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Yamal: "O meu irmão mais novo está a viver uma infância que eu não tive e isso deixa-me muito feliz"

Lamine Yamal passou pela academia La Masia, do Barcelona.
Lamine Yamal passou pela academia La Masia, do Barcelona.Francisco Macia, Magara Press SL / Alamy / Profimedia
Lamine Yamal, uma das maiores estrelas do futebol atual e um sério candidato à Bola de Ouro deste ano, deu uma entrevista muito abrangente ao jornalista espanhol José Ramón de la Morena no programa Resonancia de Corazón. O jogador do Barcelona falou sobre a sua infância, a sua família, o seu início difícil e a forma como lida com a vida na ribalta.

Yamal admitiu que a sua vida mudou radicalmente desde que entrou na equipa principal do Barcelona, sob o comando de Xavi Hernández. "Antes, eu podia sair com os meus amigos e não me preocupar com nada. Agora não posso fazer isso muitas vezes. Lembro-me dos treinos de verão na Coreia, no Japão ou na China, não podia ir a lado nenhum. Mas, no geral, estou feliz", disse no início da entrevista.

Um grande apoio para o filho da famosa academia de futebol La Masia é a sua mãe Sheila Ebana. "Ela não podia dar-me tanta atenção por causa do trabalho, mas fazia-me sempre o jantar, mesmo quando chegava tarde a casa. Lembro-me de quando ela poupou dinheiro para me comprar uma Playstation 4 nova. Na altura, significava tudo para mim", recorda Yamal, que ainda hoje gosta de jogar a consola.

"Agora tenho uma Playstation 5. Costumo jogar com o meu amigo Bryan, que conheço da academia. Mesmo que tenha a maior casa do mundo, passo a maior parte do tempo na sala de jogos", admite o jovem talentoso.

Ele recompensou a sua mãe comprando uma casa nova. "Perguntei à minha mãe em que zona gostaria de viver. Ela escolheu tudo sozinha. Agora tem tudo o que precisa. Posso ver que ela está feliz. Ela é a minha rainha. Antes vivíamos num apartamento onde a cozinha e o quarto eram um só. O meu irmão mais novo está a viver uma infância que eu não tive e isso deixa-me muito feliz", explica o avançado do Barcelona.

Raízes no Marrocos e na Guiné

Yamal também contou abertamente uma história familiar complicada. A avó chegou a Espanha de autocarro, vinda de Marrocos, e trabalhou todos os dias de manhã à noite para trazer o filho, o pai de Yamal. "O meu pai chegou com a irmã quando tinham três anos de idade. A minha avó, na altura, pagou a uma mulher para os trazer para cá", contou o novo 10 dos blaugranas.

A sua mãe, por outro lado, é da Guiné. "Veio para Barcelona com a avó. Os meus pais conheceram-se aqui e, no início, vivíamos numa espécie de casa para jovens pais. Depois mudámos muito de casa - um dia, uns amigos emprestaram-nos um quarto, depois os meus pais separaram-se e eu vivi com a minha mãe em Granollers", recorda Yamal, que também admite que não foi fácil para ele na academia de Barcelona.

"O primeiro ano foi bom, mas depois mudei-me para La Masia e, de repente, estava no meio de pessoas de uma classe social completamente diferente. Não me senti nada confortável, não me senti à vontade lá. Foi difícil. Hoje, se calhar, encararia as coisas de forma um pouco diferente, mas não me arrependo de nada. Tudo fazia sentido", afirma.

Ou era futebol ou nada

Yamal admitiu que nunca duvidou que viria a ser jogador de futebol. "Gostaria de tirar um curso superior um dia, mas acho que não sou do tipo estudioso. Disse aos meus pais: Se estão a contar que eu faça um 'trabalho normal', estamos lixados. Mas se estão a contar comigo para ganhar a vida a jogar futebol, não têm de se preocupar", sorriu Yamal, cuja abordagem enérgica chegou a provocar discussões com a mãe.

"Eu disse-lhe: 'Mãe, eu vou para a escola, mas não vou fazer nada lá'. Ela gritava comigo todos os dias, mas acabou por compreender que este era o meu sonho. Não recomendaria esse comportamento a ninguém, mas na altura senti que era a coisa certa a fazer e que tornava o meu sonho realidade."

Drama com o pai e racismo

O momento mais difícil da vida de Yamal foi quando soube que o pai tinha sido esfaqueado. "Estava no carro e de repente o meu primo ligou-me. Perguntou-me se eu estava sozinha, que tinha acontecido alguma coisa. Disse-lhe que se não me levasse imediatamente ao meu pai, nunca mais lhe falaria. Depois também quis ir para o comboio, mas não me deixaram. Trancaram-me em casa para eu não ir a lado nenhum. Na altura, tinha 17 anos. Imaginem quando vos dizem em criança que o vosso pai foi esfaqueado. Foi terrível", conta.

"E no dia seguinte tive formação. Finalmente, o meu pai telefonou-me e disse que estava tudo bem, que não tinha de me preocupar. Fui ao hospital logo a seguir ao treino e, felizmente, estava tudo bem", continuou.

A recente celebração do seu 18.º aniversário também causou grande agitação nos meios de comunicação social espanhóis. A modelo Claudia Calvo afirmou que foi abordada por alguém da equipa de Yamal para levar 12 mulheres com determinadas caraterísticas físicas para a festa - principalmente loiras com seios grandes. "Tentaram manchar o meu nome. Não fazia sentido nenhum. No entanto, habituei-me a que as pessoas falem de mim, umas de forma positiva, outras de forma negativa. Não me importo", afirmou.

Por último, falou também dos insultos racistas que recebeu nas bancadas ou nas redes sociais desde os 16 anos. "Que digam o que quiserem, sinceramente não me interessa. Mesmo que eu abordasse mais o assunto, o que é que mudaria? Nada, de todo. É absurdo. Alguma vez viste uma pessoa negra na rua dirigir-se a alguém como 'Olá, rapaz branco'? Eu não vi. Porque temos bom senso. Claro que nem toda a gente em Espanha é racista, de forma alguma, é uma minoria que... não sei, talvez tenha tido uma infância difícil e acabou por ter alguns problemas. Mas, como já disse, isso não me incomoda", acrescentou.