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Ágata Filipa: "A paixão que sinto pelo futebol é algo que acredito que vai durar para sempre"

Ágata Filipa em destaque ao serviço do SC Braga
Ágata Filipa em destaque ao serviço do SC BragaSC Braga, Flashscore
O Flash Feminino é a nova rubrica quinzenal do Flashscore, dedicada a destacar as principais protagonistas da Liga Feminina. Neste espaço, traremos entrevistas exclusivas com as jogadoras que brilham nos relvados nacionais. A nossa 19.ª convidada é Ágata Filipa, jogadora do SC Braga.

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Aos 12 anos tinha colegas com 44: "Era uma segunda família"

- Quais as primeiras memórias relacionadas com o futebol?

- Tanto o meu pai como o meu irmão do meio — eu tenho quatro irmãos — jogaram futebol. Portanto, o “bichinho” deve ter vindo daí. Posso dizer que sinto que nasci a jogar à bola. Desde que me lembro, mesmo sem ter muitas recordações, até mais pelas histórias que a minha mãe me contava, sempre tive uma paixão enorme por jogar à bola.

Posso dar este exemplo: sempre que íamos à praia, começava a afastar-me da toalha, devagarinho, e ia-me aproximando das pessoas que estavam a jogar. Primeiro ia apanhar a bola sempre que saía e lançava-a com a mão, mas aos poucos ganhava confiança, e de repente já estava a chutar. E olha que, mesmo em miúda, já tinha um pontapé com força (risos) — não era coisa normal. Essa era a minha tática para me juntar aos adultos. Sempre foi assim. Depois quando chegavam os aniversários ou o Natal, pedia sempre o mesmo: uma bola. Nunca quis outra coisa. 

- Quando surgiu a oportunidade de ingressar num clube de futebol? Como foi esse processo?

- Comecei a jogar numa academia em Barcelos, que era a academia do Dito. Éramos cinco raparigas, o resto era tudo rapazes. Lembro-me de jogar contra o Gil Vicente e levar 16-0... foi duro, mas ficou como uma boa recordação! (risos) Nessa altura era só isso — academia. Até que a minha mãe teve uma lesão no joelho e precisou de ser operada. Durante a recuperação, uma das fisioterapeutas estava ligada a um clube, o Martim. Em conversa, a minha mãe contou que eu era completamente apaixonada por futebol. E então, surgiu a possibilidade de ir experimentar.

O testemunho de Ágata Filipa
O testemunho de Ágata FilipaOpta by Stats Perform, SC Braga

- Que idade é que tinha?

- 10/11 anos.

- E era uma equipa sénior feminina?

- Sim, sim. O Martim foi o meu primeiro clube no futebol feminino.

- Estou a ver o plantel desse ano e a Ágata tinha uma colega de equipa com 44 anos...

- A Rosa (risos).

- Uma diferença muito grande!

- Na altura, confesso que não sabia muito bem onde me estava a meter. O futebol, naquela época, era pura paixão, e a diferença era enorme. Eu era franzina, as raparigas eram todas mais velhas, muito mais fortes, com corpos bem mais desenvolvidos... uma diferença sem comparação. Quando jogava contra elas, coitadinha de mim, eu literalmente voava. Mas, a sério, era mesmo assim (risos). Foi, sem dúvida, uma experiência muito boa. Deu-me uma visão real do que era o futebol feminino naquela altura. Não havia as mesmas bases que o futebol masculino, então, quem gostasse e tivesse jeito, fosse lá um bocadinho, era sempre bem-vinda.

- Como era a relação com as companheiras de equipa?

- Foi, sem dúvida, uma experiência muito positiva. Gostei imenso dos anos que passei no Martim, se não estou em erro, foram quatro ou cinco. Sempre me acolheram muito bem, especialmente as mais velhas. Tive uma ótima ligação com elas, uma cumplicidade grande. Sempre me ajudaram, davam-me boleias, convidavam-me para jantares. O Martim foi como uma segunda família para mim, um lugar onde me senti bem recebida. Foi uma experiência que me abriu novos horizontes e foi aí que a minha paixão pela modalidade cresceu ainda mais.

