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João Nuno (Belenenses): "Temos de assumir-nos como candidatos devido à nossa história"

João Nuno, treinador do Belenenses
João Nuno, treinador do BelenensesOs Belenenses
Após 180 jogos realizados na fase regular da Liga 3, oito das 20 equipas garantiram um lugar na fase de subida. No grupo norte, seguem em frente Lusitânia de Lourosa, Varzim, Fafe e Amarante; no sul, Atlético, 1.º Dezembro, Belenenses e Sporting B. Agora, restam 14 jornadas para decidir quais os dois clubes que vão alcançar a promoção direta à Liga 2, além da equipa que ainda terá uma oportunidade no play-off.

Em vésperas do arranque da fase de todas as decisões, o Flashscore ouviu os treinadores que vão lutar pela subida de divisão. Seguimos com João Nuno, treinador do Belenenses.

"Começa outro campeonato e a música vai ser diferente"

- O João esteve no 1.º Dezembro durante a primeira fase da temporada, mas acredito que tenha acompanhado o trajeto do Belenenses durante esse percurso, até porque estavam na mesma série. Justifica-se esta presença do Belenenses no play-off de acesso à Liga 2?

- Acompanhámos claramente. Foi uma série de jogos muito competitivos e equilibrados. Sabia que seria até perto do final para quase todos os apuramentos, devido ao grande equilíbrio. A análise do Belenenses, vista de fora, é que começou bem a primeira fase, depois empatou muitos jogos e os adversários começaram a aproximar-se, mas conseguiu alcançar o objetivo. A partir de agora, começa outro campeonato e a 'música' vai ser diferente. (...) A Académica, um clube histórico, por exemplo, não conseguiu o apuramento.

- A ideia que criamos nem sempre corresponde à realidade. Está satisfeito com aquilo que encontrou no clube?

- Estou muito agradado com o grupo que tenho pela frente, um grupo motivado e aberto a receber novas ideias. É um bom grupo. Notava-se a determinação, independentemente de jogarem bem ou mal, e o mérito era do treinador que estava. Em treino, conseguimos ver algo que não tínhamos tanto conhecimento, mas estou muito agradado com a postura dos jogadores e sinto-os motivados. Estou feliz por encontrar um grupo assim, porque o primeiro passo para que as coisas corram bem é ter um bom grupo de trabalho. Por isso, sim, gostei do que encontrei aqui.

- Volta tudo ao zero em termos de pontos. Muda algo em termos de preparação?

- Vamos começar a demonstrar isso na sexta-feira. Estou muito confiante na reação dos jogadores. As ideias não são melhores nem piores, mas são totalmente diferentes das que estavam antes, e agora é começar a pôr a minha marca e as minhas ideias em prática já a partir de sexta. Queremos uma equipa pressionante, a jogar e a querer ter a bola, a mandar no jogo. Esse é o nosso objetivo para o Belenenses. Queremos um jogo com o qual os adeptos se identifiquem. Uma equipa ambiciosa e corajosa. Vamos tentar transmitir isso neste curto espaço de tempo, mas aqui não há tempo para desculpas. Temos de preparar o jogo.

A forma recente do Belenenses
A forma recente do BelenensesFlashscore

"Dei um passo em frente na minha carreira"

- O que espera desta fase?

- Jogos altamente competitivos, quem faz o Totobola... o equilíbrio é muito grande. Espero equipas muito competitivas, e tudo se pode decidir perto do final. Espero que o Belenenses consiga afastar-se o mais rapidamente possível dos adversários, o que seria um bom sinal.

- Qual será a abordagem para esta fase. A margem de erro é curta...

- A competição não é assim tão curta, são 14 jogos. Não adianta muito sermos competitivos na 1.ª ou 2.ª jornada e depois não conseguirmos continuar o caminho. As equipas que vão subir serão aquelas que conseguirem ser consistentes. São 14 finais, temos de encarar dessa forma, para ganhar todos os jogos. Vai haver momentos em que vamos ter de sofrer juntos e outros em que teremos de assumir e ir para a frente.

- Falamos sempre muito de favoritos e candidatos. Qual a sua visão sobre este tema?

