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Entrevista a Ismaël Doukouré (Estrasburgo): "O futebol é uma questão de emoções e depois de resultados"

Ismaël Doukouré durante o jogo contra o Nantes
Ismaël Doukouré durante o jogo contra o NantesFREDERICK FLORIN/AFP

Substituído na defesa central por Liam Rosenior há cinco jogos, Ismaël Doukouré está feliz por voltar à posição em que começou no Valenciennes. Aos 21 anos, é surpreendentemente calmo para a sua idade. No Estrasburgo, o jogador nascido em Lille tem um objetivo ambicioso: fazer parte de um grupo jovem e unido. Em entrevista ao Flashscore, concedida pelo departamento internacional da LFP Media, falou do empate com o Marselha, dos seus objetivos com o clube e do seu desejo garantir um lugar nas competições europeias.

- Vêm de um empate 1-1 com o Marselha no Velódrome. O que lembra desse jogo?

- Muita frustração. Para o exterior, é um bom ponto, mas, tendo em conta a forma como o jogo decorreu e as nossas qualidades, podíamos ter feito muito melhor, sobretudo na segunda parte.

- É verdade que houve uma parte para cada equipa. Houve algum atrito, principalmente com Mason Greenwood?

- Sim, mas isso é um facto do jogo, fica dentro do campo. Depois, apertámos as mãos. Não há ressentimentos, isso acontece, independentemente de quem são os jogadores.

- O Estrasburgo tem um plantel jovem: quando se faz uma boa campanha, com uma série de 7 jogos invictos em todas as competições (5 vitórias e 2 empates), é possível pensar nos lugares europeus?

- Matematicamente, a Europa não está muito longe. É um campeonato muito disputado. Além disso, há seis jogos que não vencemos o Marselha (5 empates e uma vitória, sem perder desde 2022), o que também reflete as ambições do clube de competir com este tipo de equipas.

- Nos últimos 5 jogos da Ligue 1, tem jogado como defesa central, apesar de ter começado como médio defensivo. O Estrasburgo está invicto: é esse o seu lugar?

- Comecei como central, então conheço a posição, embora também tenha jogado como trinco. A coesão da equipa foi muito importante nesta série. Temos um grupo muito unido e tentamos fazer coisas fora do campo. Isso reforça a nossa ligação e reflete-se nos jogos, com uma equipa muito dinâmica. Eles são mais do que simples companheiros de equipa. Todos nós tentamos dar tudo de nós uns pelos outros.

- Falou do seu início de carreira. Fez a sua formação no Valenciennes: o que ganhou com isso?

- Nada além de boas lembranças. Foi lá que joguei os meus primeiros minutos como profissional e que ganhei a minha primeira camisola. Ainda tenho muitos amigos lá e tento voltar sempre que possível quando tenho tempo livre. Estou triste por o clube ter sido despromovido à Liga Nacional e espero que possa voltar a subir o mais rapidamente possível. Só posso dizer coisas boas do Valenciennes.

- Muitas vezes se fala da juventude do plantel e da suposta falta de experiência, mas isso é mais do que compensado pela sua vontade?

- Para mim, a experiência não significa muita coisa. Quando comecei no Racing, já tinha jogado na Ligue 2, então descobrir a Ligue 1 não me assustou. O importante é ser bom em campo, obter resultados e fazer um bom jogo. É isso que estamos a fazer. Temos um plantel que já jogou a um nível elevado e que aspira a ir ainda mais longe.

- É difícil para a equipa técnica conter tantos jogadores jovens com o entusiasmo da sua idade? 

- Acho que não, porque somos todos muito bem educados. Há regras e nós respeitamo-las. Desde que se respeite o horário e o grupo, não há qualquer problema. Pessoalmente, não acho que seja difícil gerir-nos.

- Na última temporada, o seu treinador era Patrick Vieira. Ter uma personalidade como essa ajudou-o a evoluir? 

- Todos nós conhecemos a carreira dele e era um exemplo a seguir. Ajudou-me muito quando me reposicionou no meio-campo. Deu-me muitos conselhos. Não podemos esquecer que ele viveu uma grande época aqui. Ele faz parte da base do Racing e fiquei feliz em trabalhar com ele.

- Liam Rosenior nunca tinha treinado um clube da primeira divisão: foi uma evolução conjunta entre ele e a equipa?

- O treinador veio com as suas próprias ideias, algumas muito boas. Trabalhou muito sobre as bases, analisando os jogadores que tinha e os reforços que chegavam para obter uma mistura homogénea. É isso que se vê em campo. Por exemplo, conheço as qualidades do colega à minha esquerda e do colega à minha direita e trabalhamos os pormenores. O estado de espírito é irrepreensível. Há que concordar inteiramente com ele.

- Ouvi dizer que o treinador é um verdadeiro nerd do futebol, pode confirmar isso? 

- Sim, é verdade que ele nunca pára (sorri). É sempre muito, muito exigente. É isso que faz a diferença.

- Quais são as suas qualidades que agradam ao seu treinador?

