Mais

A vida de Papu Gomez após o doping: "Passas de campeão do mundo para ninguém te ligar"

Papu Gomez venceu o Mundial
Papu Gomez venceu o MundialCLIVE BRUNSKILL / GETTY IMAGES EUROPE / Getty Images via AFP
O médio argentino, vencedor do Campeonato do Mundo de 2022 no Catar, foi banido por dois anos por ter testado positivo a uma substância proibida no final de 2022, quando jogava pelo Sevilha.

Em outubro de 2023, Alejandro Gómez, El Papu, sofreu um duro golpe ao ser condenado a dois anos de proibição por doping, apenas três semanas depois de assinar pelo Monza, da Serie A italiana. Agora, em dezembro de 2024, mais calmo, ele conversou com Juan Pablo Varsky no Clank sobre a provação pela qual passou e como é a sua vida hoje.

"É preciso compreender que talvez a personagem esteja a acabar, que Papu Gómez está a deixar de existir, tentar apagar um pouco o ego, tentar sobreviver com Alejandro. Mudas a tua personagem, põem-te no altar, o ego do futebolista. Passas de campeão do mundo para ninguém te ligar. Eu costumava pensar ou dizer 'se for campeão do mundo nunca mais jogo'... às vezes queremos coisas ou chamamo-las e a vida talvez nos devolva à sua maneira e talvez me tenha devolvido desta forma. Ele disse-me: 'OK, vais ser campeão do mundo, espetacular, mas vais ter de comer este', nunca se sabe", admitiu, dando a entender que está consciente de que a sua história na elite terminou.

Tudo gira em torno do Mundial-2022, no Catar. A Albiceleste chegou ao evento e o positivo pelo qual foi punido aconteceu pouco antes do grande evento. Na altura, jogava no Sevilha, onde impressionou os adeptos durante duas épocas e meia.

Depois de ter estado no topo, vê agora as coisas de uma perspetiva nova e mais calma: "Não queria ficar desgostoso com o futebol, por isso comecei a jogar padel. Agora estou a começar de novo, vou voltar a ser um miúdo que quer estrear-se na primeira divisão. Prefiro que o Papu se retire e que o Alejandro continue. Quero deixar a personagem de lado e começar de novo. Seja um ano, dois anos, o que for preciso para eu jogar. Talvez eu jogue três jogos e depois me aposente. Tanto faz", disse, referindo-se à sua atividade com uma equipa da Série C.

Agonia e vergonha

Por outro lado, Papu conta como viveu a notícia: "Não queria contar a ninguém a notícia do doping dois dias antes da final do Campeonato do Mundo. Pareceu-me muito egoísta contar aos meus companheiros de equipa, preferi fazê-lo depois do jogo. Contei-lhes no hotel e falei sobre o assunto com os advogados na Argentina. Quando falei com o CELAD, disseram-me que o processo demoraria entre quatro e seis meses. Mas tudo se arrastou durante dez meses, em que eu ia treinar com o Sevilha, em que sabia que um dia ia acordar com a notícia de que Papu Gómez estava suspenso", contou.

Reconhece que, pouco a pouco, se está a adaptar: "Quando não se está habituado a estar em casa, como eu estava dois dias em sete, eles adaptam-se a nós. Esse dia era meu. E agora já não era, tive de adaptar-me à rotina, aos horários, aos miúdos na escola, às atividades. Gostava de muitas coisas e às vezes já não suportava ninguém e acabava por explodir. Comecei a fazer terapia há um mês, gosto, acho que ajuda e quando se passa por algo semelhante ao meu é bom ter apoio de alguém de fora", explicou.

Por último, falou da mudança de mentalidade que experimentou e da abertura de espírito que tem hoje: "Quando a suspensão passou, Tanque Denis telefonou-me e convidou-me para jogar padel com um grupo de argentinos e antigos jogadores. Comecei a ter aulas, a melhorar, a jogar com profissionais... Mas fui longe demais, jogava dois ou três jogos por dia. Passava três horas a jogar para não pensar noutras coisas. O padel salvou-me a vida, conheci muitas pessoas que nunca tinha conhecido antes. Abriu-me muito a cabeça, antes estava na minha bolha, fechava-me em casa, não saía de casa, era o capitão. Conheci mais pessoas num ano do que em sete anos a viver em Bergamo", concluiu.