- Enquanto outros ainda competiam do outro lado do Atlântico, finalizando a temporada 2024-2025, o Auxerre retomou a pré-temporada no início de julho. Como revelação da época 2024-2025, como se sente em relação ao novo ano no Auxerre?
- Como digo, com muito prazer e sempre com o desejo de fazer cada vez melhor. Por isso, é verdade que tivemos uma época de sucesso, e muito bem sucedida. Agora, os contadores são repostos a zero todas as épocas, e é preciso pôr tudo em prática desde a pré-época para querer fazer sempre mais.
- Depois de uma época tão boa, com o estatuto de equipa promovida, como é que se encara este novo campeonato? Qual será o objetivo do Auxerre?
- Na minha forma de trabalhar, nunca tenho um objetivo específico no início da época, pelo menos em termos de tabela classificativa ou de qualquer outra coisa. Para mim, o que importa é a nossa forma de jogar, ter uma equipa que seja boa naquilo que queremos fazer. Depois disso, digo sempre que os resultados podem ser aleatórios e que são sempre consequência do que fazemos. Quando digo aleatórios, quero dizer que, por vezes, podem não depender de nós. Sabemos que um jogo pode correr para qualquer lado. Por outro lado, temos de nos concentrar naquilo que fazemos durante toda a semana e no trabalho que todos fazemos em conjunto em termos de cuidados individuais e colectivos para termos sempre um bom desempenho. É esse o meu objetivo. É meter na cabeça dos jogadores, da equipa técnica e de todos os outros que temos de trabalhar arduamente para tentar ter um desempenho cada vez melhor. Isso significa ser melhor do que aquilo que somos capazes de ser. Depois disso, por vezes os nossos adversários são muito mais fortes do que nós. Depois, por vezes, os nossos adversários são muito melhores do que nós, e temos de aceitar isso. Mas, acima de tudo, temos de ser nós próprios, com as nossas qualidades.
- Não teme o síndrome da segunda época no seu segundo ano na Ligue 1? Quais são as chaves para evitar o pior?
- Acho que são coisas que se dizem cá fora. Se começarmos a meter isso na nossa cabeça... Como eu digo, o medo não evita o perigo. Nós sabemos o tipo de clube que somos. Sabemos, evidentemente, que não podemos competir com certos clubes desta divisão. Mas, por outro lado, como provámos no ano passado, temos de ser competitivos. No ano passado, fomos capazes de ganhar jogos contra grandes equipas. Penso que é isso que temos de ter em mente, depois de dizermos que queremos fazer isto, que queremos fazer aquilo. Para nós, trata-se de sermos nós próprios, de trabalharmos arduamente para sermos uma equipa contra a qual todas as equipas da liga se sintam incomodadas. E estou a falar de todas elas.
- Falando de alguns dos resultados que obtiveram na época passada, nomeadamente em Abbé-Deschamps, contra o Paris Saint-Germain e o Marselha. Vocês dizem que é complicado lutar contra estas equipas, mas no final, quando o jogo chega, vimos o contrário. Vimos um Auxerre empreendedor e unido... Antes de começarmos, o que é que diz aos jogadores para criar este ambiente na equipa? Qual é a mensagem?
- De facto, o que digo aos jogadores, e o que lhes repito muitas vezes, é que, evidentemente, quando jogamos contra o Paris e o Marselha, trabalhamos muito durante a semana para tentar pô-los à prova e convencê-los de que sabemos que é muito difícil. Por outro lado, digo-lhes sempre que, quando chegamos à outra equipa no final do jogo, temos de ser capazes de nos olhar nos olhos. Por outras palavras, temos de aceitar que, quando jogamos com estas equipas, elas são mais fortes do que nós ao longo da época, isso é certo. Mas, por outro lado, temos de dar tudo num jogo. Temos de ser uma equipa difícil de defrontar. Francamente, preparamo-nos para os jogos contra todos da mesma forma. Depois disso, claro, o ambiente exterior é diferente, tal como o público. E penso que, para nós, este ano, mesmo nos dois anos em que estou aqui, três anos na verdade, é que os adeptos se identificam com esta equipa, porque sabem que nem sempre somos brilhantes, porque o futebol é assim, mas sabemos que nunca vamos desistir.
- De facto... Depois disso, tiveram jogadores de qualidade como Gaëtan Perrin, Hamed Junior Traoré... Isso é excecional para o Auxerre.