- E como é que era a parte competitiva?

- Eu nunca tinha jogado apenas com mulheres. De repente, vi-me a jogar com pessoas com 20, 30, até 40 anos. Já havia clubes competitivos, de acordo com o que o futebol feminino conseguia oferecer na altura, e algumas rivalidades também. Acabei por ser campeã da segunda divisão com o Martim, e conseguimos subir à primeira. Mas, claro, depois surgiram outros tipos de dificuldades. Era tudo feito com muito amor ao futebol. 

- A Ágata conseguia imaginar um futuro como jogadora profissional naquela altura? E como foi o seu trajeto até alcançar essa meta?

- Durante muitos anos, até ser realmente profissional — ou seja, antes da entrada do Sporting e do SC Braga no futebol feminino —, eu vivia o futebol como uma paixão pura. Via imensos jogos, e ainda hoje vejo, embora agora com uma perspectiva diferente. Mas, naquela altura, o futebol era simplesmente o meu amor. Nunca parei para pensar que isso pudesse tornar-se uma profissão. Nem sequer imaginava que o futebol feminino pudesse crescer ao ponto de os clubes começarem a fazer contratos, de passarmos a receber por algo que adorávamos fazer. Nunca pensei nisso.

Eu só queria que chegasse a hora do treino, e principalmente o dia do jogo — que acho que é o momento preferido de qualquer jogador. Vivia mesmo essa paixão, sem pensar no futuro.

Depois, com o tempo e com a mudança de clubes, comecei a ganhar outra visão. Foi no Valadares que tudo mudou. Fui muito bem recebida, fui muito feliz, e tive conquistas que no Martim teriam sido impensáveis. Trouxe-me uma nova realidade sobre o estado do futebol feminino naquela fase.

Depois surgiu a entrada do SC Braga e do Sporting no feminino. No primeiro ano, ainda fiquei no Valadares — foi o meu último ano lá. Já tinha ouvido falar de algum interesse, mas eu sou daquelas pessoas que só acredita mesmo quando as coisas acontecem. Palavras valem o que valem; eu gosto de ver as coisas acontecerem.

E foi quando recebi a chamada do SC Braga que me caiu a ficha: “Ok, isto está mesmo a acontecer. Vou poder fazer daquilo que amo uma profissão.” Demorei algum tempo a assimilar tudo. Foram tantas coisas a acontecer num espaço tão curto que acho que só mais tarde percebi verdadeiramente o que aquilo significava.

Ágata tem sido um dos destaques do SC Braga
Ágata tem sido um dos destaques do SC BragaSC Braga

"Título no SC Braga é um dos momentos mais bonitos da carreira"

- Chega a SC Braga e conquista o título nacional...

- Indescritível. Honestamente, acho que é daquelas coisas que não dá mesmo para explicar. É a cereja no topo do bolo. Representa o culminar de um trabalho árduo ao longo de uma época inteira. E não só da época em si — começa logo na pré-época, que é sempre muito exigente, dura e longa. Todo esse percurso, toda essa entrega, tem aquele momento final em que podemos levantar a taça. Para mim, é dos momentos mais bonitos da carreira.

- Após quatro anos em Braga, seguiu-se a aventura no estrangeiro — Escócia, Suíça e França. Perguntava, acima de tudo, o que é que essas três experiências, esses três países e campeonatos lhe trouxeram em termos de bagagem. Agora que está de regresso, sente que voltou uma pessoa e uma jogadora diferente?

- Completamente. Era uma experiência que eu queria muito viver — sempre disse isso. Não fazia ideia de quão duro iria ser, porque, lá está, acabamos por ter de abdicar de estar perto dos nossos. E, a partir do momento em que vamos para fora, somos nós por nós mesmos. Claro que a família e os amigos estão só a uma chamada ou mensagem de distância, mas não é a mesma coisa.

