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Portugal saiu com uma derrota por 1-0 da Dinamarca, mas não seria escandaloso se o jogo tivesse terminado 4-0. Sim, foi assim tão mau. Se não viu e é português, provavelmente terá tomado umas das melhores decisões de 2025.
No entanto, Portugal saiu vivo e ainda com esperanças de chegar à final four da Liga das Nações. Para isso só precisa de fazer muito mais do que fez em Copenhaga. Nesse sentido, o Flashscore aponta os aspetos a melhorar para o jogo da segunda mão.
Qual é a ideia?
A pergunta é legítima e não será a primeira vez que alguém que vê Portugal questiona algo deste género. Roberto Martínez teve um cenário favorável quando chegou a Portugal e aproveitou a qualificação para o Euro-2024 frente a seleções modestas para fazer vários testes.
A sensação que fica é que o problema talvez tenha sido precisamente esse. Mais de dois anos depois da chegada do técnico espanhol, ainda não é possível perceber qual é a ideia de jogo de Portugal.
A derrota e a exibição na Dinamarca deverá servir para, pelo menos, tentar dar estabilidade à equipa nacional. Ora, isso quer dizer que Roberto Martínez deve começar a estabilizar a defesa e, acima de tudo, encontrar o seu meio-campo.

É que, apesar dos elogios merecidos a Vitinha, João Neves e Bruno Fernandes, este é um trio que não está a funcionar na seleção. Por questões individuais ou coletivas? Essa é uma resposta que só Roberto Martínez terá para dar, mas o posicionamento médio dos jogadores portugueses (ver imagem acima) ajuda a explicar o porquê do miolo ter sido engolido pelos dinamarqueses.
Conflito nos flancos e previsibilidade à direita
Calma, tudo está bem entre os jogadores da seleção, pelo menos não há nenhuma informação em sentido contrário, mas dentro das quatro linhas as coisas não estão a funcionar e Roberto Martínez, uma vez mais, será um dos responsáveis.
Diogo Dalot é, aos dias de hoje, um lateral que procura movimentos interiores e Roberto Martínez já mostrou que procura esses movimentos, dando as linhas aos extremos, mas com o trio de médios que entrou frente à Dinamarca, Portugal não ficou a ganhar com a presença de Dalot, sobretudo na zona central.
Se Nuno Mendes não se aventurou tanto, talvez em defesa de Rafael Leão, Pedro Neto sentiu falta de um jogador com quem combinar para desequilibrar. O extremo do Chelsea até fez os únicos dois remates de Portugal à baliza, mas foi demasiado previsível nos seus movimentos, até porque muitas vezes estava frente a dois jogadores dinamarqueses.

Ilha Cristiano Ronaldo
Não é neste ponto que nos referimos ao capitão da seleção nacional de forma individual, embora o camisola 7 também tenha culpas na fraca produção ofensiva de Portugal, mas também não pode fazer tudo sozinho. E sozinho é mesmo a palavra chave.
Um dos únicos lances de perigo de Portugal na primeira parte passou pelo aparecimento de Bruno Fernandes na grande área. O médio do Manchester United rematou ao lado, é certo, mas esse foi um exemplo do que Portugal deveria fazer mais vezes e que não se voltou a repetir.
A falta de jogadores em posição de finalização ajuda a explicar os oito remates realizados por Portugal na Dinamarca, o mínimo da equipa de Roberto Martínez na Liga das Nações. Ronaldo foi engolido pelos centrais e a previsibilidade ofensiva nos flancos não ajudou a colocar em risco a baliza de Schmeichel - cinco remates na grande área contra 17 (!) da Dinamarca, que, no lance do vídeo abaixo, coloca seis jogadores na área de Diogo Costa.
A falta de ocasiões e de passes chave dos jogadores da seleção (cinco no total contra 16 da Dinamarca) ajuda a explicar a diferença entre osc golos esperados (xG). Acima de tudo, pede-se muito mais aos jogadores de ataque de Portugal - Rafael Leão, por exemplo, esteve demasiado agarrado à linha lateral (a pedido de Martínez).

Talento intermitente
Num exercício de distribuição de culpas, talvez a maior percentagem esteja associada a Roberto Martínez, mas os jogadores portugueses não podem ficar isentos de responsabilidade.
Rafael Leão e Bruno Fernandes serão os principais nomes neste lote de jogadores com talento, mas que não conseguem ser consistentes na seleção nacional. Se o médio do Manchester United até está a viver a melhor fase no clube, o extremo do AC Milan podia encontrar na seleção o espaço ideal para respirar fundo para uma reta final mais condizente da sua qualidade, mas não foi isso que aconteceu.

A verdade é que as épocas vão passando e há jogadores que tardam em provar o seu talento na seleção nacional. João Félix, claro, é outro exemplo, mas o próprio Bernardo Silva, que até foi suplente na Dinamarca, esteve abaixo do seu nível na maioria dos 99 jogos que já fez por Portugal. É certo que representar a seleção é sempre diferente de jogar no clube, mas quando há talento...

Guião cansado
O comum português já saberá grande parte das substituições que Roberto Martínez vai operar ainda antes do apito inicial para cada uma das partidas, mas especialmente para encontros diante de seleções de nível médio-alto, como a Croácia e a Dinamarca.
Rúben Neves e Nélson Semedo são cartada expectável e que não têm conseguido acrescentar quando a equipa portuguesa não está a ter produção ofensiva. De resto, na Dinamarca, Martínez tirou Rafael Leão para colocar... Rúben Neves. Não deu para entender.
Enquanto os jogadores habituais saíram do banco - Gonçalo Inácio também já tinha sido lançado contra a República Checa, no Euro-2024 -, outros como Trincão, Quenda, Diogo Jota e o próprio João Félix, cujo talento individual é tantas vezes defendido por Roberto Martínez, ficaram a ver jogar.

Ronaldo titular até quando?
No final de cada derrota ou jogo mal conseguido, Cristiano Ronaldo é o principal tema. O facto de ser a grande figura da seleção há tantos anos tem pontos positivos para o próprio, mas também tem pontos negativos.
Aos 40 anos e com mais de 3.000 minutos nas pernas, faz sentido Cristiano Ronaldo ser titular indiscutível da seleção? Especialmente depois de exibições questionáveis no Euro-2024? E já com o regresso de Gonçalo Ramos?

As questões são óbvias, já as explicações de Roberto Martínez nem por isso. O selecionador justificou o estatuto de indiscutível de Ronaldo no Euro-2024 com dados que só a FPF teve acesso e no jogo da Dinamarca explicou a ausência de Gonçalo Ramos, que pelo menos poderia funcionar como alternativa direta, pelo facto de o avançado de o PSG ainda não ter sido utilizado na Liga das Nações (esteve lesionado, recorde-se).
O estatuto de Cristiano Ronaldo é grande, enorme, estratosférico, quase de outro planeta, mas não pode, ou pelo menos não deve, ser maior do que o da própria seleção.

Ao decidir desta forma, Roberto Martínez coloca não só o futuro de Portugal em risco, mas também o seu próprio futuro como selecionador nacional. Recorde-se que foi contratado por Fernando Gomes e não por Pedro Proença, atual presidente da FPF. Qual será o impacto de uma possível eliminação nos quartos de final da Liga das Nações?
