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Exclusivo com o empresário que descobriu Endrick: "Vai brilhar dentro ou fora do Real Madrid"

Paulo Roca viu de perto os primeiros passos de Endrick no futebol
Paulo Roca viu de perto os primeiros passos de Endrick no futebolArquivo pessoal

Os primeiros passos de Endrick, hoje jogador do Real Madrid, foram acompanhados de perto por Paulo Roca, agente de futebol que trabalha com jovens promessas e também no futebol profissional.

Não foi preciso muito tempo para reconhecer o talento do jovem, então a jogar por uma escolinha de Brasília. A habitual presença de Roca naquele torneio acabou por se transformar numa das grandes jogadas da sua carreira, valendo-lhe até hoje o reconhecimento como o responsável por descobrir um jogador que atua, hoje, num dos maiores clubes do mundo.

O bom relacionamento com o Palmeiras eliminou quaisquer dúvidas sobre o destino do jovem prodígio. Endrick chegou à Academia aos 11 anos para fazer história, despedindo-se do Alviverde em 2024. É o único jogador do clube a conquistar títulos em todas as categorias, do sub-11 ao profissional.

Nesta conversa exclusiva com o Flashscore, Paulo Roca recorda uma das descobertas mais marcantes da sua trajetória, uma história de sucesso que também teve desilusões e feridas que só o tempo conseguiu sarar. Hoje, a parceria com várias escolinhas é essencial para continuar a descobrir talentos que possam ser levados a grandes clubes, onde o seu potencial possa ser desenvolvido ao mais alto nível.

Paulo tornou-se quase um integrante da família de Endrick
Paulo tornou-se quase um integrante da família de EndrickArquivo pessoal

- Onde descobriu Endrick? O que chamou a sua atenção?

- Vi o Endrick pela primeira vez a jogar na GO CUP, em Goiás, por uma escola de futebol de Brasília. Ele tinha 9 anos e a potência, velocidade, desejo pelo golo, além da capacidade de finalização, chamaram-me a atenção. Dali eu levei-o para o Palmeiras. 

- Quais outros jogadores de renome trabalharam consigo?

- Alex Sandro (Flamengo e Seleção Brasileira), Alan Patrick (Internacional), Vitor Reis (Manchester City), Giovani (Palmeiras e Al-Saad), Rodrigo Muniz (Flamengo e Fulham). Destes, segue conosco o Giovani, do Al-Saad.

Giovani, do Al-Saad, continua a ser agenciado por Paulo Roca
Giovani, do Al-Saad, continua a ser agenciado por Paulo RocaArquivo pessoal

- Você trabalha mais com jovens da formação? Por que esta preferência?

- No momento, trabalhamos mais com jovens jogadores no profissional. Na formação, temos menos atletas neste momento, mas a prospeção de atletas na formação sempre me agradou muito. É como vê-los nascer, crescer e prosperar.

- O desenvolvimento físico do Endrick sempre foi diferente?

- Ele sempre foi acima da média fisicamente, tinha muita maturidade, mesmo ainda muito jovem. O que fizemos foi cuidar na prevenção de lesões e trabalhar a sua mentalidade para que ele enfrentasse os desafios. O principal deles era suportar a pressão dos adversários (pais e adeptos) que o hostilizavam por ser muito mais potente. 

- Acredita que Endrick esteja a enfrentar problemas de adaptação no Real? Qual seria este problema?

- Não é fácil jogar no Real Madrid, estamos a falar do maior clube do mundo, com os principais avançados do planeta. Um período de adaptação se faz necessário. Ele é muito jovem e determinado, vai vencer e atingirá todos os objetivos em mais uma ou duas temporadas, e ainda será muito jovem.

Paulo não esconde deceção quando a família de Endrick o trocou por outro empresário
Paulo não esconde deceção quando a família de Endrick o trocou por outro empresárioArquivo pessoal

- Uma transferência para um clube de menor expressão, onde ele pudesse jogar por mais tempo, poderia ter sido mais interessante?

