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Opinião Liga 3: Como Goba Zakpa desbloqueou um duelo disputado pelos treinadores

Cerca de quatro mil pessoas assistiram ao jogo em Lourosa
Cerca de quatro mil pessoas assistiram ao jogo em LourosaLusitânia de Lourosa FC/Flashscore
Nesta rubrica assinada por João Daniel Rico, o treinador propõe-se a analisar um jogo de Liga 3 por semana até ao final da época. Nas palavras do próprio, procura sempre observar os detalhes que realmente fazem a diferença, focando o seu olhar, circunstancial e sem conhecimento do processo “por dentro”, na componente estratégico-tática e na forma como os treinadores agiram durante o jogo.

Lusitânia de Lourosa 1-0 Belenenses

Em Lourosa defrontaram-se os dois primeiros classificados da fase de Apuramento de Campeão da Liga 3. Eram. Já não são. Porque com a derrota e restante conjugação de resultados o Belenenses caiu para o 5.º lugar. Contingências de uma ponta final de campeonato que se espera extremamente competitiva e renhida. Basta atender que, nesta jornada, todos os jogos desta fase terminaram com o mesmo resultado: 1-0 ou 0-1.

Classificação da zona de apuramento de campeão da Liga 3
Classificação da zona de apuramento de campeão da Liga 3Flashscore

Vamos ao jogo

Equipas perfiladas de forma semelhante (4-3-3) à exceção do posicionamento no setor médio - Lusitânia em 1+2 e Belenenses em 2+1. Na prática, os visitantes abordaram o início de jogo de forma mais cautelosa e a falta de pressão à progressão dos defesas centrais (DC) ia permitindo aos da casa chegar com alguma facilidade, pelos corredores, a zonas de finalização. Fase inicial de grande ímpeto, com cruzamentos perigosos, livres laterais, lançamentos de linha lateral para a área e, sobretudo, conquistas da maior parte das bolas divididas.

Belenenses preocupado mais em fechar os caminhos “por dentro” e em aguentar essa entrada em jogo que se previa forte - nos últimos cinco jogos, em quatro deles o Lusitânia marcou antes dos 15 minutos. A partir os 20', o jogo mudou e já não foi o mesmo até final. O Belenenses subiu a pressão e condicionou mais a saída do adversário.  Mas sempre que não era possível jogar curto, os de Lourosa sabiam que tinha um plano B. 

Quem tem Goba Zakpa a segurar a bola, tem sempre um plano B. O costa-marfinense é um dos destaques individuais do jogo. Várias ações individuais de grande qualidade, mais longe ou mais perto da área, culminando com a assistência para o golo decisivo de Sérgio Ribeiro aos 58’. Esse terá que ser o momento do jogo, pois é dele que nasce o resultado final. 

Até ao fim da partida, foram os treinadores a jogar

João Nuno, técnico do Belenenses, foi o primeiro a mexer no tabuleiro. Primeiro, passando para um 4-4-2 para ter mais presença física na frente, juntando ao colombiano Camilo Triana outro avançado, Rodrigo Pereira. Respondeu Pedro Miguel, técnico do Lusitânia  de Lourosa, com substituições e adaptação estrutural para um 5-4-1 - linha de 5 defesas, 4 médios e 1 avançado.

Os azuis apertavam e Zakpa, já desgastado e muito sozinho na frente, chegava no apoio pela direita um “comboio” chamado Diogo Castro que, como lateral ou ala, por fora ou em movimentos interiores, encheu o flanco.

Até final, mais duas tentativas do técnico do Belenenses para inverter o rumo. Primeiro, colocando o médio Diogo Paulo a defesa central pela esquerda, de forma a ter progressão com bola pelo pé forte de ambos os DC. Processo de chegada à frente idêntico ao da fase inicial do jogo.

Depois, num último assomo, com a entrada de Gabriel Passos, outro DC, mas para avançado, terminando o jogo com três referências de alta estatura na frente e uma linha defensiva a três remendada. Com jogadores pelos corredores e praticamente sem médios. Era o tudo ou nada que se exigia. O objetivo era claramente fazer a bola chegar à área através de cruzamentos, uma vez que o adversário tinha o espaço central bem preenchido e os setores muito próximos.

Nestes momentos, o treinador espera que a “anarquia tática” seja equilibrada pelo carácter volitivo dos jogadores e que a audácia compense. Desta vez não chegou, mas teve perto.

Melhor em campo

Num jogo tão equilibrado, destacar um jogador para melhor em campo é sempre complexo. Ainda assim, pela forma como se impôs no jogo aéreo, pelas ações individuais de disputa, pela confiança para ter a bola e por ter jogado em três posições na linha defensiva, a escolha recai sobre Afonso Pinto, defesa do Belenenses de apenas 20 anos. 

Percurso de Afonso Pinto
Percurso de Afonso PintoFlashscore

No que à fase de subida diz respeito, ainda que possam pairar fantasmas da época passada, o Lusitânia de Lourosa tem já um pé na Liga 2. São já seis pontos de vantagem para o 3.º lugar para uma equipa que nos últimos 17 jogos perdeu apenas um…

A análise de João Daniel Rico
A análise de João Daniel RicoFlashscore