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Entrevista: Superliga aspira a um "futebol gerido só pelos clubes grandes", adverte Tebas

ENTREVISTA: Superliga aspira a um "futebol gerido só pelos clubes grandes", adverte Tebas
ENTREVISTA: Superliga aspira a um "futebol gerido só pelos clubes grandes", adverte TebasAFP
A Superliga aspira a um modelo de futebol gerido "apenas pelos clubes grandes", adverte o presidente da LaLiga, Javier Tebas, numa entrevista à AFP na qual manifestou confiança numa decisão favorável do poder judicial europeu sobre o atual modelo do futebol europeu.

Pergunta: A sociedade promotora da Superliga criou um decálogo para essa competição com um sistema aberto. Que lhe parece? 

Resposta: Dentro dessa decálogo há pontos que eu poderia estar de acordo, mas obviamente há outros que escondem a verdadeira armaldilha do que é a Superliga, uma suposta meritocracia de divisões. Não é verdade, é uma mentira. Querem levar-nos a um modelo de subidas e descidas como as ligas nacionais na Europa que destruiria o sistema europeu de futebol que é o com qual convivemos há muitos anos, que são ligas verticais com subidas e descidas e uma competição europeia horizontal, como tem sido a Liga dos Campeões ou a Liga Europa, onde o acesso é através das ligas nacionais. Destruiría-se esse sistema desportivo que criámos há muitos anos no desporto europeu, mas ao mesmo tempo significa não só a destruição desportiva, como também a económica, de todo o ecossisstema europeu.

- Os promotores afirmam que a Superliga é compatível com as ligas nacionais...

- Não é é verdade que possam conviver com as ligas. Não há nenhum liga nacional, nenhuma federação, que esteja a favor do que estão a planear porque destrói-se o ecossistema económico, mas também o desportivo, porque o que pretendem é que estas ligas verticais acedam a outra competição vertical, e depois fecham a competição no topo e estarão lá sempre os mesmos. O que vai acontecer é tornar 15 ou 20 clubes mais ricos, no fundo é a liga fechada que anunciaram em 21 de abril.

- Também argumentam que é preciso repensar o calendário... 

- O decálogo, o calendário, contem-nos qual é o modelo de calendário que querem colocar, que competições querem eliminar, quantos clubes querem deixar as ligas nacionais, deixem de jogar ao jogo do gato e do rato. Não são transparentes e não são transparentes porque não querem um futebol transparente, querem um futebol gerido apenas pelos grandes clubes.

- O Tribunal de Justiça da União Europeia vai pronunciar-se nas próximas semanas sobre uma possível posição dominante da UEFA para impedir a Superliga. Confia numa resolução favorável?

- Confiamos que seja uma decisão favorável e que o Tribunal perceba bem este ecossistema de ligas verticais e competição europeia horizontal, o que estão a tentar é destruí-lo da esfera desportiva da meritocracia, porque (...) vão estar sempre os mesmos. Destrói a meritocarcia desportiva e também a esfera económica, por isso esperamos que haja um entendimento de que esse não é o modelo para manter o desporto na Europa.

- E se a resolução for contrária aos seus interesses?

- Se a resolução não for muito favorável, ainda temos uma grande batalha política para travar. O Conselho da Europa, o Parlamento Europeu, as autoridades europeias têm sido muito favoráveis a manter o atual sistema económico e desportivo do futebol.

- A Superliga apresenta-se como uma forma de competir com a Premier League e os seus grandes recursos. Partilha este diagnóstico?

- Se formos a hemerotecas (arquivos de jornais), o primeiro a criticar os clubes-estados é o que está a falar convosco. Estámos há mais de dois anos a criticar a Premier League porque tornou-se numa competição deficitária. Quando a Superliga diz que a Premier é a Superliga engana-se, é a supermentira, a superdívida, as superperdas dos clubes todas as temporadas que é no que se converteu a Premier. Nós, como ligas, se fosse exclusivamente comercial o que está a acontecer na Premier, também teríamos muito para dizer porque a diferença seria um para dois no nosso volume de negócios, poderiam contratar o dorbro, mas não poderiam comprar por 20 vezes mais que é o que estão a fazer nos últimos mercados porque injetam dinheiro com prejuízos... não é verdade o que nos estão a contar sobre o que é a Superliga. A Premier não é a Superliga, é a supermentira, a superdívida que há que evitar no ecossistema dofutebol europeu também.

O que está a acontecer com o Manchester City pode marcar um ponto de reflexão no controlo económico em Inglaterra?

- Em 2017, dei uma palestra sobre o equilíbrio económico do ecossistema europeu e já critiquei o Manchester City e disse tudo sobre o que agora parece que vão continuar a investigar. Já o tinha dito em 2017, por isso o que me surpreende é que seja tarde para tomar este tipo de decisões porque estamos a falar de feitos desde 2010. Este é o problema que existe com o futebol, quando se deteta um problema, umas aldrabices, neste caso económico, demora-se muito tempo a reagir. Sou céptico porque sei que não é a apenas o Manchester City com problemas similares, há outros clubes da Premier que também violaram o regulamento económico e a Premier League não está a atuar como devia há vários anos neste aspeto.