fora, mas a Turquia vai jogar em casa, há muitos turcos que moram em Dortmund, mas acho que vamos conseguir vencer".

Equipa que sai do play-off: "O estágio de março é importante para termos a informação necessária. Num torneio convém ter informação fresca. No entanto, saber quem ganha o play-off não é essencial".

Sente-se em casa: "Eu e a minha família sentimo-nos em casa, tivemos uma receção do povo português brutal que nunca vou esquecer".