- Sim, para um treinador também (risos). Não, mas não há dúvida de que são jogadores excecionais, jogadores que nos ajudaram a ganhar. Não diria por si só, porque não gosto dessa palavra, mas desbloquearam situações para nós, ia dizer, graças ao seu talento. De facto, a equipa traz solidez e confiança, e o indivíduo faz a diferença. É sempre assim. Penso que o indivíduo, o jogador, será forte quando a equipa for forte. Quando uma equipa é frágil, é difícil fazer sobressair o indivíduo. Com a minha equipa, é isso que tentamos meter na cabeça de todos. E aqui estamos a falar de qualidades individuais, mas penso que, acima de tudo, foram muito fortes como equipa. E, nos bastidores, o seu talento permitiu muitas vezes que a equipa se exprimisse bem. Vencemos o Brest por 3-0, vencemos o Rennes por 4-0 e vencemos o Marselha por 3-1. Não é uma questão de sorte. Conseguimos fazê-lo, graças ao nosso espírito de equipa e aos jogadores que o fazem funcionar. É por isso que digo que um treinador é sempre melhor quando tem esses jogadores.
- Vai começar uma nova temporada na Ligue 1 contra o seu antigo clube, o Lorient, que está de volta à primeira divisão. Terá um sabor especial?
- Vai ter um sabor especial porque vou reencontrar pessoas de quem gosto, a começar pelo capitão, Laurent Abergel, que também foi meu capitão. Olivier Pantaloni, um treinador de quem também gosto muito, e muitas outras pessoas com quem trabalhei no Lorient. Não é um sabor especial, é um prazer. É um prazer estar de volta à Ligue 1, porque dominaram o campeonato, foram campeões, por isso o lugar do Lorient é na Ligue 1. É um prazer estar de volta com eles.
- Na próxima época, o plantel será novamente bastante jovem (média de idades de 25 anos). Por isso, é natural que o talento seja valorizado, mas isso torna as vendas futuras inegáveis? O Auxerre não vai conseguir, a curto prazo, ter mais ambição?
- Sim, mas acho que todos nós sabemos que o aspeto financeiro é importante, especialmente na Ligue 1. Sabemos exatamente como as coisas estão complicadas neste momento com os direitos televisivos. Muitos clubes também apostam nesses jogadores. É por isso que a formação, que é a alma de um clube como o Auxerre, tem de ser ainda mais eficaz para que clubes como o Auxerre se mantenham na Ligue 1. Depois, temos os jovens jogadores que, antes de pensarem em ser vendidos, já deviam estar a dar cartas pelo clube na Ligue 1. Estou a pensar em jogadores como Kevin Danois e Clément Akpa. São jogadores que foram formados ou pós-formados aqui, e que estão em vias de mostrar, como é o caso de Lassine Sinayoko, que estão em vias de mostrar toda a sua qualidade. Depois disso, veremos o que acontece mais tarde.
- Na época passada, transformou o Abbé-Deschamps numa verdadeira fortaleza, um estádio em que os pequenos causavam problemas aos grandes, por vezes ao ponto de os derrubar. Este é um novo objetivo para si e como consegue que os seus jogadores se comportem tão bem em casa?
- Em todo o caso, não há segredo. Penso que quando se quer ter sucesso numa época, muitas vezes é preciso fazer bem em casa, quando se sabe como é difícil conquistar pontos fora de casa, em ambientes que também não são fáceis. Por isso, temos de ter isso em mente. Depois disso, penso que os adeptos, como digo, identificam-se com esta equipa, e não é uma questão de tática, é uma questão de atitude. É uma questão de atitude, de nunca desistir, de ser sempre uma equipa que joga o jogo, porque no ano passado, na Ligue 2, marcámos 75 golos e, no ano passado, terminámos no top 10 da Ligue 1. Para além disso, é preciso adaptar-se, porque na Ligue 2 tínhamos 65% de posse de bola e no ano passado ganhámos muitos jogos com 35%. Sabemos que, quando jogamos contra os grandes clubes da Ligue 1, vamos jogar com 25% a 35% de posse de bola, pelo que temos de adaptar o nosso jogo a isso. Depois disso, penso que também temos de melhorar quando temos jogos com um pouco mais de posse de bola, contra equipas da nossa liga, do nosso nível, em que temos de fazer melhor, pelo que isso também faz parte da nossa área de melhoria.