- O Belenenses na Liga 3 tem de ser sempre candidato. Não podemos vir com histórias. É óbvio que todos começam do zero, mas todos estão com o mesmo pensamento. Já ninguém desce de divisão, agora é lutar pela subida. Temos de assumir-nos como um dos candidatos, devido ao nosso peso e à nossa história, e foi também por isso que aceitei este projeto: pela responsabilidade boa de lutar pela subida de divisão, com todo o respeito pelo 1.º de Dezembro, a quem agradeço muito e onde fui muito feliz. Mas o 1.º de Dezembro não tem essa responsabilidade nesta fase, pois só tinha como objetivo a manutenção, e superámos claramente as expectativas. Como eu também quero subir na carreira, encontrei um projeto que também quer crescer, e estamos em sintonia. Quero muito chegar a ligas profissionais, e o Belenenses também, portanto estamos alinhados.

Os próximos jogos do Belenenses
Os próximos jogos do BelenensesFlashscore

- Era impossível dizer 'não' ao Belenenses?

- As pessoas são livres de não compreender, muitas vezes sem conhecer a realidade da história. O Belenenses faz pensar. É um dos clubes com mais história de Portugal, e quando te chamam para assumir, isso deixa-te sempre a pensar. O que me fez aceitar foi quando senti que havia muita confiança no meu trabalho e que íamos conseguir o objetivo, muito focados em voltar a colocar o clube nas ligas profissionais. Senti que, do outro lado, com todo o respeito, já tínhamos chegado ao topo. Era impensável, quando cheguei ao 1.º de Dezembro, chegar a este ponto. Cumpri tudo o que foi pedido, e apareceu este clube com outro tipo de objetivos. Dei um passo em frente na minha carreira. Saí da melhor forma do 1.º de Dezembro, com todo o respeito pelos adeptos e jogadores, mas senti que estava na hora de dar este passo, para mim e para a equipa técnica. Gostamos do projeto e da forma como fomos abordados. 

Sair de um grupo no 1.º de Dezembro foi uma decisão muito difícil, mas temos de tomar decisões na vida. Quando fui para o 1.º de Dezembro, recebi várias chamadas a aconselharem-me a não aceitar, pois estávamos em último e íamos descer, e, um ano depois, estamos na fase de subida. Acredito muito no que faço e acredito que vai correr bem.

- Trata-se de um capítulo novo na sua carreira. Como espera daqui a uns anos estar a olhar para ele?

- Tentar ser igual ao que o João foi, independentemente da dimensão, criando um lado humano em que as pessoas se possam rever no líder. A responsabilidade é grande por ser treinador do Belenenses, e espero olhar para trás, mais à frente, e ver que foi muito bom para mim e para o clube. Assinei por um ano e meio para voltar a meter o Belenenses nos campeonatos profissionais.

Os adeptos do Belenenses no apoio à equipa
Os adeptos do Belenenses no apoio à equipaOs Belenenses

"Vir ao Restelo tem de ser um prazer"

- Que análise faz à Liga 3?

- É uma equipa que promove muitos treinadores e jogadores, com muita visibilidade. O Canal 11 ajudou muito na dimensão que dá ao campeonato. É uma oportunidade excelente para todos. A competição é boa, tem clubes com muita história, como é o caso do Belenenses, e onde esperamos grandes jogos. Vai ser muito interessante para quem está de fora, para quem gosta de futebol. Muita gente vai errar nos seus palpites. Vai ser muito competitivo.

- Que mensagem quer deixar para os adeptos do Belenenses?

- Espero o apoio de sempre. O que eu senti do outro lado, quando defrontava o Belenenses, é que isso é um ponto muito forte. Jogar no Restelo não é fácil para ninguém, mesmo fora parece que se joga em casa. Sinto que não vai faltar apoio, pois os adeptos gostam e querem ver a equipa a responder, e vai ser nossa responsabilidade juntar isso ao nosso lado. Se os adeptos se reverem em nós, acredito que vamos formar uma onda azul muito positiva que vai encher muitos campos. Agora temos de dar o primeiro passo e chegar ao adepto, por isso a responsabilidade é nossa. Temos de fazer por eles. Eles têm de se rever na equipa e vir ao Restelo tem de ser um prazer. Temos uma clara vontade de ganhar. Precisamos de sentir o apoio já na sexta-feira, e, em casa, tem de ser muito difícil ganhar ao Belenenses.

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Entrevista de Rodrigo Coimbra
Entrevista de Rodrigo CoimbraFlashscore