Lá fora, temos de aprender a lidar com todos os obstáculos, imagináveis e inimagináveis, de forma abrupta. Porque estamos sozinhas — não há aquele apoio imediato como quando estamos no nosso país. E era isso mesmo que eu queria testar: perceber se tinha capacidade emocional para enfrentar esses desafios.

Esses três países deram-me uma bagagem emocional enorme, cada um à sua maneira, pelas experiências que me proporcionaram. Cresci imenso, não só como jogadora, mas sobretudo como pessoa. Senti isso claramente quando regressei a Portugal.

E reforçou uma ideia que eu já tinha sobre o futebol feminino cá: somos um país que sabe e gosta de jogar à bola no pé. Lá fora, apanhei muitas equipas que jogavam no “chutão para a frente” — um estilo que não me agrada, e que já estava habituada a ver menos por cá, à medida que o futebol feminino foi evoluindo. Hoje em dia, esse tipo de futebol já se vê menos, felizmente. Gosto de um jogo apoiado, pensado — e é isso que valorizo.

- Mas evoluídos noutros aspetos?

- A parte física...

- ... e nas condições que conseguem oferecer às atletas?

- Só quando uma pessoa vai lá para fora é que percebe mesmo que, em muitos casos, até temos melhores condições aqui em Portugal. Falo, claro, da minha experiência pessoal — dos clubes por onde passei.

Na Escócia, por exemplo, quando cheguei, as condições não eram as melhores. Mais tarde, começaram a surgir melhorias, felizmente. Mas, mesmo assim, comparando com aquilo a que eu estava habituada no SC Braga, a diferença era grande. Os horários de treino, por exemplo — eu detestava treinar às sete da tarde. E estamos a falar da Escócia, onde ver o sol é quase um luxo! Para mim, isso foi mesmo duro. Tive de me readaptar completamente a uma nova realidade, muito diferente daquilo que era a minha rotina cá.

- Ou seja, é aquela frase quase clichê: só quando saímos é que começamos a dar mais valor ao que tínhamos.

- Acho que é mesmo muito importante ter essa oportunidade de sair, porque o choque de realidade faz o atleta ver as coisas de uma forma completamente diferente. Além de nos fazer valorizar mais o que temos, também é necessário passar por essas dificuldades. Só assim conseguimos perceber até onde podemos ir e até que ponto estamos realmente dispostos a ir.

Quando estamos no nosso país, a realidade é outra. Estamos confortáveis, com a nossa família e amigos por perto, o que facilita as coisas. Podemos facilmente desanuviar, pegar no carro e sair para qualquer lado. Mas quando estamos fora, tudo muda. Deixas de ter isso. A vida passa a ser muito mais solitária do que aquilo a que estamos habituados. Não é tão simples — a adaptação exige muito mais de nós.

Ágata Filipe regressou a Braga esta temporada
Ágata Filipe regressou a Braga esta temporadaSC Braga

"Senti que era o momento certo para regressar a Portugal"

- Seguindo a linha temporal, depois de três épocas fora, o que a motivou a voltar? Acredito que houvesse possibilidade de continuar no estrangeiro, mas...

- Sim, havia essa possibilidade, e foi algo muito pensado. Mas senti que era o momento certo para regressar, especialmente no lado pessoal. Precisava de uma pausa, de voltar ao meu país. Surgiu, então, a oportunidade de regressar ao SC Braga, com os objetivos que o clube tinha.

Decidi voltar, em grande parte, para ajudar o clube onde fui muito feliz, a alcançar esses objetivos. Isso teve um grande peso na minha decisão. E pensei: "Por que não?" Acho que agora é o timing certo, e esta oportunidade surgiu no momento certo para juntar as duas coisas: o meu regresso pessoal e a minha contribuição profissional.

- Encontrou um SC Braga e uma Liga muito diferentes?

- Nota-se essa evolução. Aliás, nem precisamos de ir muito longe, basta olhar para a nossa Seleção. Os resultados que a Seleção tem conseguido, ano após ano, nas competições, mostram uma grande mudança. Hoje, a nossa Seleção é capaz de disputar jogos com as melhores do mundo sem medo, e isso é um reflexo do crescimento do futebol feminino em Portugal.

