"Tive de reforçar os índices de confiança"
- Já passaram algumas horas desde que foi confirmada a subida de divisão, como está o seu coração?
- Mais do que feliz pelo que foi conseguido, sinto-me aliviado. Sentia que tinha esta obrigação para com as pessoas que me deram tudo. E não falhei. Senti alguma responsabilidade pelo nosso "insucesso" do ano passado e fico feliz por ter conseguido. Não estou satisfeito por mim, mas sim pelos meus.

- Em entrevista ao Flashscore antes do arranque da fase de subida, o Agostinho tinha dito que queria evitar que este fosse o 3.º ano de frustração. Sentiu esse peso nas últimas semanas?
- Sou um ser humano como outro qualquer e sabia que a ansiedade estaria sempre presente no meu subconsciente. Carregávamos uma expectativa muito grande pelo que tínhamos feito na primeira fase e nos últimos dois anos. Óbvio que não tinha influência, mas sentia esse peso. Por isso, para além dos lados técnico e tático tive de trabalhar o lado emocional e retirar a responsabilidade. Não éramos mais responsáveis do que os outros. Sentia que tinha esta obrigação quando não a tinha e sinto-me aliviado.
- A fase de subida não começa da melhor forma e chega a estar a nove pontos do Lusitânia de Lourosa, uma equipa que acaba por ficar abaixo do Felgueiras. O que foi feito para mudar o rumo dos resultados?
- Não fiz nada de especial. Tive apenas de reforçar os índices de confiança aos mais céticos para que eles não baixassem. Quem ouviu as minhas declarações no final do jogo contra o Lusitânia de Lourosa (1-0) vai perceber o que estou a dizer. Eu disse que estava mais confiante de que íamos subir após o jogo do que antes dele começar. Fizemos um jogo extraordinário e o resultado foi muito injusto. Sabíamos que não há mal que dure para sempre e que as coisas podiam mudar.
Nas primeiras jornadas a qualidade do nosso jogo não era proporcional aos resultados. Estavam lá todos os índices ofensivos, faltava a eficácia. Mais tarde ou mais cedo, se continuássemos a acreditar e a trabalhar, as coisas podiam virar. E foi o que aconteceu. Não fiz mais do que fazíamos no início da época.

- O Felgueiras não dependia apenas de si na última jornada para conseguir a subida direta. Como viveu esse dia?
- O Felgueiras sempre dependeu de si para subir de divisão, ainda que, em alguns momentos, não fosse a subida direta. A mensagem foi sempre essa: somos capazes de bater-nos contra qualquer adversário e vamos fazer o nosso trabalho. Se me perguntar se acreditava? Acreditava. Se achava ser o cenário mais provável? Não. A minha mensagem na última semana nunca foi de me preocupar com o outro jogo (SC Braga B-Atlético), até porque nunca acreditámos seriamente nessa possibilidade. O foco era ganhar o jogo para ir ao play-off.
Sendo sincero, antes do jogo se me tivesse dado o play-off eu teria assinado por baixo. A minha mensagem foi esta: "Se ganharmos o nosso jogo dependemos sempre de nós para subir. Depois vemos o que acontece". Só me comecei a preocupar com o outro jogo por volta do minuto 80, quando houve um festejo dos adeptos do Felgueiras. Perguntei o que se passava à minha equipa técnica, porque pensei que pudesse ter sido um golo do Atlético, mas disseram-me que o Flashscore tinha dado um golo ao SC Braga B e retirou-o depois. Foi aí que comecei a virar mais o meu coração para lá. Tinha o meu jogo praticamente controlado e a partir daí já não estava a ver nada.

"Nos últimos jogos consegui perceber ainda mais a grandeza do clube"
- Assim que tudo termina, como foi olhar para as pessoas que tanto esperavam por este momento? Foram 19 anos de espera...
- Fico muito feliz pelas gentes de Felgueiras e pelas pessoas que fizeram com que o clube tivesse a grandeza que tem, mas naquele momento fiquei muito feliz pelos meus: a minha equipa técnica, os meus jogadores e a minha família. Mas sei o que eles (adeptos) sofreram ao longo deste tempo.
É um prémio justíssimo. Independentemente do que acontecer no futuro, ninguém vai apagar esta alegria. Ficamos na história do clube. Sei que vamos ser recordados como a equipa que em 2024 subiu às ligas profissionais e não sou insensível a isso. Mas como disse anteriormente, mais do que feliz, sinto-me aliviado por conseguir retribuir tudo o que o clube me deu.
- Agora com alguma distância temporada, como recorda o regresso a Felgueiras?
- Uma felicidade indescritível. Imagine a alegria de um golo. Agora é transformar isso em 7, 8, 9... 10 horas. É como se estivessemos sempre a marcar golos. Nos últimos jogos consegui perceber ainda mais a grandeza do clube. Chegamos perto da meia noite e ver a quantidade de crianças que estavam felizes à nossa espera... Saber que contribuímos para que o futuro seja melhor e que as crianças tenham o gosto e amor pelo clube da terra, claro que nos sentimos satisfeitos. Mais do que história, é muito bom saber que somos o exemplo e vamos ficar na cabeça destes jovens. É um sentimento de dever cumprido.

- O Agostinho já teve inúmeros grupos de trabalho. O que fez deste tão especial para conseguir a subida?
- Sou muito sincero. Só tive dois grupos no Felgueiras e não vou dizer que este é melhor do que o do ano passado. O ano passado tinha um grupo extraordinário e não era nada inferior no que é a essência do ser humano. Sou treinador principal há 14 anos e, felizmente, tenho tido grupos muito bons. Tenho grandes jogadores, mas são muito melhores como seres humanos. E não digo isto de forma negativa. Não são os melhores jogadores do mundo, não são Messis nem Ronaldos, mas como homens tenho a certeza que são melhores que eles. Sempre disse que tinha orgulho nos meus jogadores e agradeço muito o que fizeram. Só os grandes grupos é que conseguem vencer campeonatos.

"O meu coração e gratidão estão com o Felgueiras"
- Conhecendo a realidade, sente que o Felgueiras está estruturalmente preparado para este regresso à Liga 2?
- Neste momento, ainda não está preparado. O Felgueiras subiu do Campeonato de Portugal à Liga 2 em três anos e a diferença entre as duas competições é muito grande. Temos o exemplo do Vilaverdense e do Belenenses que subiram e desceram rapidamente. As dificuldades vão aumentar e as exigências vão ser outras. Agora, o Felgueiras tem capacidade, mas tem de ter a humildade de perceber para onde vai. Acredito que, dessa forma, terá capacidade para se sustentar na Liga 2 e depois em pensar em mais qualquer coisa.
- E o que lhe vai na cabeça em relação ao seu próprio futuro?
- Não sei qual vai ser o futuro. Eu e o presidente ficámos de nos sentar esta semana e vamos ver o que é melhor para ambos. Da minha parte, o importante é o Felgueiras. Estou feliz, mas sou treinador de futebol e estou aberto a qualquer convite e projeto, embora sublinhe que o meu coração e a minha gratidão estão com o Felgueiras. Se tiver projetos semelhantes em mãos darei sempre prioridade ao Felgueiras. Em 14 anos só não acabei um ano e só tive três clubes, até porque sou uma pessoa de gratidão, acima de tudo.
Se entenderem que o projeto não passa por mim irei à minha vida e o Felgueiras irá à sua. A minha relação com o presidente é extraordinária e da minha parte não há nenhum obstáculo em relação ao futuro. Eu quero ser feliz onde me sinto feliz e quero um projeto ambicioso.