Árbitros espanhóis emitem comunicado contra as declarações de Florentino Pérez

Florentino Pérez debaixo de fogo
Florentino Pérez debaixo de fogoTHOMAS COEX / AFP

As palavras do presidente do Real Madrid, durante o almoço de Natal, em que atacou os árbitros, geraram polémica. Alusão ao caso Negreira, que envolve o Barcelona, motivou críticas.

Por este motivo, a Associação Espanhola de Árbitros de Futebol emitiu um comunicado na X. "A Associação Espanhola de Árbitros de Futebol (AESAF) manifesta o seu repúdio face às recentes declarações públicas do presidente do Real Madrid, D. Florentino Pérez, pelo grave prejuízo que este tipo de afirmações causa à reputação do coletivo arbitral e do futebol espanhol", começou por escrever.

A entidade elencou, depois, uma série de pontos.

• O coletivo arbitral espanhol atua com independência, rigor e profissionalismo, não fazendo parte de qualquer esquema nem conivência com interesses de clubes ou dirigentes.

No denominado Caso Negreira, nenhum árbitro foi investigado ou acusado durante todo o tempo de instrução. Não podemos aceitar como válida a acusação de corrupção sobre a figura dos árbitros.

• As acusações generalizadas contra os árbitros prejudicam injustamente a reputação de profissionais que desempenham a sua função sob máxima pressão e constante escrutínio público, bem como da própria integridade da competição.

Desencadeia episódios de violência e agressão

• Consideramos que a arbitragem não pode ser utilizada como desculpa para justificar resultados desportivos. O futebol ganha-se e perde-se dentro das quatro linhas.

A AESAF expressa o seu apoio ao colega Pablo González Fuertes e a todos os árbitros e árbitras de Espanha, cujo trabalho profissional e pessoal merece respeito institucional e social. Rejeitamos qualquer tentativa de personalizar ataques ou deslegitimar publicamente árbitros sem fundamento.

• Queremos afirmar que a acusação de ameaças na conferência de imprensa da Final da Taça do Rei da época 2024/25 não corresponde à verdade, sendo, no mínimo, uma falsidade.

A AESAF alerta que qualquer declaração pública feita a partir de posições de influência tem um impacto direto na cultura do futebol e da arbitragem, e conduz — de forma direta ou indireta — a episódios de violência e agressão contra os árbitros em todos os escalões.

• A AESAF mantém há vários meses um diálogo aberto, recetivo e construtivo com os representantes dos clubes profissionais para melhorar a competição a partir da imparcialidade arbitral.

A Associação Espanhola de Árbitros de Futebol recorda que a arbitragem constitui uma garantia essencial de imparcialidade e equidade na competição. Associar genericamente o coletivo arbitral a supostos escândalos, sem respaldo judicial nem provas concretas, mina a confiança no sistema e prejudica o conjunto do futebol espanhol.

As declarações de González Fuertes

Queremos afirmar que as declarações na conferência de imprensa da Final da Taça do Rei da época 2024/25, por parte dos árbitros do encontro, tinham como objetivo evidenciar que a violência contra os árbitros e os seus familiares, em todas as categorias do futebol espanhol, estava a atingir níveis inaceitáveis, e que, como consequência disso, entre outras razões, o coletivo decidiu constituir este sindicato. Em nenhum momento, como se pode ver nas imagens, houve qualquer ameaça contra qualquer clube, ao contrário do que se pretende fazer crer a partir do Real Madrid.

É extremamente grave que este Clube mantenha afirmações afastadas da realidade, podendo criar um clima antidesportivo na competição espanhola.

Relativamente ao denominado Caso Negreira, a AESAF respeita plenamente o trabalho das autoridades judiciais e sublinha que se trata de um processo ainda em curso. Até à data, não existe qualquer acusação nem investigação sobre árbitros durante todo o tempo de instrução, pelo que é imprescindível preservar o princípio da presunção de inocência e evitar afirmações que possam induzir a conclusões erradas na opinião pública.

No nosso entender, é igualmente muito grave manter a acusação de que os árbitros tomaram decisões a favor de um clube, ou, numa segunda evolução do argumento, acusar os árbitros de poderem estar a tomar decisões para penalizar outro clube. Este tipo de afirmações gera um ambiente prejudicial ao normal desenrolar da competição.

A AESAF considera especialmente preocupante a instrumentalização da arbitragem como argumento para explicar situações desportivas. Tal como referiu o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, D. Rafael Louzán, os clubes não devem transferir os seus resultados para os árbitros nem procurar na arbitragem uma justificação externa.

Agradecemos, e incentivamos a que sejam tornadas públicas, as manifestações de apoio que nos têm chegado da RFEF, da LaLiga, da AFE, dos clubes, futebolistas e treinadores. Acreditamos que, através da união, podemos melhorar a competição e recuperar o prestígio que merece.

Eco imediato na sociedade

Do mesmo modo, a Associação considera necessário recordar que as declarações públicas feitas por dirigentes, clubes ou intervenientes com grande projeção mediática não ocorrem num vazio, mas sim geram um eco imediato na sociedade e na cultura do futebol. Quando esse discurso é construído a partir da deslegitimação ou da suspeita permanente sobre a arbitragem, acaba por se transferir para os campos, para as bancadas e para o futebol de formação, onde infelizmente se manifesta sob a forma de insultos, ameaças e agressões a árbitros e árbitras.

A AESAF constata que este fenómeno não distingue escalões: ocorre desde o futebol de formação até ao profissional. Por isso, a Associação insiste na necessidade de responsabilidade institucional e de liderança exemplar por parte de todos os intervenientes do futebol para travar uma espiral que coloca em risco a integridade física, psicológica e reputacional de quem garante o desenvolvimento justo da competição. Apoiamos expressamente as diligências que a RFEF está a realizar junto das Instituições e autoridades para que seja protegida a autoridade do árbitro.

Por fim, a AESAF destaca que participa há vários meses na Comissão de Reforma da Arbitragem, um diálogo constante, promovido pela RFEF, no qual participam os representantes dos clubes profissionais, ouvindo propostas, analisando preocupações e a trabalhar de forma crítica e construtiva, sempre com o objetivo de fortalecer a competição e o futebol espanhol a partir de uma atuação arbitral imparcial, profissional e transparente. Na última reunião, o Real Madrid esteve ausente.

A AESAF continua a trabalhar de forma permanente na formação, profissionalização e melhoria contínua do coletivo arbitral, em colaboração com a RFEF, LaLiga e organismos internacionais. A aplicação de ferramentas como o VAR e os protocolos de revisão contribuem para reforçar a transparência e reduzir a margem de erro humano inerente a qualquer desporto.

Desde a AESAF reafirmamos o nosso compromisso com a proteção integral do coletivo arbitral e com a defesa da sua dignidade e profissionalismo. Pedimos responsabilidade institucional, respeito e liderança exemplar para com quem garante a imparcialidade da competição.

A Associação Espanhola de Árbitros de Futebol rejeita as acusações infundadas e reitera o seu compromisso com a independência, transparência e melhoria constante da arbitragem em Espanha. O futebol precisa de instituições responsáveis que acrescentem credibilidade e respeito, e não de discursos que minem a confiança e alimentem um clima de confronto com consequências reais para o coletivo arbitral".