As equipas também estão a apostar mais, a acreditar mais, e estão a criar as condições necessárias para que o futebol feminino continue a crescer. A exigência de a Liga BPI ser disputada apenas em relvado também forçou os clubes a investirem em melhores infraestruturas. Todos esses passos são importantes e, embora ainda haja muito por fazer, é crucial que continuemos a avançar para que o futebol feminino continue a evoluir.

Ágata Filipa num treino do SC Braga
Ágata Filipa num treino do SC BragaSC Braga

"Queremos passar à final da Taça de Portugal"

- Esta época também marca a estreia no Estádio Amélia Morais. Como viveram essa mudança?

- Custou muito, sou sincera, deixar o 1.º de Maio, por tudo o que ele representa. Fui muito feliz lá, foram lá as minhas conquistas, e por isso é um estádio que ficará para sempre na minha memória, de forma muito positiva. Deixar para trás toda essa estrutura foi um momento emocional. Mas o Estádio Amélia Morais é mais um passo para este clube, uma demonstração de que estão a apostar no futebol feminino, mais precisamente no futebol feminino do SC Braga. As condições que o Amélia Morais oferece são totalmente diferentes do que estávamos habituadas. 

Visto de fora é visível que é um estádio muito bonito, e quando entramos, com as nossas marcas lá, as fotografias dos momentos que vivemos, dos jogos, dos momentos felizes... é difícil de descrever. Conseguir deixar a nossa marca num novo estádio, tanto a nível pessoal como coletivo, é algo que não tem palavras.

Daqui a uns anos, quando tiver filhos, poderei levar-los lá e mostrar-lhes um estádio onde pisei, um estádio que tem a minha história. Isso é algo de muito orgulho, e continuará a ser.

- O jogo 100. Que significado tem para si alcançar essa marca num clube tão grande, com uma expressão tão forte, como este?

- O tempo passou tão rápido que nem percebi que o marco estava tão perto. É um marco bonito, que fica para sempre no meu currículo. Mas, claro, depois de atingir esse objetivo, a vontade é de ir além — não ficar por aí. No entanto, é um momento de grande orgulho, que demonstra todo o meu trabalho ao longo do tempo. Para mim, é mais uma conquista pessoal, algo que mexe comigo positivamente e que me dá uma motivação extra para continuar o meu trabalho, manter o foco e poder contribuir ainda mais para este clube.

- O que é que distingue o SC Braga de todos os outros por onde passou? 

- Acima de tudo, é um clube que luta por grandes objetivos. Nos outros três clubes onde estive fora, também havia a ambição de ser campeões e ganhar taças, mas a competitividade não era tão grande, exceto em França, que é um campeonato completamente diferente. Mas o que me fez regressar e o que realmente fez a diferença é que o SC Braga foi sempre uma casa onde fui feliz. Foi lá que me tornei campeã, onde recebi o meu prémio individual de melhor jogadora do onze.

O SC Braga representa para mim a minha casa, e quando isso acontece, tudo faz sentido. Como já disse, achei que o momento certo tinha chegado. Este ano, parecia o timing perfeito para voltar a Portugal. Surgiu a oportunidade de regressar a uma casa onde fui feliz e onde alcancei muitas conquistas, e pensei: "Porque não?" Foi uma casa que sempre me deixou com a porta aberta, e então decidi regressar e aceitar a proposta.

- Com duas jornadas por jogar na Liga, o SC Braga já garantiu um lugar na próxima edição da Liga dos Campeões. Qual é o balanço que podes fazer até agora?

- Tivemos uma primeira fase muito positiva, com apenas um empate contra o Racing Power e uma derrota infeliz contra o Benfica. No geral, foi uma fase bem concluída. A segunda volta, no entanto, foi um pouco mais complicada. Não conseguimos os resultados que queríamos em alguns jogos.