- Capitão, goleador, decisivo em várias ocasiões, homem do balneário: Jubal foi um dos pilares do plantel na época passada. Como é que o Auxerre vai compensar a sua saída?
- Em primeiro lugar, tentando encontrar um jogador que tenha mais ou menos o mesmo espírito, que foi o que fizemos com Francisco Sierralta, também ele um jogador sul-americano, chileno. O Jubal era extraordinário no balneário e, como capitão, tinha uma aura que trouxe para o clube. Não se pode recrutar o mesmo jogador, não é possível, e é claro que teríamos gostado de manter o Jubal. Depois, são opções de carreira, não podemos opor-nos, temos de lhe agradecer sobretudo por ter feito o que fez connosco, e portanto temos de partir para outra coisa, e se calhar também vamos ter de nos adaptar com o Francisco na sua forma de jogar, há muitas outras coisas, e se calhar ele vai ter um desempenho menos bom do que o Jubal em certas situações, e se calhar noutras vai trazer-nos algo mais. Depois, a certa altura, quando se é treinador, não se pode ser nostálgico, é assim mesmo. Também vou perder Hamed Junior Traoré e talvez Gaëtan Perrin. Quando olhamos para isso, que é praticamente metade dos golos marcados, dizemos a nós próprios que temos de nos reinventar, e que temos de, ao mesmo tempo, fazer o recrutamento, claro que é o recrutamento, trabalhámos muito nisso, e depois, nós também, no nosso plano de jogo, vemos as qualidades dos jogadores que vão juntar-se a nós e vemos como podemos adaptá-los melhor à equipa.
- Na mesma linha, Hamed Junior Traoré saiu para o Bournemouth. Sabemos o impacto que teve no Auxerre na época passada. Será difícil passar sem ele?
- Sim, claro. Com ele, penso que demonstrámos a nossa capacidade, juntamente com a equipa, de voltar a pôr os jogadores a jogar. Depois disso, há considerações financeiras que não podemos ter em conta. Mas, do ponto de vista desportivo, o Júnior não se teria importado de ficar mais um ano. Por isso, talvez alguns jogadores que estejam com pouco tempo de jogo, como o Júnior, ou com falta de confiança no clube onde estão, possam dizer a si próprios: "Talvez ir para o Auxerre me ajude a voltar à ribalta". Mas também cabe a esses jogadores tomar as coisas nas mãos.
- Há rumores de que Gaëtan Perrin vai deixar o clube este verão. Querem mantê-lo a todo o custo?
- Bem, sim, claro. Mas não sei. Como estava a dizer, queremos seguramente mantê-lo a todo o custo, mas a certa altura tem de haver discussões com o jogador, que quer mesmo sair. Porque, bem, ele sente que, a certa altura, tem 29, 30 anos, e que está na altura de fazer, de ver outra coisa e, sejamos realistas, de fazer um acordo financeiro. Por isso, não podemos alinhar com os valores que lhe foram oferecidos, essa é a realidade. E depois, como digo sempre, nunca se deve manter um jogador contra a sua vontade porque, bem, penso que o Gaëtan fez muito pelo Auxerre, não só no ano passado, mas também em anos anteriores. Ele exprimiu um desejo, porque também gosto de falar com os jogadores nestas situações, porque se for apenas uma questão contratual, podemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, na medida do possível, pode ser viável, mas quando vemos que o jogador fez realmente uma escolha, Mas quando vemos que o jogador fez realmente uma escolha, uma escolha contra a qual não podemos lutar, penso que, a partir de certa altura, não vale a pena tentar mantê-lo contra a sua vontade, porque, por um lado, podemos estar a perder um jogador porque não está bem mentalmente e, sobretudo, estamos a perder tempo a recrutar um potencial jogador para o substituir. É aí que o recrutamento já fez o seu trabalho notavelmente bem, porque já contratámos o Casimir Josué, que se enquadra nesse perfil, portanto temos um jogador capaz, mesmo que não tenha as mesmas qualidades, claro, mas com essas qualidades, como eu estava a dizer, não podemos substituir o Junior Traoré, não podemos substituir o Gaëtan Perrin, não podemos substituir o Joubal, mas podemos contratar jogadores com perfil e que também têm qualidades.
- Vamos falar um pouco de si e das suas inspirações. Quando estava no Amiens, disse que "admirava" o trabalho de Marcelo Bielsa, antigo treinador do Marselha. Disse que ele tinha trazido um novo fôlego a França. Há outros treinadores de quem vê algumas ideias a seguir?
