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"Gostaria muito de trabalhar nas ligas espanhola ou alemã"
- Como é que começa a ligação ao futebol? O que é que o motivou a enveredar pela carreira de treinador?
Antes de mais, agradeço o privilégio desta entrevista. Iniciei o meu percurso no futebol aos cinco anos, no União Sport Clube de Paredes. Mais tarde, na formação, passei pelo FC Porto e pelo Penafiel. Já nos seniores, joguei novamente no Paredes e no Vila Meã.
Depois, acabei por passar para o futsal e foi aí que comecei verdadeiramente a minha caminhada como treinador, na formação do Penafiel, com os “Peninhas”. Mais tarde, estive no Paços de Ferreira e no Paredes, e foi aí que começou a minha aventura como treinador.
Na altura, fui muito influenciado pela dinâmica que o Rui Quintas tinha implementado no Paredes, onde os jogadores eram também treinadores. Foi aí que nasceu o gosto e a paixão por ser treinador.
Mais tarde, quando estava nos juniores do Paredes, surgiu o convite para integrar a equipa sénior, num ano em que o clube estava praticamente em risco de extinção. A convite do presidente Manuel Cardoso, e com a ajuda de várias pessoas, fomos reformulando o clube.
Depois entrou o Pedro Silva, o presidente que deu continuidade a esse trabalho. Reformulámos a estrutura, levámos o clube a outros patamares e conseguimos reorganizá-lo. Criámos várias estruturas e hoje o clube está numa dimensão claramente diferente. Acho que esse foi um legado importante que deixei, tanto na organização como na influência que tive no crescimento e no entusiasmo do regresso dos adeptos ao clube.
- Como é que descreve a sua filosofia de jogo?
A nossa filosofia de jogo é clara: procuramos uma construção variada a partir de trás, sempre à procura de vantagens numéricas, espaciais e posicionais. Queremos encontrar espaços e jogadores livres que nos permitam progredir no terreno para chegar naturalmente à zona de finalização e ao golo.
Defensivamente, gostamos de recuperar rapidamente a bola e somos muito rigorosos no posicionamento e na organização defensiva. Somos uma equipa pressionante, agressiva e que gosta de um jogo rápido, com transições ofensivas eficazes. Em suma, a nossa filosofia baseia-se nestes princípios: intensidade, organização e ambição ofensiva.
- O que é que ambiciona ainda alcançar como treinador? Onde é que se vê nos próximos anos?
- Espero, nos próximos dois ou três anos, chegar às ligas profissionais e, a partir daí, estabilizar e continuar a progredir. Tenho também o sonho de treinar no estrangeiro. Gostaria muito de trabalhar nas ligas espanhola ou alemã - são as que mais me identificam. Trabalho diariamente com esse sonho e esse objetivo, com foco e uma confiança enorme de que se vai concretizar.

"Procuro sempre liderar pelo exemplo"
- Na sua opinião, quais são as principais qualidades do plantel do Amarante para esta temporada?
As principais qualidades da equipa do Amarante são, sem dúvida, a juventude e a ambição. Temos como principal característica um plantel jovem, construído praticamente de raiz - uma rutura total com o passado, fruto da valorização e consequente saída de quase todos os jogadores para outros patamares.
A direção reconstruiu o grupo seguindo uma filosofia semelhante à dos últimos anos: apostar em jovens oriundos de divisões inferiores, com vontade e ambição de aproveitar a oportunidade para crescer, ganhar visibilidade e evoluir. Acredito que essa ambição, própria da juventude, é a grande força deste plantel.
- Que tipo de liderança procura exercer no balneário? Prefere uma abordagem mais próxima do jogador, mais carinhosa ou mais disciplinadora?
Procuro sempre liderar pelo exemplo. Naturalmente, com uma exigência máxima no dia a dia, baseada no respeito mútuo, no compromisso total e em objetivos bem definidos. Valorizo os hábitos de trabalho e o rigor em todos os detalhes.
Ao mesmo tempo, gosto de estar muito próximo dos jogadores, porque acredito que essa ligação favorece o crescimento individual e, consequentemente, o coletivo. Procuro conhecer bem cada um - os seus defeitos e virtudes - e colocar tudo isso ao serviço do grupo. É assim que se constroem equipas focadas num objetivo e num propósito comuns.
- Há algum treinador que o tenha influenciado na sua carreira até ao momento?
Sim, são vários os treinadores que admiro e que me influenciam. Procuro estar atento ao que vão transmitindo e aprendendo constantemente com eles.
Acho que todos os treinadores portugueses foram, de alguma forma, influenciados pelo que José Mourinho conquistou e pela forma como revolucionou o futebol. Também Jorge Jesus teve um papel marcante.
Identifico-me muito com a escola alemã, com Klopp e Tuchel, pela intensidade, pela mentalidade e pela capacidade de inovação. Admiro também o Luís Enrique, pela procura constante de novidade e pela estrutura tática que utiliza, cheia de dinâmicas interessantes.
A liderança de Alex Ferguson é outra referência: a forma como geria grupos e mantinha a exigência ao longo dos anos é algo com que me identifico bastante.
E, claro, é impossível não reconhecer o impacto de Pep Guardiola. A sua criatividade, a forma como se adapta aos contextos e a capacidade de inovar com e sem bola influenciam todos nós. Ele é, sem dúvida, uma das maiores fontes de inspiração no futebol moderno.

