Agora, Germán Burgos, com 56 anos, enquanto espera uma nova oportunidade, passa o tempo com os jovens do Nuevo Pinto, uma modesta equipa madrilena onde chega a atuar quase como enfermeiro, fazendo ligaduras aos jogadores.
- Como está, Germán?
Bem, a verdade é que estou muito bem. Estamos em Pinto a ajudar um amigo e a fazer de tudo, até fazer ligaduras nos jogadores. Sou especialista em ligaduras.
- Encara isto de forma muito profissional ou há um regresso à infância com esta coisa de ajudar e pôr ligaduras nos jogadores?
Não é uma questão de ser profissional ou não. Eu sou profissional. Mas não posso exigir a rapazes que vêm de trabalhar uma orientação hiperprofissional porque cometem erros. O que faço é aproximar, não só a equipa, ao desenho do Nuevo Pinto, mas todas as categorias. Se for preciso enfaixar um tornozelo, um pulso ou o que for, já tenho uma ideia do que o jogador precisa para aliviar alguma dor.
- Vive o futebol amador de uma forma mais descontraída ou igual ao profissional?
Uma pessoa não muda. O que não posso fazer é invadir totalmente pessoas que não são profissionais. Tento fazê-lo gradualmente e que não interfira com o pensamento do que a equipa quer, que é subir de divisão. Tudo é muito medido, porque temos uma hora de treino. No futebol profissional é uma hora e meia. Eles vêm do trabalho e encontram o que também querem, que é jogar futebol. Não é tudo tática, não é tudo estratégia. É um pouco mais livre nesse sentido.
Regressar ao futebol profissional, com condições
- Sonha em voltar aos grandes palcos, às primeiras divisões de Espanha ou da Argentina?
O que quero é um projeto de raiz. Já decidi não aceitar projetos de um mês para terminar o campeonato. Acho que a função que procuro é a de manager-treinador. Voltar a escolher os jogadores, voltar a estar envolvido em todos os aspetos do clube. Sou uma espécie de joker, no sentido em que me relaciono com tudo, com as raparigas do futebol feminino. É uma equipa nova que tem 25 escalões, três deles femininos. Há muita gente, mais de 400 jogadores e jogadoras. Também detetar novos talentos.
- Que balanço faz das experiências no Newell's e na Grécia?
No Newell's, estrearam-se comigo, creio, 11 jogadores, dos quais foram vendidos dois e o clube recebeu sete milhões e meio de dólares. No Aris, pegámos na equipa em oitavo lugar, acabamos em segundo. Fiz estrear no Aris mais de 10 jogadores, dos quais venderam dois, um ao AEK e outro ao Olympiacos, que foi campeão no ano passado da Youth League.
- Porque destaca a estreia dos jovens? É uma marca sua ou uma necessidade?
Isso é detetar talento, claro. Por isso disse o número, estive pouco tempo, mas deviam dar-me o empregado do mês. Em pouco tempo, 7,5 milhões de dólares. Ou seja, têm de me dar um quadro com a minha cara, empregado do mês.
O futebol na Argentina
- Continua atento ao futebol argentino? O que pensa do formato atual do campeonato argentino?
Sim, sim, sempre. Tem de ser assim pela quantidade de equipas que há. É como os antigos nacionais, antes havia o nacional e o metropolitano, mas agora há uma maior quantidade de equipas das províncias.
- Voltaria à Argentina para treinar?
Vou escolher projetos de raiz. Que eu possa assumir como manager e treinador, escolher os jogadores, escolher tudo o que tem de acontecer. Esse é o meu projeto porque não vou para projetos já iniciados ou, por exemplo, com um jogador que não escolhi. Já o fiz, correu bastante bem, e agora quero fazê-lo eu.
- Como vê a Argentina para o próximo Mundial?
Acho que vai girar tudo o que puderem dar ao Lionel Messi, que seguramente o vai fazer e vai preparar-se com tudo, como faz sempre, mas vai girar o ambiente à volta. Seguramente como tem feito geralmente quando participa em todos os Mundiais, vi que o tem feito todo este tempo, não só nos Mundiais.
- Gosta do Dibu Martínez? É um pouco da sua escola, não é?
Sim, claro. Um pouco louco. É de Mar del Plata. Tive oportunidade de falar com ele, e digo-lhe sempre que o aprecio, e além disso passou por um momento muito difícil. Ele chega, não nos esqueçamos, porque substitui Armani devido à COVID-19. Quando ele assume, torna-se campeão da América e já é campeão do mundo. Gosto dele, é um tipo que parece humilde, parece trabalhador, sabe o que quer e, felizmente, joga por nós.
- Como viveu os Mundiais de França-1998 e Coreia/Japão-2002?
Em 1998, a ausência de Redondo foi uma decisão dele, e essas coisas nem sequer se falam no plantel. Em 2002, com Bielsa, foi um processo espetacular no início, havia muita concorrência, bons jogadores, a Argentina jogava bem. Apurámo-nos a quatro jornadas do fim da qualificação. Depois, (no Mundial), não aconteceu, porque há um rival que te conhece, te estuda e bloqueia as tuas capacidades (derrota com Inglaterra 0-1 e empate com Suécia 1-1). Além disso, com um treinador que eu adoro, é um dos meus quatro favoritos.
A relação com o Cholo Simeone
- Como gere a parte emocional dos que não jogam?
Principalmente, agora com cinco substituições, é impossível que os jogadores não sejam substituídos. No fim, com cinco alterações, todos os que estão no banco acabam por jogar e decidir os jogos. Como gerimos isso? Muito simples. Não mentir, não criar falsas expectativas, e cada minuto que têm para entrar vai decidir os jogos. Não somos amigos, sou o treinador e o jogador é o jogador.
- Acompanha o Atlético de Madrid?
Quando joga ao domingo não posso porque vou com o Nuevo Pinto. E nos dias em que joga na Liga dos Campeões ou o que for, como treinamos às nove da noite, vejo depois, por vezes vejo os golos, mas os jogos completos não consigo ver.
- Como está a sua relação com o Cholo Simeone?
Somos amigos há muito tempo. Toda a gente me pergunta por essa situação, e a verdade é que é apenas o facto, ou foi o facto, de que um quer ser treinador principal. O que procurei foi a minha liberdade. E quando podes escolher, podes fazê-lo. Posso escolher ir para uma equipa da sétima categoria do futebol espanhol. Posso fazê-lo. Continua a enriquecer-me como treinador.
- Tem algum plano ou projeto em vista?
O campeonato já começou. Alguns dizem, não, que vem aí a janela de dezembro. De raiz. Que seja de raiz, preciso de fazer a pré-época. Preciso de ver que jogadores há nas camadas jovens. Sempre que me chamam de uma equipa, não vejo primeiro a equipa principal. Vejo o que há desde os sub-15 até aos sub-23.
- Sonha em treinar a seleção argentina um dia?
Sim, é possível. Onde for, se me oferecerem um projeto de raiz, vou iniciar e pensar. Com certeza.
