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Textor ataca toda a Ligue 1 em entrevista explosiva com duras críticas a Nasser Al-Khelaifi

John Textor
John TextorBuda Mendes/Getty Images via AFP
Numa entrevista com o antigo jogador Jérôme Rothen, na RMC, John Textor, com a sua liberdade de expressão, atacou todo o ecossistema do futebol francês, incluindo os seus próprios apoiantes.

John Textor partilha o primeiro nome com Rambo, algo que até lhe assenta. Em entrevista ao programa Rothen s'enflamme, da RMC, o presidente do Olympique Lyonnais mostrou-se "eu contra o resto do mundo". Mas a impressão que deixa é calamitosa, e este delírio persecutório não pode ser apenas um lapso.

Para o também presidente do Botafogo, os problemas económicos que atingiram o Lyon têm vários culpados. A começar pela própria Direção Nacional de Controlo e Gestão da Liga Francesa (DNCG), que alegadamente não compreende a multipropriedade; o ex-presidente do clube, Jean-Michel Aulas que alegadamente, deixou um clube à beira da despromoção, o PSG que, alegadamente, se encontra numa situação ilegal devido aos financiamentos que recebe. 

O omnipotente Nasser Al-Khelaïfi, que considera Vincent Labrune, presidente da Liga francesa, o seu "cão de colo", os adeptos do OL, que não compreendem as vantagens do reconhecimento facial para poderem comprar "uma cerveja, uma Coca-Cola ou um cachorro-quente" sem tirar o cartão de crédito e continuar a ver o jogo, Bradley Barcola, que assinou pelo PSG, e os jornalistas que não sabem vender a Ligue 1.

Em suma, Textor quer gerir o futebol francês ao estilo americano. Solto das amarras, o dirigente teve algumas tiradas mirabulantes, nomeadamente no que diz respeito à cobertura mediática do campeonato.

"Temos de contar histórias. Porquê ver este jogo? Le Havre, por exemplo: onde é que fica? A Normandia? Como está o tempo? As raparigas são bonitas? O mesmo se passa com o Paris FC, comprado por um bilionário: quem é e com quem se dá ou não bem? A mulher do dono do Rennes é a Salma Hayek, por isso também devemos poder falar sobre isso. Fale-me das cidades, das pessoas e dos jogadores. A razão pela qual a NBA é tão boa é que faz isso muito bem, com a ligação entre desporto, roupa, música e cultura. Essa é a vibração. Devíamos fazer algo do género no futebol".

Textor nunca escondeu que é a favor da criação de uma plataforma de transmissão em vez de vender os direitos televisivos à BeIN Sport e à DAZN:

"O produto que mostramos ao mundo tem de ser sexy, e toda a gente adora a França também. Então, porque não podemos representar a França na televisão e na rádio? Porque o produto apresentado pela Liga na televisão é geralmente uma porcaria. Ninguém se interessa por ele, não ganhamos dinheiro com ele. Por isso, se o produto for melhor, talvez as pessoas o vejam", continuou.

Em suma, toda a gente o quer morto porque é norte-americano, porque não é Aulas nem Al-Khelaïfi. 

Eis uma seleção das melhores citações.

Sobre Jean-Michel Aulas: "Se eu não tivesse pago os 86 milhões na altura, o que teria acontecido? O Lyon poderia ter sido despromovido. Estou a ser tratado de forma diferente do Jean-Michel Aulas. O Aulas só podia fazer promessas de que tudo ia correr bem. Mas ninguém confia em mim se eu fizer o mesmo tipo de promessas".

Sobre o PSG: "Quero ajudar as pessoas a compreender o valor do timeshare. Acho obsceno que a DNCG não nos dê crédito, porque o financiamento que concedemos ao Lyon é legal ao abrigo da legislação europeia. O dinheiro do PSG vem de um Estado estrangeiro, subsidia ilegalmente uma empresa privada e distorce o interesse desportivo. É ilegal! A DNCG e a Liga aceitam esta violação do direito europeu. Assim, o PSG pode dar-nos uma tareia em campo todos os anos. Denegriram-me por ter apresentado um modelo diferente e outras fontes de financiamento".

Sobre Nasser Al-Khelaïfi e Vincent Labrune: "Não tinha consciência da proteção institucional de que goza um certo clube e do poder de uma certa pessoa sobre organismos como o Tribunal de Contas Europeu e a UEFA. Em julho, fiquei completamente chocado porque estávamos a falar de direitos televisivos e o presidente da Liga, que deveria liderar os debates, não disse praticamente nada... Foi Nasser que conduziu os debates, quando nem sequer devia estar presente, na qualidade de diretor de um canal de televisão diretamente envolvido nos debates. Se houvesse uma voz discordante, Nasser Al-Khelaïfi "ladrava" a essa pessoa, e havia também muita intimidação. O Presidente da Liga limitava-se a ficar sentado, sem dizer nada, como um cãozinho de colo".

Sobre a DNCG: "A Liga é dominada por este homem de uma forma louca. E isso é algo de que eu não estava ciente. A influência do PSG na Liga e até no DNCG é algo que merece ser analisado com mais atenção. É natural que o diretor do DNCG fique furioso, mas existe uma forma de impropriedade e o DNCG tem de ser particularmente cuidadoso para manter a sua independência em relação à Liga".

Sobre Bradley Barcola: "Quando cheguei, havia três jovens jogadores da nossa academia que queriam sair. Eram simpáticos, falei com eles, mas falavam do OL como um clube de formação. Isso era um disparate. Quero jogadores que queiram jogar na equipa e competir connosco no campeonato. Se os jovens da nossa academia querem jogar no PSG, deixem-nos ir! Quero que sonhem em ser o próximo Juninho, Benzema ou Fekir. Não tive qualquer problema em aceitar os 45 milhões de euros do homem encantador de Paris por um jovem jogador que já não queria estar aqui. Quero construir uma equipa para que possa ser campeã. Isso foi diferente. Por isso, mantenho que vender os melhores jogadores ao PSG não é o nosso modelo".

Sobre o reconhecimento facial no estádio: "Quando cheguei ao Lyon, até os adeptos sabiam que eu vinha do mundo do espetáculo e do digital. Foi colocada uma faixa a dizer 'Textor, não queremos reconhecimento facial'. No Brasil, estamos a usá-lo e fizemos dele uma das chaves do nosso sucesso e, de certa forma, a pedra angular do projeto. Os rostos de todos os nossos membros foram digitalizados. O rosto torna-se o bilhete de entrada, pois é digitalizado à entrada do estádio. E muito em breve, graças ao rosto, será possível comprar uma cerveja, uma Coca-Cola ou um cachorro-quente à velocidade da luz, sem tirar o cartão de crédito. Assim, poderá pagar rapidamente e continuar a ver o jogo. Graças ao scanner facial, podemos trazer os adeptos para as nossas comunicações digitais e redes sociais. Podemos trazê-los para os jogos de vídeo... Esta é a geração selfie. No Brasil, as pessoas adoram este tipo de coisas e querem experimentá-las. Mas no meu estádio, em França, recebo cartazes contra. Talvez seja preciso educar um pouco mais. Tenho de ensinar aos nossos adeptos que estas novas tecnologias podem ser apreciadas e trazem mais segurança. Quem é que vai começar uma luta se souber que existe reconhecimento facial? Quem é que vai cantar cânticos racistas ou nazis? Não sei como é que isto pode ser adaptado a França, mas há formas de fazer algo interessante".