"Cada vez mais se percebe que a tecnologia é útil e necessária"
- Quais são os principais desafios de treinar na Liga 3?
A Liga 3 é extremamente competitiva. É uma liga curta, um campeonato exigente, onde cada ponto é muito difícil de conquistar.
Julgo que o maior desafio da Liga 3 é a disparidade de orçamentos e de estruturas que existe. Falamos de uma liga semiprofissional - praticamente profissional - mas ainda com muitos recursos amadores e infraestruturas longe do ideal. Há uma diferença muito grande entre clubes, não só nos orçamentos, mas também nas condições de trabalho e organização.

Naturalmente, essa diferença existe em todas as ligas, mas quanto mais abaixo vamos, mais acentuada se torna. E é nesse contexto que temos de fazer o melhor possível com o que temos, procurando competir com realidades bastante distintas, num campeonato onde cada ponto vale ouro, sobretudo tendo em conta a fase final, que reduz pontuações e torna tudo ainda mais competitivo.
Existem também algumas regras que limitam o recrutamento. São regras interessantes, que protegem o jogador português - o que considero muito positivo -, mas que, para clubes com condições mais limitadas, tornam o processo de reforço do plantel ainda mais difícil e exigente. No fundo, o grande desafio é esse: competir com menos recursos, mas com a mesma ambição.
- Como é que vê o papel das novas tecnologias, principalmente da inteligência artificial, na análise, na preparação e até durante o jogo?
Sou muito claro em relação à tecnologia: ela deve servir o processo, não complicá-lo. Tudo o que possa ser usado com conhecimento e critério para ajudar na recolha, análise e partilha de informação com a equipa deve ser aproveitado.
A tecnologia é uma aliada se for usada para aumentar o conhecimento dos jogadores e potenciar o seu rendimento individual e coletivo. O nosso objetivo é preparar melhor a equipa do que os adversários e quem tiver ferramentas à disposição e não as utilizar está, na minha opinião, a cometer um erro grave.

A procura constante de inovação agrada-me. Estar à frente, inovar, é também uma forma de liderar, de motivar e de acrescentar conhecimento aos jogadores. Sempre fui obcecado por isso, pela inovação em várias áreas, mesmo sem os recursos ideais. Ainda hoje, por exemplo, não temos GPS’s, o que considero essencial numa competição como a Liga 3.
Acredito que quem tiver maior capacidade para usar a inteligência artificial a seu favor estará mais bem preparado. Isso não garante o sucesso, quem trabalha melhor não tem o sucesso assegurado , mas certamente fica mais próximo dele.
Quem procurar e souber tirar partido dessas ferramentas, de forma consistente e inteligente, vai crescer, preparar-se melhor e atingir patamares mais elevados. Cada vez mais se percebe que a tecnologia é útil e necessária. As equipas que a souberem integrar mais rapidamente serão as que vão evoluir mais depressa.