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Ministério Público francês pede 10 meses de pena suspensa para Youcef Atal

Atal envolvido em polémica
Atal envolvido em polémicaProfimedia

O Ministério Público pediu uma pena de 10 meses de prisão suspensa e uma multa de 45.000 euros contra o jogador do Nice, Youcef Atal, que foi julgado na segunda-feira por ter partilhado um vídeo de 35 segundos apelando a "um dia negro para os judeus", mas que diz não ter visto na íntegra.

O julgamento foi adiado para 3 de janeiro.

"São assuntos sérios que não devem ser banalizados. Partilhar um vídeo significa atribuir os comentários a si próprio e dar-lhes visibilidade", afirmou a procuradora-adjunta Meggi Choutia.

"Pensei que havia uma mensagem de paz para as pessoas que sofriam nesta guerra", defendeu-se o jogador internacional argelino de 27 anos perante o Tribunal Penal de Nice, insistindo que tinha "partilhado este vídeo sem ver até ao fim".

"Ele enviou uma mensagem de apoio aos palestinianos em Gaza. Para ele, a paz é isso mesmo, e não é o único", explicou o advogado, Antoine Vey.

"Em nenhum momento desses 35 segundos houve qualquer menção à paz", respondeu Choutia nas alegações finais, argumentando que a pena de prisão suspensa poderia ser "um aviso" que encorajaria o jogador a pensar novamente antes de publicar qualquer coisa. A advogada pediu ainda que a sentença fosse publicada durante um mês na página inicial da conta de Instagram do jogador.

Cinco dias depois dos ataques Hamas, a 7 de outubro, e do início dos bombardeamentos israelitas em Gaza, Atal publicou um vídeo de um pregador, Mahmoud Al Hasanat, na sua conta do Instagram, que é seguida por 3,2 milhões de pessoas.

No vídeo, o pregador começa por falar, comovido até às lágrimas, sobre a situação das crianças de Gaza. Depois, endurece o tom e apela a Deus para que envie "um dia negro sobre os judeus".

"No Instagram, 35 segundos é muito tempo", admitiu Vey, insistindo que a partilha deste vídeo foi certamente uma "falha" ética, mas não uma falha criminal por parte do jogador, que está a ser processado por incitar ao ódio com base na religião.

"Ódio contra ninguém"

Suspenso por sete jogos pelo comité disciplinar da Ligue de Football Professionnel (LFP), Youcef Atal não jogou pelo Nice desde a publicação do vídeo, mas foi titular nos três jogos disputados pelos Fennecs argelinos, que o apoiaram.

No dia seguinte à publicação do vídeo, o OGC Nice avisou-o do carácter polémico dos comentários. Atal apagou-os, juntamente com um pedido de desculpas do seu agente. Já tinha apresentado um pedido de desculpas semelhante depois de ter "gostado" de um vídeo polémico do lutador checheno de MMA Khabib Nurmagomedov, cujas palavras não tentou compreender em russo.

Ele, que partilha muito pouco conteúdo fora do futebol, admitiu que não tinha tentado informar-se sobre Mahmoud Al Hasanat, um pregador cujas palavras são frequentemente muito virulentas.

"Não sou antissemita. Não sou contra os judeus nem contra os cristãos, não odeio ninguém", insistiu, lembrando que, ao contrário de muitos desportistas do mundo árabe, não hesitou em jogar pelo Nice em Telavive.

Os comentários não convenceram os partidos civis, principalmente as organizações judaicas e a LFP.

"Tem o direito de se exprimir, de hastear a bandeira palestiniana", explicou Serge Tavitian, advogado da Licra (Liga Internacional contra o Racismo e o Anti-Semitismo), "mas porque não condenou o 7 de outubro ao mesmo tempo que a chuva de ferro, fogo e sangue que se espalha em Gaza?"

Apesar de o jogador se ter mantido calmo e discreto, recusando-se a falar com os meios de comunicação social, várias mulheres saudaram-no no tribunal com "A Argélia está contigo" e "Viva a Palestina", antes de atacarem os jornalistas que entrevistavam os advogados dos queixosos na sala de audiências.