Feminino: A incrível aventura de Edna Imade, o novo reforço de Espanha

Da barca à seleção: o destino incrível de Edna Imade, o novo reforço de Espanha
Da barca à seleção: o destino incrível de Edna Imade, o novo reforço de EspanhaCredit: ČTK / imago sportfotodienst / Ricardo Larreina

Nascida em Marrocos enquanto os pais fugiam do conflito na Nigéria, Edna Imade é a mais recente "contratação" da seleção espanhola para a final da Liga das Nações frente à Alemanha. A avançada de 25 anos, com um percurso extraordinário, pode agora representar o país onde chegou de barca ainda nos primeiros meses de vida.

Siga o Alemanha - Espanha com o Flashscore

"Quando algo exige muito trabalho, aproveitas ainda mais." Esta é a frase de eleição de Edna Imade, de 25 anos, que vai estrear-se esta sexta-feira pela Roja na final da Liga das Nações frente à Alemanha. Ao saber da convocatória para a Espanha, a avançada emprestada à Real Sociedad pelo Bayern Munique não conteve as lágrimas. Dois dias antes, o boletim oficial espanhol tinha-lhe concedido outro documento precioso: a nacionalidade espanhola, que aguardava desde bebé.

Apesar de ter dado nas vistas na Liga F com a camisola do Granada, ao ponto de despertar o interesse de grandes clubes europeus e assinar pela Baviera no último verão, a atual segunda melhor marcadora do campeonato espanhol, com 8 golos, jogava até agora com passaporte nigeriano. Um país onde nunca esteve.

Nascida em Marrocos, no caminho do exílio entre a Nigéria e Espanha

Edna Imade nasceu em Marrocos, durante a fuga dos pais que escapavam aos conflitos na Nigéria, na esperança de oferecer uma vida melhor aos filhos. A caminho de Espanha, a mãe teve de parar para dar à luz gémeos, Edna e o irmão Paul. "Ela ia ter dois filhos, o meu irmão e eu, e decidiu dar-nos uma vida melhor atravessando o Saara para chegar a Espanha. Durante a viagem, deu à luz, precisava de cuidados e ficámos em Marrocos durante três ou quatro meses", conta a jogadora num vídeo publicado pela seleção espanhola.

"A minha mãe decidiu fazer a viagem para Espanha numa embarcação improvisada. Chegámos a Algeciras, onde fomos acolhidos num convento de freiras, e foi aí que começou a nossa história em Espanha", recorda. Uma história que podia ter começado de forma trágica, já que Imade explica que o irmão caiu ao mar quando a barca se aproximava da praia de Cádis. Sobreviveu graças à coragem de um passageiro, que saltou para o salvar. Já em solo espanhol, o pai foi deportado para a Nigéria pelas autoridades.

Futebol entre rapazes, futsal e uma mão amiga

A família acabou por se fixar em Carmona, uma vila da província de Sevilha que se tornou o seu lar graças à ajuda de pessoas que, como a avançada conta, lhes "estenderam a mão" quando mais precisavam. Foi aí que Edna Imade descobriu o futebol. "No recreio, jogava com os rapazes. O professor de educação física viu-me e disse à minha mãe que eu jogava bem, que devia inscrever-me na equipa da vila. Ela queria que eu fosse para aulas de flamenco, mas só aguentei uma, não gostava, o que eu queria era jogar futebol", recorda.

A mãe inscreveu-a no clube local, onde, com 8 anos, era a única rapariga entre os rapazes. Já alta e atlética, o treinador colocou-a a jogar como defesa-central, até que teve de parar aos 14 anos por falta de equipas femininas na zona. Passou então para o futsal durante três épocas e destacou-se num torneio em Málaga, onde as suas exibições chamaram a atenção de Bernardo Moreno, que a convenceu a regressar ao futebol de 11. Seguiu-se o AD Nervión, nos arredores de Sevilha, depois Málaga (2019-21) e mais tarde o Cacereño (2021-23), onde marcou 25 golos em duas temporadas. Tudo isto enquanto estudava e trabalhava na área da animação de atividades físicas e desportivas.

"Sempre vivi em Espanha e sou sevilhana"

O seu percurso chamou a atenção do Granada, que pagou a cláusula de rescisão (10.000 euros), a única que o clube andaluz alguma vez pagou por uma jogadora. E explodiu: na época passada, Imade marcou dezasseis golos e terminou como segunda melhor marcadora da Liga F, tendo garantido treze pontos à equipa. O Bayern Munique chegou a pagar 75 000 euros para a contratar este verão. Emprestada à Real Sociedad para continuar a evoluir, reencontrou Arturo Ruiz, o treinador que a lançou no Granada na época anterior. Após nove jornadas, soma 8 golos e até marcou o penálti que ditou a única derrota do Barça esta temporada.

E Espanha, à procura de uma número 9 para suceder a Esther Gonzalez, tentou chamá-la. Sem sucesso. O nome de Edna Imade foi mencionado em quase todas as conferências de imprensa das campeãs do mundo no último ano, com a mesma resposta de Montse Tomé e depois de Sonia Bermudez: a jogadora aguardava a nacionalidade espanhola. "Sempre vivi em Espanha e sou sevilhana. Nunca pus os pés na Nigéria", garante em entrevista ao Diario Vasco. A Nigéria, ciente do seu potencial, tentou convocá-la, mas sem êxito.

Uma naturalização relâmpago para uma Espanha à procura de golos

Após semanas de espera, Imade soube da naturalização mesmo antes do anúncio da lista para a final da Liga das Nações: "Pensei que não seria convocada, mas quando cheguei ao treino, o treinador disse-me que já era elegível. Não conseguia acreditar. Depois mostraram-me o vídeo à frente de toda a equipa e fiquei muito emocionada. A primeira coisa em que pensei ao ver o meu nome foi: consegui!" No vídeo gravado pelo clube, vê-se Imade a chorar de alegria, rodeada pelas colegas que a felicitaram.

E se Espanha tratou de acelerar a sua naturalização, foi porque a avançada de 25 anos encaixa nas necessidades atuais da Roja: golos, profundidade e uma alternativa a Claudia Pina ou Salma Paralluelo, que foram adaptadas a número 9 na última paragem internacional. Agora cabe-lhe a ela trazer potência, velocidade, verticalidade e instinto goleador para ajudar Espanha a manter o título na Liga das Nações. Para que a história seja ainda mais bonita.