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Entrevista com Marco Paixão: "Na Turquia temos condições que muitos clubes em Portugal não têm"

Marco Paixão, avançado do Bandırmaspor
Marco Paixão, avançado do BandırmasporTeksüt Bandırmaspor
Aos quarenta anos de idade, continua a marcar golos mas já prepara o pós carreira de futebolista. Empenhado na subida ao primeiro escalão da Turquia pelo seu clube, o Bandirmaspor, Marco Paixão abre o coração nesta entrevista ao Flashscore. O ponta de lança português fala de um trajeto brilhante, com passagem pelos quatro cantos do mundo, e onde só faltou uma chamada à seleção nacional.

- Tem andado um pouco por todo o mundo, mas parece que estabilizou na Turquia, onde está desde 2018. Como estão as coisas por aí?

- Neste momento estou a viver um momento maravilhoso da minha carreira, parece mentira, mas é assim com 40 anos. Estamos bem, estamos em segundo na Liga, a equipa está muito bem, acredito que possamos ser campeões. Estou muito feliz.

- O objetivo é subir de divisão?

- 300 por cento, não tenho dúvidas. É o meu e é o objetivo de toda a gente do clube, ser campeão, sem dúvida.

- Como é que é o clube? O Marco já andou um pouco por todo o mundo, como é o clube e a cidade?

- O clube onde estou neste momento deve ter uma das melhores condições a nível de centro de estágio da Turquia. O presidente fez um centro de treinos novo, tem cinco ou seis meses, temos condições que muitos clubes em Portugal não têm. É muito bom, estamos bem, as condições são maravilhosas, o clube está bem, o presidente é uma pessoa muito ambiciosa também, o que é importante. Estou muito contente porque o clube tem todas as condições para este ano ser campeão.

Bandimarspor luta pela subida e pelo título
Bandimarspor luta pela subida e pelo títuloFlashscore

- É o goleador da equipa, com 40 anos. Qual é o segredo desta longevidade e de continuar a marcar golos como tem marcado?

- Acho que, sobretudo, é a paixão que tenho por jogar futebol. Quando uma pessoa ama o que faz, não interessa o que tem pela frente, os obstáculos e o que se passa à nossa volta. O amor que tenho a jogar futebol é tão grande que meto objetivos ano a ano. Este ano, o objetivo é ser campeão e marcar muitos golos, obviamente. Tento motivar-me todos os dias para alcançar esse objetivo.

- Como é o seu dia? Tem algum cuidado que não tinha quando era mais novo?

- Sim, cada vez. A alimentação é o número um, é estritamente restrita. Não como praticamente massa, arroz, não como carne, não bebo leite. A nível de descanso, tento descansar o máximo possível. Temos quartos individuais no centro estágio e passo muito, para não dizer 70 por cento do dia, aqui no centro do estágio a fazer recuperação e durmo muitas noites aqui porque o descanso é fundamental e aqui durmo em paz. Destacaria o descanso, mas sobretudo a alimentação.

- Tem aí o Paulinho, que marcava muitos golos aqui, no Estrela da Amadora. Como é que ele está?

- Está bem. Por acaso, damo-nos bem. Gosto muito de ter portugueses na minha equipa. No ano passado tive dois, está aqui o Paulo, o Mexer, que também fala português. Começou bem a liga, nós estamos bem em equipa, ele tem jogado e acredito que ele possa ajudar muito a equipa e fazer muitos golos. Neste momento, falta-lhe um bocadinho de sorte, mas nós ajudamo-nos e falamos muito um com o outro para no final da época sermos campeões, que é bom para todos.

Os números de Marco Paixão
Os números de Marco PaixãoFlashscore

- Espanha, Escócia, Irão, Chipre, Polónia, República Checa, Turquia. A melhor e a pior experiência que teve no futebol?

- A pior foi sem dúvida o Irão, é inevitável. A melhor. A nível de vida, futebol? No geral? A nível futebolístico, acho que é a Turquia. Aqui encontrei uma cultura maravilhosa, o meu filho cresceu aqui. Nasceu em Valência, mas a partir do quarto mês veio para a Turquia, esteve connosco, vivíamos numa cidade linda, com sol, praia, a temperatura era espetacular e os melhores cinco anos na minha vida foram em Izmir, a minha mulher está apaixonada pela Turquia e eu também adoro a cultura deles. É esse o meu melhor momento.