- Antes de pensar na minha posição, o que importa é o trabalho de equipa. Não se pode sofrer um golo e mesmo assim ganhar o jogo. Isso começa com os avançados. As minhas qualidades residem nos duelos defensivos, na liderança que posso exercer a partir de trás e também na minha capacidade de passe, porque temos um treinador que quer jogar bem. É óbvio: começa com o guarda-redes e vai subindo gradualmente.

- Isso ficou particularmente evidente no golo de Emanuel Emegha contra o Toulouse: começa com Djordje Petrovic e termina com um cruzamento para o poste mais distante do seu número 9, depois de uma jogada bem trabalhada.

- Se estão a gostar, é ótimo, porque nós também estamos a gostar. Trabalhamos muito nos treinos, por isso não me surpreendeu a saída de bola que tivemos contra o Toulouse. Se não me engano, cinco ou seis de nós tocaram na bola, trocaram de lado e terminaram a ação. Foi magnífico.

- Está a mostrar cada vez mais maturidade, sente-se isso?

- Antes não era assim, mas se os espectadores gostam de nos ver e de nos ver marcar golos - e nós marcamos muitos - isso é bom para nós, porque o futebol é uma questão de emoções e depois de resultados.

- O La Meinau é barulhento e exigente!

- O clube tem uma história, por isso tem um público muito bom que também nos sabe apoiar nos momentos mais complicados. Graças a eles e à forma como tentamos jogar, podemos ter uma época muito boa.

- Estão apreensivos com a excitação deste novo projeto em torno do Estrasburgo?

- Estamos a tentar concentrar-nos, ficar na nossa própria bolha, mas é claro que muito mais pessoas estão a falar sobre o Estrasburgo na França e no mundo, porque temos muitos jogadores estrangeiros. Sentimos que estamos a tornar-nos uma equipa diferente das épocas anteriores.

- O plantel do Estrasburgo é de facto cosmopolita. Como é que se comunicam: em francês ou em inglês?

- Um pouco dos dois, alguns de nós tentam aprender um ou outro. O Andrey Santos, por exemplo, fala e percebe muito bem francês, o que é um sinal de respeito por nós e pelo clube. Há uma harmonia perfeita e toda a gente está feliz, francamente.

- Liam Rosenior era um desconhecido em França antes de chegar: é um inglês que está muito longe do velho kick and rush!

- O futebol evoluiu e cada vez mais as equipas querem fazer sair a bola de trás. O treinador teve esta ideia e nós estamos satisfeitos com ela, porque gostamos dela e temos prazer em jogar assim.

- Notámos que a vossa forma de jogar é muito racional, com um lado esquerdo que pode concentrar a atenção do adversário e depois mudar para a direita para tirar partido das capacidades de drible e aceleração de Dilane Bakwa.

- Estamos animados com os desafios que temos pela frente. Temos jogadores muito bons e não temos um onze inicial preferido. Seja com Dilane pela direita ou Diego (Moreira) pela esquerda, queremos apenas armar jogadas e fazer a diferença.

- Há algum ponto a ser melhorado coletivamente?

- Sempre há pontos a serem melhorados. Não jogámos tão bem como devíamos na segunda parte em Marselha e sofremos um golo. Temos de ser mais sólidos e, sobretudo, gerir melhor os nossos jogos, e é esse o nosso objetivo para os próximos meses.

- Robinio Vaz nunca tinha jogado na Ligue 1, por isso era quase impossível analisá-lo em profundidade antes do jogo.

- É verdade, mas há sempre novos jogadores e ele esteve muito bem, criou muito perigo nos nossos últimos 30 metros. Isso faz parte do nosso processo. Fizemos uma primeira parte muito boa, com um bom bloco e uma boa pressão. O mais importante é manter o mesmo ritmo durante todo o jogo, mesmo que seja muito complicado.

- Desde a última temporada, temos visto vários jogadores do Estrasburgo destacarem-se jogo após jogo. É o caso, por exemplo, de Emanuel Emegha. Será que estará na seleção nerlandesa em março? 

- Espero que sim, porque ele merece. Além de ser um jogador muito bom, é um líder dentro e fora de campo. É uma pessoa fantástica. Como curiosidade, quando fez a praxe à chegada, cantou em francês. Isso mostra bem o tipo de pessoa que ele é. Escolheu Papaoutai de Stromae e cantou muito bem (risos).

- Quais são as suas expectativas pessoais para este verão, tanto com o Estrasburgo como com os sub-21 de França?

- Chegar o mais alto possível e conquistar um lugar europeu. Temos qualidades para o conseguir, mas temos de nos manter concentrados. Depois, quero disputar o Campeonato da Europa de Sub-21 e jogar um pouco.

- Os Bleuets estão a jogar muito bem e estão entre os favoritos ao título. Vocês vão lá para ganhar e com estilo?

- Se pudermos ganhar, mesmo que não seja em grande estilo, tanto melhor. Somos a equipa de França, uma das melhores nações do mundo, por isso, quando jogamos numa competição como esta, o importante é ganhar.

- O último título foi em 1988!

- É verdade que é muito tempo. Vamos tentar entrar para a história, porque temos uma geração muito boa. Temos de ter objetivos altos e levantar a taça.