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Opinião: O futebol francês atinge o fundo do poço

Auxiliar foi atingido por projétil
Auxiliar foi atingido por projétilIcon Sport / ddp USA / Profimedia
Apesar de uma agressão física a um árbitro, um jogo de futebol prosseguiu. É mais uma prova do declínio inaceitável do futebol francês.

Esta época da Ligue 1 já foi muito dura. O jogo interrompido em Montpellier, os debates em torno dos cânticos homofóbicos e, claro, todo o drama em torno dos direitos televisivos. A imagem é deplorável, o valor global caiu a pique e os outros países questionam o nível real de um campeonato que está cada vez menos entre a elite.

Mas, claro, o que é sempre destacado é a arbitragem. Os erros que os adeptos, como é óbvio, melhor do que ninguém, registam para mostrar, no final da época, o número de pontos perdidos e as consequências financeiras. Esta pressão constante sobre os homens de preto não foi de modo algum um precursor do espetáculo de ontem no Geoffroy-Guichard.

Após o ataque de raiva de Paulo Fonseca, um auxiliar foi atingido na cabeça por um projétil durante o jogo. O jogo foi logicamente interrompido, e ninguém no estádio ou em frente à televisão esperava que fosse retomado.

Exceto... o delegado não delegou (quem dera...), e veio explicar "um doliprane e o jogo recomeça". Segundo o próprio fiscal de linha, ele explica. Assim, nem o delegado nem a Liga tomam a decisão, mas sim o próprio fiscal de linha. Quando se trata de assumir a responsabilidade, acima de tudo, o mais importante é deixá-la para os outros.

Se tivesse havido outro incidente, o jogo teria sido interrompido de vez. Pelo menos, era o que dizia a mensagem no ecrã gigante. E se tivesse sido esse o caso, a culpa seria do próprio fiscal de linha, porque era a sua vontade. Mas o facto é que isso nunca deveria ter sido uma possibilidade, porque este jogo nunca deveria ter sido reiniciado.

Tudo isto três dias depois de a FFF ter anunciado (rufem os tambores) uma parceria com as forças de segurança do país. O objetivo: proteger os árbitros. É incrível ver como tudo muda em três dias, mesmo que nos digam que a FFF e a LFP são duas entidades diferentes e que as decisões nem sempre são delas. Desculpas, palavras e, no final, são sempre os mesmos a levar com as culpas: os árbitros.

Passemos por cima dos comentários de alguns "consultores" para quem a paragem inicial do jogo nem sequer era necessária, para voltar aos factos: um árbitro profissional foi agredido durante um jogo. O jogo foi reiniciado, pelo que a agressão foi legitimada. É claro que um homem já foi detido, será punido em conformidade se for provada a sua culpa, e nunca mais verá o interior de um estádio. Mas ninguém quer admitir que se ultrapassou um limite.

Quais são as soluções? Ninguém quer apresentar nenhuma. Ninguém quer restringir os adeptos, com receio de que estes fujam. Ninguém quer tomar decisões, porque teria de assumir a responsabilidade se algo corresse mal. E, finalmente, ninguém se indigna.

"Não se pode castigar 40.000 espectadores por causa de um idiota". "São os riscos da profissão". "Se fosse grave, ele teria ido para o hospital. "O árbitro quis proteger o espetáculo". É isto que se vai ler para tentar justificar o injustificável. Se a Ligue de Football Professionnel tivesse assumido as suas responsabilidades e se tivesse permanecido de pé com as suas botas, já haveria mais hipóteses de o promover. Tudo começa de cima para baixo e, enquanto a governação falhar em qualquer área, nada correrá bem. Enquanto não chegar o grande dia, a mensagem é clara: "descarreguem no árbitro e o espetáculo continuará". Tal como o declínio do futebol francês.