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Opinião: Foi para isto que se fez a Liga Conferência

Adeptos do Vitória SC no Benito Villamarín
Adeptos do Vitória SC no Benito VillamarínČTK / imago sportfotodienst / 900/Cordon Press
O Vitória SC saiu vivo de Sevilha e, mais do que isso, confirmou as suspeitas de que poderia conseguir o apuramento frente a um Betis com fortes argumentos, mas que irá certamente sentir dificuldades no D. Afonso Henriques. Além do espetáculo dentro das quatro linhas, que ditou um empate (2-2) que ainda podia ter tido mais golos, a partida entre vitorianos e béticos foi mais um atestado de que a Liga Conferência foi uma das melhores medidas tomadas pela UEFA nos últimos anos.

"Foi para isto que se fez o 25 de abril". A expressão portuguesa tem origem na Revolução dos Cravos, que ditou a queda da ditadura e o início da democracia, e faz todo o sentido quando nos referimos à Liga Conferência. No futebol europeu, nada é mais democrático do que esta competição.

Desde logo, os 15 países em 16 equipas representados nestes oitavos de final são um forte atestado à diversidade presente na competição mais recente criada pela UEFA, mas a representatividade não se fica pelo número de países em prova.

Apesar de ser uma espécie de terceira divisão europeia, a Liga Conferência vai, ano após ano, mostrando que talvez mereça outra atenção por parte do público em geral e até da própria UEFA.

Apesar da boa iniciativa na criação da prova, a própria organização negligenciou a mesma quando não se deu ao trabalho de encontrar um espaço livre no calendário, nem sequer um hino - por muito que goste do hino da Liga Europa, é, de facto, o hino da Liga Europa.

Há espaço para melhorar, claramente, mas não podia regressar a Portugal sem deixar uma nota globalmente positiva, um 16, se quiser que avalie a Liga Conferência de 0 a 20. É que foi precisamente para jogos como este Betis - Vitória SC que esta competição foi criada.

Leia aqui a crónica do Betis-Vitória SC

Rivais nesta eliminatória, a verdade é que há muitas parecenças entre estes dois emblemas. A saber: têm uma das massas adeptas mais fervorosas dos respetivos países, já tiveram fases negativas que levaram à descida de divisão, são respeitados pelos simpatizantes dos outros clubes e muitas vezes estão em segundo plano perante o sucesso dos rivais diretos (SC Braga e Sevilha). Por isso, um duelo como este, e logo na fase a eliminar, estava destinado a acontecer.

Apesar dos atrasos nos autocarros, os adeptos do Vitória SC deram espetáculo em Sevilha. Quase dois milhares presentes no Benito Villamarín que empurraram a equipa de Luís Freire num estádio onde muitas vezes só se ouvem os adeptos verdiblancos. Um espetáculo dentro do espetáculo.

Isto tornou o jogo especial, mas o Betis - Vitória SC foi bem mais do que um duelo entre adeptos apaixonados. Dentro das quatro linhas, houve ainda mais argumentos a favor desta Liga Conferência.

Nos bancos, Luís Freire fez a estreia europeia frente a um dos treinadores mais experientes e respeitados do futebol europeu, o chileno Manuel Pellegrini. No relvado, Isco espalhou magia, mas os jogadores do Vitória SC não se esconderam, bem pelo contrário. Tiago Silva continua a ser o maestro da equipa de Guimarães, que tem intérpretes que merecem jogar competições europeias - Tomás Händel, Nuno Santos e João Mendes (que golaço!), por exemplo, fora aqueles que saíram no mercado de inverno.

Se o topo da pirâmide do futebol europeu estava sem espaço para estes clubes, então que a Liga Conferência venha para ficar. Já protagonizou momentos marcantes como as conquistas de Roma e Olympiacos, as lágrimas dos adeptos da Fiorentina pelas duas finais perdidas e a estreia do Vitória SC em jogos a eliminar no século XXI.

Seja em Sevilha, Guimarães ou Atenas (outro grande jogo entre a equipa de Rui Vitória e a Fiorentina), se está a pensar sair de casa para assistir a um jogo europeu, aconselho-o a assistir a um jogo de Liga Conferência, mesmo que o hino seja o mesmo da Liga Europa.

A opinião de Hugo Filipe Martins
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