- Penso que, neste momento, há um treinador que tem o apoio de toda a gente e que tem o meu apoio, que é o Luis Enrique. O que ele consegue fazer com uma equipa de jogadores muito talentosos, sem dúvida, mas o que ele consegue fazer coletivamente, é admirável. Jogámos contra o PSG no último jogo e agradeci-lhe por todos os treinadores. O que ele está a fazer por nós é incrível. Quando se explica que, coletivamente, temos de trabalhar todos em conjunto e que um jogador com tanto talento, um treinador com tanto talento, consegue pôr a sua equipa a jogar assim, é sempre preciso inspirarmo-nos nos melhores. Neste momento, o Paris é a melhor equipa do mundo, pelo que temos de nos inspirar neles. O Luis Enrique é realmente a minha fonte de inspiração no que diz respeito à forma como ele quer construir uma equipa. Penso que, quando se é treinador, é preciso ter muita curiosidade e ver o que se está a fazer em todas as ligas. Mesmo que não tenha um treinador em particular, mas gosto, olho para o que Xabi Alonso está a fazer em particular, o que fez no Leverkusen, também gosto do que Gasperini fez na Atalanta. Também gosto da filosofia deles, do que sai da sua equipa.
- Os jogos do Auxerre são muito animados, com o tipo de futebol eficiente, de transição e direto pelo qual vocês são conhecidos nos últimos anos. Na época passada, o Auxerre foi uma das equipas europeias com mais cruzamentos. O que é que isso significa para os jogadores?
- Digamos que, em certa medida, foi também o sistema que tornou isso possível, na medida em que cobrimos a largura com mais gente. Por isso, há pouco, quando falava da defesa a 5, estávamos a falar sobretudo da defesa a 3, quando temos a bola. A inversão fixa é um dos nossos princípios de ataque. Sabemos que, no futebol atual, muitas equipas estão a dar densidade à bola, por isso a ideia é fixar um lado para podermos fazer jogos do outro lado. Portanto, é todo um trabalho de preparação...
- O objetivo é surpreender, não é?
- Com o objetivo de surpreender o adversário, claro. Sim, com o objetivo de surpreender, com o objetivo de ocupar espaço, com uma série de coisas. Portanto, sim, são princípios que trabalhamos muito.
- E isso significa que precisa de jogadores que estejam tecnicamente à vontade também, precisamente para fazer esses cruzamentos.
- Isso significa que precisamos de jogadores que se sintam confortáveis em espaços pequenos para segurar... Jogadores que se sintam à vontade a jogar do outro lado e jogadores que consigam ganhar o 1 contra 1 do outro lado. O Gaëtan Perrin fez isso algumas vezes: controlou, armou, ocupou espaços e eu joguei a bola. Em particular, gostaria de recordar um golo que trabalhámos durante a semana, um golo contra o Toulouse. Era o Gaëtan que estava ali, que tocou para o Junior, que passou para as costas do defesa e marcou. Eram coisas que tínhamos trabalhado, tal como trabalhámos também em Marselha, quando ganhámos 3-1 em Marselha, nos golos, nas trocas de bola. Portanto, é isso mesmo. Também estudamos cada vez, tanto os nossos princípios de jogo, como os espaços que podem ser libertados para o adversário se fizermos determinadas coisas. É um trabalho de preparação que se faz em vídeo, mas também em campo.
- Quanto tempo podem durar essas sessões de vídeo?
- Digamos que fazemos vídeos todos os dias, praticamente, mas nos princípios, naquilo que queremos fazer. No ataque, na defesa, nas transições, nos lances de bola parada. E digo a mim próprio que os vídeos nunca devem ter mais de 12 ou 15 minutos. Para que os jogadores... É por isso que prefiro fazê-lo ao longo de vários dias.
- Os puristas encontram por vezes o estilo de jogo de Guy Roux há várias décadas. Vê algumas semelhanças?
- Talvez no facto de a equipa de Guy Roux já jogar um futebol de contra-ataque, porque tinha Djibril que atacava os espaços, em particular. Não, porque o 4-3-3 de Guy Roux era de facto muito marcado, com dois jogadores a ocuparem as linhas dos flancos. Na altura, havia também marcação individual, o que já não acontece hoje em dia. Depois disso, talvez quando se trata de ter equipas que nunca desistem, talvez nos encontremos, sim.