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De Lamine a Huijsen: a forma como a Espanha convence jogadores com dupla nacionalidade

Lamine, Nico, Huijsen e Samu, no Mestalla
Lamine, Nico, Huijsen e Samu, no MestallaJOSE BRETÓN / NurPhoto / NurPhoto via AFP
Como atual campeã olímpica, europeia e da Liga das Nações, um dos pilares do sucesso da Espanha é a sua capacidade de atrair talentos multinacionais, incluindo Lamine Yamal, Nico Williams e a mais recente chegada, Dean Huijsen. Como é que se trabalha nos bastidores para conseguir juntar estes jogadores a uma seleção por si só talentosa?

"O futebolista deve escolher onde quer jogador", insiste Francis Hernandez, ex-diretor de futebol juvenil da federação espanhola (2018-2024) e principal impulsionador da deteção precoce e retenção de jogadores promissores de várias nacionalidades, em declarações à AFP.

"De 114 jogadores nascidos entre 1996 e 2010 com a possibilidade de jogar por vários países, conseguimos que 98 o fizessem por Espanha", sublinha Hernández, que decidiu deixar a RFEF após o ouro olímpico em Paris.

"Antecipar o processo" é a chave de um método bem-sucedido que inclui o acompanhamento dos jogadores a partir dos 11 anos, a criação de uma equipa nacional desde os sub-14, mesmo que não compita, para criar um vínculo precoce e começar a trabalhar a relação com o ambiente do jogador.

Lamine: "Chamaram-no de Marrocos"

Lamine Yamal, o fenómeno do futebol mundial de 17 anos, podia ter jogado por Marrocos, o país do seu pai, mas joga por Espanha. Hernandez sentiu que havia um "risco real" de o perder e deslocou-se a Barcelona em agosto de 2023, quando o jogador ainda estava nas escolas do Barça.

"Sei que o chamaram de Marrocos e para ele foi uma decisão difícil. Tentei transmitir à família o projeto presente e futuro que tínhamos com ele. Isso teve um efeito e ficou claro para ele que queria representar a Espanha", diz Hernández.

O resto é história. Estreou-se pela Roja aos 16 anos e sagrou-se campeão europeu aos 17, marcando um dos golos do torneio, um golaço contra a França nas meias-finais (2-1).

Nico: "O maior afeto possível"

Filho de ganeses e com o irmão mais velho Iñaki na seleção do país africano, Nico Williams, nascido em Pamplona há 22 anos e estrela do Athletic, também optou pela Roja.

Ao contrário de Lamine, o outro extremo espanhol não é tão exuberante. "É um caso curioso, porque começou a chegar à seleção relativamente tarde, no escalão sub-18, num torneio nas Canárias", recorda Hernández.

"Oferecemos-lhe as ferramentas para que ele pudesse crescer na federação. Demos-lhe todo o carinho possível em todos os níveis, para mostrar que queríamos contar com ele e que ele poderia ser um jogador importante", acrescenta.

Huijsen: a grande revelação

Filho de pais neerlandeses e capitão da seleção sub-19 dos Países Baixos, o gigante Dean Huijsen, de 19 anos (1,95 m), é a última grande revelação do futebol espanhol. O jogador foi convencido por Hernandez numa viagem a Itália, quando o atual defesa-central do Bournemouth jogava na Roma.

"Acreditámos no jogador quando ninguém o conhecia. Disse-lhe que estava pronto para subir para a equipa de sub-21", disse Hernandez sobre o jogador que fez uma excelente estreia pela equipa principal nos quartos de final da Liga das Nações, ao vencer os Países Baixos.

"Há alguns dias falei com o pai dele e ele escreveu-me a agradecer. Na altura, era arriscado, arriscava-se o emprego, apostava-se num miúdo com potencial, mas era preciso arriscar".

Os números de Huijsen
Os números de HuijsenFlashscore

Enzo Alves, filho de Marcelo

Presença assídua nas seleções jovens de Espanha, Enzo é filho do último grande lateral-esquerdo brasileiro, Marcelo, que se retirou em fevereiro. Com apenas 15 anos, é um goleador do Real Madrid e da seleção sub-17. O seu nome já está a ser mencionado nas conferências de imprensa de Ancelotti.

"Fizemos um trabalho semelhante, tivemos muitas conversas com Marcelo, que estava a jogar no Brasil (Fluminense). É um avançado muito completo, mas atenção... Temos de ter cuidado com ele!", avisa Hernández sobre a possibilidade de o jogador mudar a nacionalidade desportiva e ir jogar para o Brasil.

Hakimi, Garnacho, Nico Paz

Entre aqueles que poderiam ter jogado pela Roja, Hernández admite ter uma "fraqueza" pelo jogador do PSG Achraf Hakimi, nascido em Madrid de pais marroquinos e porta-bandeira da equipa norte-africana.

"Tem uma personalidade brutal em campo e fora dele. É um exemplo a seguir no futebol mundial e um ícone no mundo árabe", afirma, recordando que jogou pelos sub-19 de Espanha antes de optar por Marrocos.

Além disso, a Argentina tem dois talentos de 20 anos nascidos em Espanha, Alejandro Garnacho e Nico Paz. "O jogador deve poder escolher, isso é o mais importante", conclui Francis com desportivismo.