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Com várias experiências e títulos acumulados, Popovic deixou uma equipa de Liga dos Campeões para cumprir o desejo de voltar para o 'seu' Portugal, abraçando um desafio no terceiro escalão.
Regressou, viu e colocou a formação de Alcântara no play-off de subida da Liga 3, que colocou o foco (também) em si: afinal, quem é Nikola Popovic?

"A minha vontade é trabalhar em Portugal ao mais alto nível"
- Para quem não está familiarizado e houve apenas o nome Nikola Popovic, dificilmente percebe que estamos perante um treinador com nacionalidade portuguesa. Explique-nos a ligação ao nosso país.
- Vivo em Portugal desde os três anos. Nasci na antiga Jugoslávia, em Belgrado, mas toda a minha vida foi construída em Portugal. Apesar de falar várias línguas, a minha língua é o português. Talvez muitos dirigentes não soubessem disso, e, por isso, muitos dos convites que recebi foram para o estrangeiro.
- Costuma dizer-se que somos o conjunto das nossas vivências. O Nikola trabalhou em 10 países, de que forma é que todas essas experiências moldaram o seu estilo?
- Foi uma experiência muito enriquecedora. Tive a sorte de trabalhar com três metodologias diferentes e a oportunidade de aplicar todas elas. Trabalhei com treinadores com estilos distintos: uns mais ofensivos, outros mais defensivos. Tive a oportunidade de aprender com treinadores de origem italiana, o que contribuiu para o meu desenvolvimento nessa fase. Mais tarde, trabalhei com treinadores portugueses, em contextos mais ofensivos.

Em termos de liderança, convivi com ex-jogadores que foram capitães nas melhores ligas do mundo, o que também contribuiu para o meu crescimento. A passagem pelo Benfica, com a sua forte cultura, teve um impacto significativo.
No fundo, sou um produto de todas as experiências enriquecedoras que vivi em vários continentes. O contacto com diferentes culturas e a oportunidade de treinar com diversas personalidades permitiram-me chegar até este momento e aplicar tudo o que fui aprendendo ao longo destes anos de trabalho.
- O Atlético dá sinais de ser uma equipa muito camaleónica, capaz de se adaptar aos vários contextos. Acaba por ser fruto também daquilo que viveu enquanto treinador?
- Fiz o play-off da Liga dos Campeões e depois vim para a Liga 3. A diferença é abismal. Isto para dizer que a capacidade de adaptação é fundamental na vida. A nossa equipa do Atlético tem essa capacidade de se adaptar ao que tem pela frente. Queremos que a equipa saiba quando é preciso arregaçar as mangas e vestir o fato de macaco. Há campos onde não dá para jogar da forma que gostaríamos, e, por isso, temos de nos adaptar.

"Há uma visão e um caminho definido no Atlético"
- O que motivou o seu regresso a Portugal após vários anos no estrangeiro?
- Quando me apresentaram o projeto, pareceu-me um projeto sério, com cabeça, tronco e membros, e uma ideia clara. Percebe-se que há uma visão e um caminho definido.
Já tive algumas experiências aqui em Portugal e queria voltar, mais por razões familiares, mas também para experimentar novamente a Liga. Surgiu esta oportunidade e, sendo o futebol português o que mais me cativa, é um dos campeonatos de que mais gosto. A minha vontade é trabalhar aqui ao mais alto nível.
- Satisfeito com a decisão que tomou?
- Temos de dar 100% em tudo o que fazemos. Estou muito feliz onde estou e tento dar o máximo todos os dias. É isso que exijo aos meus jogadores: que, diariamente, sejam capazes de dar o seu melhor, porque só isso nos pode levar a um grau de excelência. Sinto-me confortável onde estou.

- O Nikola acredita que o que tem feito no Atlético mudou a perspetiva que as pessoas tinham sobre si? Ou despertou o interesse de quem não o conhecia para o seu trabalho?
- Não me preocupo muito com isso. Da minha parte, sou o mesmo que era há seis meses. Vou ser sempre uma pessoa que dá o máximo. Sou um produto das minhas experiências. Quem tem de analisar são os especialistas e os adeptos. A mim, cabe-me dar o máximo.
- Entre os muitos nomes com quem se cruzou ao longo da sua carreira, consegue apontar um nome que tenha sido mais marcante?
- Seria injusto destacar apenas um, considerando todos os treinadores com quem trabalhei. O Guardiola dizia que os treinadores são ladrões de ideias, e todos os treinadores por onde passei me influenciaram, seja de forma positiva ou negativa. É óbvio que o Stankovic, que teve o Mourinho e o Gasperini como treinadores, foi um dos que mais me marcou e de quem retirei muita coisa.
Mas não foram apenas os treinadores que me influenciaram, também os jogadores tiveram um papel importante: Miguel Veloso, André Marques, Pereirinha, Saleiro, André André, Luís Neto, Agra, Ukra, Candeias, Renato Sanches… tantos. Todos influenciam um pouco.

"Às vezes, não damos tanto valor ao que temos em Portugal"
- Que marca quer deixar no futebol?
- O que procuro sempre é a paixão. Sou apaixonado por futebol e quero que as minhas equipas mostrem esse prazer de jogar. Não apenas para quem está em campo, mas também para quem se senta a assistir.
- Considera o futebol português um bom produto?
- O futebol português está saudável. Conseguimos exportar para vários mercados e é visto como algo muito precioso. Temos excelentes treinadores, excelentes jogadores, que são vendidos por milhões, e temos três ligas muito fortes. É uma delícia ver a qualidade que se mostra em campo.

O Santa Clara, por exemplo, é um projeto fora da caixa… O Casa Pia, com um treinador que estava na Liga 3, também é outro exemplo positivo. Tudo isso é muito bom para o futebol português. Às vezes, não damos tanto valor ao que temos, mas é preciso sair para fora para perceber que o que temos aqui tem muito valor.
- E qual o estado de saúde do Atlético?
É um clube em construção, com um grande esforço para criar alicerces sólidos. Há um grande esforço para que, em breve, as coisas corram bem e o clube encontre o caminho que se pretende, para o levar aos palcos onde merece estar.