A AFP analisa três áreas cruciais em que Xabi Alonso, de 43 anos, terá de refletir nas próximas semanas e meses, enquanto tenta recolocar o Real Madrid na rota dos grandes títulos — depois de uma temporada em que os merengues terminaram de mãos vazias.
Reequilíbrio
O antecessor de Xabi Alonso, Carlo Ancelotti, passou grande parte da última temporada a lamentar o desequilíbrio da equipa e a falta de “compromisso coletivo”.
Em resumo, o plantel contava com demasiados avançados que o técnico sentia a obrigação de utilizar, enquanto as lesões fragilizavam seriamente o setor defensivo e o clube não contratava qualquer substituto para Toni Kroos, que se retirou no verão passado.
A grande mudança surgiu com a chegada de Kylian Mbappé, no final do seu contrato com o Paris Saint-Germain, reforçando uma equipa do Real Madrid que acabaria por conquistar a Liga dos Campeões e La Liga.
Durante algum tempo, Mbappé e Vinícius Júnior enfrentaram dificuldades de compatibilização, ocupando zonas semelhantes no terreno. Apesar de Mbappé ter rendido bem como avançado-centro — somando 43 golos em todas as competições —, a presença simultânea das duas estrelas teve impacto negativo no equilíbrio defensivo da equipa.
Alonso terá de encontrar uma forma de fazer com que a dupla Mbappé–Vinícius funcione em harmonia, sem comprometer a pressão alta nem deixar a equipa vulnerável em situações de desvantagem numérica.
A saída do experiente Luka Modric, prevista após o Mundial de Clubes, representa mais uma perda de equilíbrio, técnica e inteligência tática no meio-campo.
O ex-treinador do Bayer Leverkusen tem recorrido frequentemente ao sistema tático 3-4-3, que pode ajustar-se bem às características do plantel do Real Madrid — especialmente com a esperada chegada de Trent Alexander-Arnold, do Liverpool, e a contratação já confirmada de Dean Huijsen, proveniente do Bournemouth.
Gerir as estrelas
Se havia algo em que Carlo Ancelotti se destacava, era na capacidade de gerir um balneário recheado de estrelas e egos fortes.
Na sua primeira passagem pelo Santiago Bernabéu, conseguiu tirar o melhor de Cristiano Ronaldo, Karim Benzema e Gareth Bale. Já na segunda, foi peça-chave na afirmação de Vinícius Júnior como estrela mundial.
Apesar de não apreciar a narrativa de que era “apenas” um bom gestor de grupo e não um estratega de topo, não se deve subestimar a importância do seu papel na gestão humana num clube como o Real Madrid — onde manter os jogadores motivados, unidos e comprometidos é, por si só, uma arte.
Carlo Ancelotti soube gerir com mestria todas as esferas do Real Madrid — do presidente Florentino Pérez ao balneário, passando pelos meios de comunicação social, com os quais manteve sempre uma postura serena e diplomática.
Xabi Alonso, agora no leme, carrega uma aura semelhante à de Zinedine Zidane, outro ex-jogador que se transformou num treinador de sucesso no clube. A sua ligação emocional ao Real Madrid e o respeito que impõe poderão ser trunfos valiosos nesta nova etapa.
Contrariar o poderio do Barcelona
Um dos golpes finais na passagem de Ancelotti pelo Real Madrid foi a forma como a sua equipa sucumbiu nos quatro Clássicos disputados esta época frente ao grande rival, o Barcelona.
Em outubro, os catalães golearam por 4-0 em pleno Santiago Bernabéu, num resultado que envergonhou os merengues e marcou o rumo da temporada.
A vitória por 4-3 no jogo da segunda volta do campeonato foi o golpe decisivo: destronou o Real Madrid e devolveu o título espanhol à Catalunha — e a diferença no marcador até poderia ter sido maior sem que fosse injusta para os blancos.
O Barcelona venceu ainda o Real Madrid por 3-2 na final da Taça do Rei e por 5-2 na Supertaça de Espanha, completando assim o triplete e deixando a equipa da capital em estado de choque.
A formação orientada por Ancelotti revelou-se incapaz de lidar com a linha defensiva subida e a pressão intensa imposta por Hansi Flick. Xabi Alonso, consciente dessa lacuna, já começou a estudar o modelo do técnico alemão para garantir que o Real Madrid esteja mais bem preparado nos grandes duelos da próxima época.