Aposentado em 2018, Fernández Borbalán é agora mentor da próxima geração de árbitros de jogo e falou ao Tribalfootball - parceiro do Flashscore - sobre a sua carreira e as mudanças a que assistimos na arbitragem nos últimos anos.
- Que recordações tem da sua estreia como árbitro da Liga em 2004?
- Sinceramente, apesar dos anos que passaram, essa memória ainda está viva. Nunca imaginei, no início da minha carreira de árbitro, que chegaria à LaLiga. Nesse dia, senti um orgulho imenso, era a validação de todo o esforço que tinha feito. Também pensei muito naqueles que me apoiaram: a minha família, os meus amigos mais próximos e o meu comité de árbitros local. A sua orientação nos meus anos de formação foi inestimável e estar-lhes-ei sempre grato.
- Quais foram os melhores e os mais difíceis momentos da sua carreira?
- Sinto uma felicidade imensa quando penso nas minhas 14 épocas na Liga. Viajar por todo o mundo fez-me perceber o prestígio de arbitrar jogos como o El Clasico ou os grandes clássicos. No entanto, como qualquer desportista, também vivi momentos difíceis. Para os árbitros, não há nada pior do que cometer um erro crítico num jogo. É doloroso desiludir a equipa em causa, a comissão de árbitros e a si próprio, porque se esforça por dar o seu melhor. O momento mais difícil da minha carreira foi uma lesão que sofri durante o jogo entre o Anzhi e o Liverpool em 2012. Rompi um ligamento do joelho e fiquei seis meses parado. Foi um período extremamente difícil, tanto física quanto mentalmente.
- Como árbitro, como é que lidava com jogadores de personalidades diferentes?
- Ao mais alto nível, os árbitros têm de gerir jogadores com personalidades difíceis. É fundamental criar confiança e promover uma boa harmonia em campo. Embora eu prefira não citar nomes de jogadores difíceis, posso dizer que há pessoas que encarnam a atitude ideal. Jogadores como Raúl González (Real Madrid) e Carles Puyol (Barcelona) sempre trataram os árbitros com respeito, mesmo nos momentos mais tensos. Questionaram as decisões, mas sempre com educação, e mereceram explicações em troca.
- E quanto aos treinadores, houve algum particularmente difícil de gerir?
- Eu destacaria José Mourinho. A sua passagem pelo Real Madrid, sobretudo nos jogos contra o Barcelona, foi muito tensa. Fui árbitro de um desses Clássicos, em que Mourinho teve uma discussão grave com o treinador adjunto do Barcelona. O ambiente nesses jogos era elétrico, mas cansativo. Gostaria também de prestar homenagem a Manuel Preciado, um treinador espanhol que faleceu em 2012. Era apaixonado e expressivo, mas sempre respeitoso. Independentemente do resultado, ia à sala de arbitragem depois do jogo para felicitar o árbitro, um verdadeiro exemplo de desportivismo.
- Algum momento especial da sua carreira?
A final da Taça do Rei de 2012, no estádio Vicente Calderón, tem um lugar especial no meu coração. O Athletic Club estava a jogar contra o Barcelona e a minha família, a minha mãe, a minha mulher e a minha irmã, estavam nas bancadas. Partilhar um momento tão importante com eles foi inesquecível.
- Qual foi o estádio com o ambiente mais impressionante?
- Embora tenha tido a sorte de arbitrar em muitos estádios emblemáticos, o Signal Iduna Park (estádio do Borussia Dortmund) deixou-me uma impressão indelével. A paixão e a energia dos adeptos criam uma atmosfera eléctrica que não tem paralelo em mais lado nenhum.
- Como é que a arbitragem mudou desde a sua criação?
- Os árbitros, tal como os jogadores, têm agora acesso a meios avançados de preparação física, nutricional e psicológica. Esta evolução elevou consideravelmente o nível da arbitragem desde a minha estreia em 2004.
- Qual é a sua opinião sobre o VAR?
- O VAR foi introduzido para ajudar os árbitros, e é inegável que ele reduziu os erros. No entanto, a sua utilização em decisões subjetivas continua a ser controversa, uma vez que as interpretações variam. Enquanto alguns preferem o futebol sem VAR, eu apoio a assistência tecnológica: é uma ferramenta valiosa para melhorar a equidade.
- Como avalia o nível dos árbitros esta época?
- Os árbitros espanhóis estão a ter um desempenho excecional. Com uma liga mais competitiva do que nunca, eles enfrentam uma pressão adicional, mas o seu profissionalismo é louvável. Na Europa, a liderança de Roberto Rosetti na UEFA elevou o nível de exigência, e estão a surgir árbitros de alto nível em muitos países.
- O que tem feito desde que se reformou?
- Continuei a envolver-me muito na arbitragem. Fui vice-presidente do Comité de Árbitros de Espanha durante quatro anos e depois mudei-me para a Bulgária como presidente do seu Comité de Árbitros. Atualmente, trabalho como instrutor de arbitragem da FIFA e da UEFA e observador de jogos internacionais. Estou aberto a futuras oportunidades, onde quer que elas surjam.