- Para alguns atletas, isso pode ser considerado importante, mas o Endrick nasceu para brilhar, ele terá sucesso no alto nível. Se não for no Real Madrid, será em outro clube de grande expressão.

- O que diferencia a formação do Palmeiras?

- Trabalho sério, sem privilégios a terceiros, comandado por um diretor muito competente, o João Paulo Sampaio. 

Paulo acompanhou de perto carreira de sucesso de Endrick no Palmeiras
Paulo acompanhou de perto carreira de sucesso de Endrick no PalmeirasArquivo pessoal

- Você não esconde que se dececionou ao ver a família do Endrick escolher um outro empresário. Consegue entender os motivos?

- Deceções fazem parte do trabalho no futebol. Algumas vezes, criamos relações quase familiares e, quando isso se rompe, normalmente por assédios financeiros, sempre cria uma frustração. Com o passar do tempo, tudo minimiza e seguimos em frente.

- Quais as maiores lições e deceções neste mundo de agentes?

- Quando a relação pessoal vai além da profissional e se extingue da noite para o dia, fica uma lacuna vazia, páginas em branco que não mais poderão ser escritas no planeamento já existente. Isso gera uma grande frustração a ser superada.

Paulo com Kauan Santos, Wesley Santos, Kauã Moraes e Endrick
Paulo com Kauan Santos, Wesley Santos, Kauã Moraes e EndrickArquivo pessoal

- Você também trabalhou com Vitor Reis. Ele tinha potencial para chegar tão longe em um clube como o City?

- Tinha e tem. Diferente do Endrick, talvez para ele seja interessante atuar uma temporada por um clube médio de uma grande liga, onde possa ganhar mais experiência.

- O Palmeiras reconheceu o seu esforço ao deixá-lo com percentagem da venda dos jogadores que contam com o seu investimento. Isso é algo raro num clube de futebol?

- Os clubes vão sempre defender os seus interesses, o que é normal, mas é preciso cumprir os acordos. Nós, como empresa, precisamos ter uma boa equipa jurídica e estarmos bem documentados. O Palmeiras é um parceiro importante, é uma via de duas mãos que foi bem construída.

Bom relacionamento de Paulo com Palmeiras facilitou ida de Endrick para o Verdão
Bom relacionamento de Paulo com Palmeiras facilitou ida de Endrick para o VerdãoArquivo pessoal

- Muitos não têm essa transparência e compromisso com agentes?

- O futebol não é um meio fácil como muitos pensam. O risco de investimentos é sempre muito alto, ainda mais quando se aposta em jovens talentos. As garantias são muito pequenas, mas é o que amamos fazer.

- Qual a importância de conhecer o ambiente em torno do jogador e estar perto da rotina dele, acompanhando as amizades e preferências?

- Isso é fundamental, um bom empresário/gestor precisa estar presente nos bons e maus momentos, orientando e vivenciando as conquistas e angústias. O processo é longo e demorado na formação. Já no profissional, a pressão é enorme por resultados imediatos, então torna-se necessário uma participação ativa dos empresários.

Paulo com Rodrigo Muniz, avançado do Fulham
Paulo com Rodrigo Muniz, avançado do FulhamArquivo pessoal

- Depende muito do jogador agenciado permitir que este tipo de espaço seja dado para que você conheça a sua rotina e possa orientá-lo fora dos relvados?

- Sim, são seres humanos, cada um com as suas histórias de vida, frustrações, anseios e necessidades. Temos que ter habilidade para lidar com cada um deles, que nunca serão iguais. Os atletas costumam ter um certo padrão, mas tem personalidade e caráter diferentes uns dos outros.

Endrick foi campeão em todos os escalões no Palmeiras
Endrick foi campeão em todos os escalões no PalmeirasArquivo pessoal