"365 dias depois... de volta aos relvados. Foram dias de trabalho, paciência e fé. Um período em que aprendi a valorizar cada pequeno passo". Com estas palavras, Tiago Santos deixou as suas primeiras impressões após um longo caminho de regresso à competição contra o SK Brann na Liga Europa. Uma viagem em que o apoio da sua equipa e do seu staff, com a qual o Flashscore teve oportunidade de falar, foi crucial.
No dia 25 de setembro, Tiago Santos viu a luz ao fundo do túnel. Titular pela primeira vez no Lille desde 5 de outubro de 2024 (contra o Toulouse), o lateral-direito português voltou aos relvados após romper o ligamento cruzado anterior do joelho, lesão sofrida em 15 de outubro de 2024. O português jogou 87 minutos contra o SK Brann e fez uma assistência. Foi um regresso muito aguardado para o jogador, mas também para a sua equipa e staff, que o acompanharam durante 11 meses desde o primeiro dia.
Para um atleta, sofrer uma lesão tão grave pode levar a uma espiral descendente, especialmente a nível mental, em que cada passo se torna uma montanha intransponível. Depende também, inevitavelmente, do caráter de cada um e da forma como se enfrenta o obstáculo. Podemos estar rodeados de pessoas, mas só nós temos a chave para seguir em frente. E, nesse aspeto, o lisboeta destacou-se de imediato, assumindo a situação com a ideia, desde o início, de que voltaria mais forte. De facto, o primeiro pensamento de Tiago Santos foi perguntar à sua equipa quais as áreas em que poderia trabalhar para ser um melhor jogador no seu regresso.
Isso mostra bem a mentalidade do lateral formado no Sporting.
"Nos 20 anos que levo a trabalhar como mental coach de atletas de alta competição, fui confrontado com diferentes situações de gestão emocional. Mas com Tiago Santos, o trabalho foi francamente mais fácil. E isso deveu-se fundamentalmente ao perfil mental deste jogador, que tive o privilégio de apoiar desde 2019", explica Sérgio Guerreiro, o treinador mental do português, ao Flashscore.
"A primeira fase de um processo como este é a aceitação. E foi aí que tudo se começou a tornar mais fácil, porque o Tiago aceitou esta adversidade com muita maturidade, o que lhe permitiu abordar a fase seguinte, o processo de recuperação, de uma forma muito mais leve e focada", continua.
Tiago Santos, um trabalhador esforçado
A parte mais difícil já tinha passado para Tiago Santos. O passo seguinte era definir as linhas gerais de um plano meticuloso para voltar a ser o futebolista que todos conhecem. É aqui que entra em jogo a figura do seu mental coach, Sérgio Guerreiro, mas não só.
Gonçalo Santos, o seu irmão, é fisioterapeuta e acompanhou o jogador do Lille 24 horas por dia durante os 11 meses de recuperação. Gonçalo Magalhães, o nutricionista, também esteve presente para definir um plano alimentar rigoroso para a lesão sofrida. Finalmente, e acima de tudo, os pais do jogador, que, tanto em Lille como em Lisboa, nunca desistiram do português.
"Os objetivos individuais que tinham sido definidos na altura da lesão mantiveram-se inalterados, apenas os prazos foram ajustados", revela Sérgio Guerreiro. "Desta forma, o processo de recuperação estava diretamente ligado a um objetivo mais vasto que ultrapassava a própria recuperação. Esta estratégia ajudou-o a manter a sua identidade de futebolista, evitando que se sentisse menos jogador por estar imobilizado".
E para manter esta famosa identidade de jogador, teve de seguir uma dieta rigorosa, diferente daquela que se pode ter quando se está em grande forma.
De acordo com as diferentes fases do seu processo, Gonçalo Magalhães dividiu a dieta do jogador em quatro secções para o ajudar a preparar-se para o seu regresso da melhor forma possível: "A primeira fase foi a de cobrir as necessidades calóricas associadas à exaustão física causada pelas atividades envolvidas no processo de recuperação. Em seguida, ajustámos a dieta para minimizar o ganho de gordura e manter a massa muscular. Seguiu-se um ajuste nutricional com o objetivo de atingir o peso ideal para o regresso ao jogo. Por fim, tivemos de maximizar o ganho de massa muscular para atingir o equilíbrio total do corpo e dos ligamentos".
Tudo é calculado, tudo é meticuloso e todos os pormenores são importantes. Em todo esse suporte, a figura do irmão foi, portanto, essencial, como explicado acima. E permitiu que o mental coach Sérgio Guerreiro trabalhasse com o jogador o seu medo do contacto físico no regresso aos relvados. Um aspeto que deve ser tido em conta quando o jogador sofre este tipo de lesão: "Na fase final da recuperação, a ajuda do Gonçalo foi fundamental, pois ajudou-me a identificar os aspetos mentais que poderiam impedir o Tiago de recuperar o elevado nível de confiança a que estava habituado. Esta fase final do trabalho centrou-se sobretudo no desenvolvimento de estratégias mentais a aplicar em situações de alto impacto físico durante os últimos treinos antes do regresso à competição".
Assim, Tiago Santos regressou ao flanco direito do Lille da melhor forma possível. Basta ver o cruzamento que fez para Olivier Giroud contra o Brann, que deu início à campanha europeia do Lille.
O jogador publicou uma mensagem nas suas redes sociais após o jogo, descrevendo o caminho que percorreu, através da dor, da dificuldade e da frustração, até este passe decisivo. Tal como esperava, o português regressou mais forte. Nas próximas semanas, será lançado um documentário que retrata o longo túnel pelo qual o jogador do Lille passou durante onze meses.