Roberto Martínez é uma pessoa dada a números. Em conferências de imprensa não hesita em lançar a carta, quer sejam as 10 vitórias no apuramento para o Euro-2024, os 42 jogadores já utilizados ou as 100 internacionalizações de Bernardo Silva para justificar a titularidade do médio do Manchester City.
Este domingo ao ultrapassar a Dinamarca com uma complicada vitória no prolongamento, e alcançar assim as meias-finais da Liga das Nações, Roberto Martínez atingiu outro marco redondo: 20 vitórias no comando de Portugal. Um registo que surge ao cabo de 28 jogos e exatamente dois anos depois da estreia (4-0 ao Liechtenstein, no arranque da qualificação para o Euro-2024, curiosamente também em Alvalade).
Um número impressionante, disso não há dúvida, mas com uma realidade subjacente a que não se pode fugir. Nestes 28 jogos, Portugal defrontou 17 adversários. Olhando para o atual ranking da FIFA, apenas dois fazem parte do top-20: França e Croácia. E nos quatro encontros com estes adversários, a Seleção Nacional venceu apenas um (2-1 à Croácia, no arranque da Liga das Nações). De resto, soma dois empates (considerando o nulo com a França nos quartos de final do Euro-2024) e uma derrota, num particular com os croatas.
Se alargarmos 30 primeiros do ranking FIFA, podemos acrescentar mais uma derrota com a Dinamarca (primeira mão dos quartos de final da Liga das Nações), um triunfo (contra os nórdicos em Alvalde), e talvez a vitória mais convincente frente a um adversário de relativa qualidade: 0-3 à Turquia (fase de grupos do Euro-2024). Isto no que toca a jogos oficiais, sendo que também há ainda o triunfo gordo sobre a Suécia, num encontro particular em Guimarães.

De resto, Portugal bateu adversários como Polónia (35.ª), Eslováquia (41.ª) República Checa (42.ª), Escócia (45.ª), Irlanda (60.ª), Finlândia (69.ª), Islândia (70.ª), Bósnia (74.ª), Luxemburgo (92.ª) ou Liechtenstein (204.ª). Seleções que dificilmente vão estar em fases adiantadas de um torneio internacional, por exemplo no Mundial-2026, o grande objetivo de Roberto Martínez.
Esse sonho do selecionador só será possível se Portugal der um passo em frente. Por exemplo, no último Europeu, a campeã Espanha teve de bater Alemanha (10.ª), França (2.ª) e Inglaterra (4.ª) para levantar o título. Se olharmos para a caminhada da Argentina em 2022, teve de ultrapassar Países Baixos (7.ª), Croácia (13.ª) e França (2.ª). Até mesmo o Portugal que venceu o Euro-2016 e que, pode dizer-se, teve sorte no quadro da fase a eliminar, foi obrigado a bater Croácia (13.ª) e França (2.ª) para erguer o cetro.
Para ser o melhor, é preciso vencer os melhores. Em junho, Roberto Martínez vai ter a oportunidade de defrontar dois adversários de topo novamente, primeiro com a Alemanha (10.ª do ranking FIFA) e depois de entre Espanha (terceira) ou França (segunda), na final ou terceiro e quarto lugar. Será que vai conseguir ir um pouco mais além?