Bellamy tinha uma merecida reputação de arruaceiro durante uma carreira colorida de jogador, com quase tantos momentos polémicos como golos.
O famoso bad-boy foi acusado pelo então companheiro de equipa do Liverpool, John Arne Riise, de o ter atacado com um taco de golfe no seu quarto de hotel durante uma discussão num estágio em Portugal, em 2007.
Poucos dias depois, Bellamy celebrou um golo contra o Barcelona no Camp Nou com um taco de golfe imaginário. O antigo jogador também já lutou contra a depressão e admitiu ter um problema com a bebida, que começou quando tinha apenas 12 anos.
Em 2019, foi condenado a 18 meses de proibição de conduzir por estar acima do limite legal de álcool e obrigado a pedir desculpa por qualquer ofensa causada durante o seu tempo como treinador da academia de Cardiff.
Uma investigação interna sobre alegações de bullying encontrou "uma série de preocupações significativas" sobre as ações de Bellamy, forçando-o a admitir que precisava de melhorar os seus métodos de treino, embora não tenha sido sujeito a um processo disciplinar.
Nesse contexto, foi uma grande aposta quando a Federação Galesa de Futebol contratou Bellamy para substituir Robert Page, demitido em julho.
O antigo havançado havia trabalhado como adjunto de Vincent Kompany no Anderlecht e no Burnley depois de se retirar em 2014, mas o cargo no País de Gales representou a sua primeira experiência como técnico.
Um galês ferozmente patriota, alguns temiam que a paixão de Bellamy pelo seu país pudesse ser um gatilho para o lado mais indomável da sua personalidade, mas o agora técnico fez uma transição suave e impressionante para o novo cargo.
"Não sou um lunático"
O País de Gales estava no fundo do poço quando Bellamy assumiu o cargo, depois dos péssimos resultados nos particulares contra Gibraltar e Eslováquia levarem à demissão de Page.
Afirmando que o cargo era o seu "sonho final", Bellamy rapidamente provou que poderia lidar com a pressão de restaurar o orgulho galês.
Calmo e taticamente astuto nas reuniões de equipa, Bellamy incentivou um estilo de jogo mais progressivo que permitiu que o País de Gales florescesse.
Também se mostrou seguro diante da imprensa, estabelecendo uma atitude positiva que contrasta fortemente com a sua personalidade combativa de jogador.
E o mais importante é que Bellamy tem apresentado resultados, desfrutando de uma série invicta de seis jogos, com três vitórias e três empates, que se classifica como o melhor início de um técnico do País de Gales.
O início de sonho de Bellamy teve o seu ponto alto na terça-feira, quando o País de Gales recuperou de um golo sofrido no início do jogo e derrotou a Islândia por 4-1 em Cardiff.
A derrota da Turquia em Montenegro fez com que o País de Gales terminasse na liderança do Grupo B4 da Liga das Nações.
A promoção à Liga A é um estímulo para as esperanças de qualificação do País de Gales para o Mundial-2026, uma vez que deverá dar-lhes pelo menos um lugar no play-off.
Ciente da visão cética que o público tem do seu caráter, Bellamy admitiu que foi agradável mudar as perceções do público.
"Talvez tenha sido importante mostrar às pessoas que não sou um lunático. Sou bastante são. As pessoas pensavam que eu ia entrar em campo a correr e a empurrar o árbitro e que ia ser expulso", afirmou.
"Provavelmente senti-me mais motivado a mostrar que não sou assim. As pessoas costumavam falar do temperamento. 'Ah, sim, mas o temperamento dele'. Eu pensava: 'A sério?' Agora, podem ver este meu lado".
Bellamy espera que o seu temperamento seja testado ainda mais quando o País de Gales iniciar a campanha de qualificação para o Mundial-2026 em março, mas o técnico está confiante de que a maturidade recém-descoberta o ajudará a lidar com os momentos de descontrolo que podem ter sido destrutivos no passado.
"Não se chega a lado nenhum a ser assim. Vocês irão ver-me ainda mais calmo e gentil quando as coisas correrem mal. Não sou ingénuo ao ponto de saber que esses momentos não vão acontecer. Sei disso e tenho de manter a calma", concluiu.