Mais

Sindicato de futebolistas afirma que LaLiga, Barça e Villarreal não querem reunir-se sobre o jogo de Miami

David Aganzo, presidente da Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE)
David Aganzo, presidente da Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE) MARISCAL / EPA / Profimedia

O sindicato dos futebolistas em Espanha considera que as partes não querem reunir-se para abordar este assunto. Esta quarta-feira estava agendada uma reunião e a AFE recebeu uma chamada a informar que nem as partes nem a entidade patronal podem comparecer ao evento.

A alternativa apresentada é uma data posterior ao início da venda de bilhetes, e ainda numa semana em que há competição europeia, daí as suspeitas do organismo.

Este é o comunicado da AFE:

"A Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE) convocou para a tarde de terça-feira, 14 de outubro, às 19:00 horas, uma reunião com uma representação de capitães da Primeira Divisão, o presidente da LaLiga, Javier Tebas, e os clubes requerentes do projeto, FC Barcelona e Villarreal CF, para que, conforme determina a Lei do Desporto no seu artigo 61.º sobre transparência, os futebolistas pudessem conhecer toda a informação sobre a possibilidade de disputar um jogo do Campeonato Nacional de Liga da Primeira Divisão de Espanha nos Estados Unidos.

Apesar de a AFE ter oferecido todas as possibilidades de participação, tanto presencialmente como por via telemática, insistiu no carácter prioritário do encontro por respeito aos colegas que representamos e enviou a convocatória com uma semana de antecedência, a LALIGA e os clubes recusaram-se a participar, simultaneamente, devido a problemas de agenda. A alternativa seria uma reunião depois de começar a pré-venda e venda de bilhetes para o jogo — segundo anunciaram, prevista para 21 e 22 de outubro, respetivamente — e em dias da semana em que, devido à configuração do calendário, os futebolistas não teriam qualquer possibilidade de participar.

Falta de transparência

Perante a falta de transparência e de colaboração institucional da LaLiga, e após as recentes declarações do seu presidente aos meios de comunicação, o sindicato quer assegurar que não foi recebida qualquer informação relacionada com o jogo, tal como solicitámos há dois meses, quando tivemos confirmação oficial do projeto na Direção da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF). A AFE também não fechou qualquer acordo com a LaLiga em 2018 sobre a possibilidade de realizar um jogo do Campeonato Nacional de Liga da Primeira Divisão de Espanha fora do território nacional, quando manifestou publicamente a sua discordância em disputar o jogo.

Desconhecemos os interesses da entidade patronal em oficializar um jogo — tal como precipitou no passado dia 8 de outubro — quando apenas um dia antes assegurou à AFE que a aprovação da UEFA não significava a autorização definitiva para a realização de um encontro que não conta com a aprovação dos futebolistas. Apesar de o sindicato, com o apoio dos 20 capitães, ter pedido insistentemente todos os detalhes do projeto para os analisar, transmitir as necessidades do coletivo e formar, se necessário, uma mesa de negociação, tendo em conta que o atual Contrato Coletivo, negociado entre a AFE e a LALIGA, estabelece as condições laborais dos futebolistas no âmbito nacional.

A deslocação de um jogo do Campeonato Nacional de Liga da Primeira Divisão de Espanha para os Estados Unidos impossibilitaria o seu cumprimento tendo em conta que, no artigo 8.º, “o futebolista fica obrigado a realizar as concentrações que o Clube/SAD estabelecer, desde que não excedam as 36 horas imediatamente anteriores ao início do jogo, quando se joga em campo próprio. Se se jogar em campo alheio, a concentração não pode exceder as 72 horas (incluindo o tempo de deslocação), sendo igualmente tomada como referência a hora de início do jogo”.

Contacto com eurodeputados

Além disso, queremos destacar que a AFE tem estado em permanente contacto com vários eurodeputados que, no passado dia 9 de setembro, enviaram a Aleksander Čeferin, presidente da UEFA, uma carta para expressar a sua profunda preocupação pelas recentes iniciativas de algumas ligas nacionais, como a Liga espanhola e a Serie A italiana, que pretendem realizar jogos oficiais fora do território europeu. Finalmente, a 7 de outubro, o Parlamento Europeu aprovou por maioria o Relatório sobre o papel da política da União Europeia na configuração do Modelo Europeu do Desporto (MEDE), um documento que visa proteger o nosso desporto e que pede, literalmente no seu artigo 44.º, aos órgãos de governação do desporto que “impeçam que se joguem jogos de competições internas no estrangeiro”.

Neste sentido, o sindicato continua em conversações com eurodeputados e grupos parlamentares em Espanha, que estão a trabalhar para solicitar ao Governo que aplique o Modelo Europeu do Desporto. Um relatório que, além disso, o presidente da LALIGA avalizou no passado dia 13 de maio no Congresso dos Deputados quando, no âmbito da criação do Estatuto do Desportista, assegurou que “quando alguém quer fazer mudanças importantes que podem pôr em risco o futebol profissional, é importante que seja o mais transparente e claro possível”.

Com base nas suas próprias palavras, pedimos à LALIGA coerência no seu discurso, respeito pelos jogadores e que aplique idênticos argumentos de transparência a todos os projetos que pretendem transformar o planeamento atual do futebol".