Mbappé desfrutou de um luxo que não conhecia há anos: três semanas de férias. Estes dias de descanso serviram-lhe para desligar, trabalhar fisicamente e chegar em boa forma com o objetivo de abrir o segundo capítulo da sua carreira na capital espanhola.
Uma pausa necessária para o novo n.º 10 da Casa Branca, afetado em junho por um vírus durante o Mundial de Clubes, após terminar uma época tão frustrante quanto desgastante.
Apenas um mês depois do seu contratempo nos Estados Unidos, os adeptos madridistas voltaram a ver, na terça-feira, um Mbappé em plena forma, envolvido e já decisivo, durante o único jogo amigável oficial da curta pré-temporada merengue, frente à modesta equipa austríaca do Tirol (4-0).
Com um bis e uma assistência, o jogador de Bondy iniciou a temporada de forma perfeita, longe do seu início tímido no Santiago Bernabéu no verão passado, antes de se impor gradualmente como o líder do ataque da equipa de Carlo Ancelotti.
Nem 10 nem 9, mas líder
O seu estatuto, difícil de definir ao chegar a uma equipa repleta de estrelas que dominava a Europa, não está em causa neste momento no plantel blanco.
Recuperar o n.º 10, que Luka Modric deixou ao sair para o AC Milan, o seu número na seleção francesa, não é por acaso e deverá ser acompanhado, segundo a imprensa madrilena, de uma maior responsabilidade no balneário.
O novo treinador merengue, Xabi Alonso, já tinha designado Mbappé como o batedor oficial de penáltis, colocando fim ao debate sobre quem deveria fazê-lo.
Ainda que provavelmente seja difícil para ele melhorar as suas estatísticas individuais (44 golos em todas as competições), o capitão dos Bleus, consciente das exigências táticas do treinador basco, terá de fazer esforços coletivos adicionais, tal como fez o seu amigo Ousmane Dembélé no Paris Saint-Germain.
"Precisamos e temos de defender todos. Os onze jogadores em campo têm de estar envolvidos no momento defensivo", advertiu Xabi Alonso durante o Mundial de Clubes. "Temos as mesmas exigências com Mbappé que com Huijsen, Tchouaméni ou Ceballos", acrescentou.
Conexão com Vinícius
Para aspirar à sua, finalmente, primeira Liga dos Campeões e à sua primeira Bola de Ouro, Mbappé, coroado melhor marcador do futebol europeu na época passada, também terá de se conectar com o seu companheiro de ataque, o brasileiro Vinícius Júnior.
O entendimento entre ambos os jogadores pode desempenhar um papel fundamental na revolução tática desejada por Xabi Alonso.
"Trata-se de compreensão, de entrosamento. Acho que pode funcionar bem, eles (Mbappé e Vinicius) obviamente têm muitas qualidades individuais. Mas temos de jogar juntos para que cada um possa beneficiar do sistema coletivo", descreveu Xabi Alonso.
Sempre posicionado na linha de ataque, mas com grande liberdade de movimentos, Mbappé também poderá aproveitar a ascensão do jovem avançado espanhol Gonzalo García para recuperar, pelo menos em alguns momentos, a sua posição preferida no lado esquerdo.
Além disso, as contratações do inglês Trent Alexander-Arnold para lateral direito e do espanhol Álvaro Carreras (ex-Benfica) para a esquerda, assim como o regresso de Dani Carvajal, também poderão ajudar Mbappé a criar mais ocasiões de perigo junto da baliza adversária.
Mas, demonstrar a mesma eficácia que exibiu desde janeiro (32 golos em 38 jogos em todas as competições) depende dele próprio para conquistar os títulos com o "clube dos seus sonhos".