- No Irão foi a pior experiência, não é?

- Sim, sem dúvida. No Irão, um jogador que ambicione ser alguém no futebol… Eu vinha de circunstâncias más, vinha de lesão. Ninguém quer jogar no Irão, estamos no fim do mundo. Fui por necessidade porque a situação levou-me para lá. Chorava muito nos treinos. Faz parte do processo.

- 40 anos. O que ainda falta e o motiva no futebol?

- Acho que são desafios como este. É muito mais fácil jogar numa equipa que luta para ser campeã do que a meio da tabela ou lutar para não descer. Quando vim para cá, todos me diziam que a equipa ia lutar para ser campeã e foi essa a razão pela qual vim para aqui. Não queria estar num clube instável. O que vem depois, não faço ideia. Estou concentrado em ser campeão, acredito que vamos ser campeões e vamos subir. Penso muito ano a ano. Com 40 anos, é difícil prever o que vai acontecer no futuro. A motivação diária é fundamental, passa por ser campeão este ano e para o próximo logo vemos.

- Ainda não pensou no pós-carreira?

- Tenho coisas estruturadas, tenho um grupo de investimento imobiliário para jogadores de futebol, estamos com um projeto de marketing. Temos um projeto importante que é o Paixão Group, para ajudar jogadores de futebol a investir o seu capital. Temos uma equipa de topo. A minha cabeça já anda a pensar no futuro, obviamente. Já preparo o pós-carreira, sem dúvida.

- Jogou muitas vezes ao lado do seu irmão. Ele terminou a carreira, mas você continua. Como é que acompanhou esse final de carreira do seu irmão?

- Sempre foi um orgulho muito grande jogar ao lado do meu irmão. Fico feliz e orgulhoso pela carreira que ele fez. Acho que foi uma carreira muito bonita. A família está toda orgulhosa do percurso dele. Ele terminou porque decidiu, mas acho que, porque estava ao pé da praia, sol e mar, com todas essas condições, isso ajuda a prolongar a carreira. É mais difícil jogar num país onde chove e faz neve todos os dias do que a minha situação, um país com sol, praia, saio para jantar todos os dias. Tenho sorte por alargar um pouco mais a minha carreira.

- Lembro-me que chegou a falar-se da possibilidade de ser chamado à seleção, nomeadamente em 2013/14, quando estava no Slask e estava a marcar muitos golos. Recorda-se?

- Sim, recordo-me perfeitamente. Fiz uma grande temporada, foram 28 golos no Slask, jogámos a Liga Europa, acho que fiz um golo ao Betis. Foi uma das equipas mais bonitas da minha carreira. Tinha na minha cabeça que podia ser chamado devido à grande temporada que estava a fazer, mas infelizmente não se deu. Foi uma etapa bonita, infelizmente não pude estar lá. Fiquei triste, obviamente.

Marco Paixão a marcar na Liga Europa pelo Slask
Marco Paixão a marcar na Liga Europa pelo SlaskKURT DESPLENTER/BELGA MAG/Belga via AFP

- Ficou alguma mágoa?

- Não, existem grandes jogadores portugueses. Fiquei triste, obviamente. Cada jogador que quer ser jogador, quer ser lembrado e deve ter na cabeça entrar na seleção nacional. Como fiz uma grande época, não fujo a isso. Foi uma grande tristeza, mas é a vida.

- Para terminar, acompanha a Liga Portugal? O que está a achar do campeonato? Quem tem mais possibilidades de ser campeão?

- Tenho acompanhado, sim. Acho que este ano o Sporting, para mim, era o favorito ao título. Agora que o Ruben saiu, vamos ver. Quando uma equipa está entrosada, tem boa organização e passava por um bom momento, tinha grandes condições para ser campeã. Vamos ver agora com o João Pereira. É importante que continuem com essa ideia de jogo e mentalidade. Acredito que sim porque o Sporting é um grande clube. Por outro lado, a ideia de meter o Lage como treinador do Benfica foi uma grande ideia, foi uma mudança positiva no Benfica. Acho que o Benfica está melhor do que o FC Porto e consideraria as duas equipas favoritas o Sporting e o Benfica, este ano.

- Sesimbra sempre no coração, não é?

- Sempre no coração e vamos fazer tudo para daqui a uns anos ver o Sesimbra na Liga Portugal.