Apesar disso, como já mencionei, o objetivo do clube era garantir um lugar na Liga dos Campeões, e felizmente conseguimos alcançá-lo. Ainda faltam dois jogos para terminar o campeonato, e matematicamente é possível pressionar pelo segundo lugar. Portanto, esse será o nosso foco até ao fim. Se conseguirmos o segundo lugar, ótimo. Caso contrário, o terceiro já está garantido, mas vamos continuar a lutar até ao fim.

- Segue-se a eliminatória da Taça de Portugal com o Torreense, que dá o acesso à final. Quais são as expectativas?

- O nosso percurso até aqui não foi fácil. Trabalhámos duro e batalhámos até ao fim para chegar onde estamos agora: às meias-finais, a duas mãos. Já disputámos dois jogos contra o Torreense e, felizmente, conseguimos as duas vitórias. No entanto, à medida que o fim se aproxima, as coisas começam a ficar mais difíceis. O Torreense tem feito um excelente campeonato, o melhor até ao momento, e isso pesa para elas. Mas, nós focamo-nos em nós mesmas. Sabemos o que temos de fazer, estamos a trabalhar para isso e esperamos que, neste fim de semana, consigamos uma primeira mão positiva. Depois, será a nossa chance de fechar as contas em casa, na segunda mão.

Os resultados recentes do SC Braga
Os resultados recentes do SC BragaFlahscore

- E qual é a sua avaliação em relação ao vosso grupo? Como é que vocês se sentem enquanto equipa?

- Somos muito diferentes umas das outras, o que traz qualidades e aspetos positivos únicos. É um grupo que trabalha duro todos os dias, focado em conquistar os objetivos do clube e trazer alegrias aos adeptos. Estamos todas alinhadas, e agora, nos próximos quinze dias, só pensamos no jogo da taça. O nosso único objetivo é garantir a vitória para assegurar a passagem à final.

- Gostaria de deixar uma mensagem para os adeptos do SC Braga?

- Sei que nem sempre tivemos os resultados que gostaríamos — e provavelmente também não correspondemos às expectativas dos adeptos em certos momentos. Mas o mais importante é pedir-vos que continuem a acreditar em nós, que continuem a lutar connosco, a apoiar-nos como têm feito até aqui. Falta muito pouco. A época está quase a terminar e isto passa num instante. Vocês são o nosso décimo segundo jogador, e essa energia que nos têm dado em todos os jogos tem feito a diferença. Por isso, peço que continuem a trazer essa força positiva e que nos ajudem, mais uma vez, a alcançar o nosso objetivo: garantir a passagem à final.

- Em relação a si, Ágata, como é que se tem sentido? 

- Até ao momento, o balanço tem sido positivo. Sinto-me bem, e este regresso a uma casa que tanto gosto, onde já vivi momentos felizes, tem sido muito bom. Espero continuar a vivê-los. Fisicamente, também me tenho sentido bem, o que é muito positivo. Mas, acima de tudo, continuo o meu trabalho, focada em ajudar a equipa. Se eu estiver bem, a equipa também estará, e o meu objetivo é contribuir para que consigamos conquistar os nossos objetivos.

Ágata Filipa conta com três internacionalizações
Ágata Filipa conta com três internacionalizaçõesSC Braga

"Seleção é a cereja no topo do bolo"

- Seleção Nacional. Que peso tem na sua carreira?

- Para qualquer jogadora que ama o que faz, a Seleção é a cereja no topo do bolo. Todas nós ansiamos por uma chamada e por ser uma presença constante. No entanto, o futebol é assim. Eu sou uma pessoa que acredita que o que tiver que acontecer, acontecerá, e continuarei a fazer o meu trabalho com esperança e fé. Se for chamada, fico naturalmente muito feliz, pois a Seleção é o meu país e o que mais amo fazer. Se não for, vou continuar a trabalhar focada em ajudar o clube e, depois, logo se verá.

- Quais é que são os maiores desafios de ser futebolista profissional em Portugal?

- Eu sou alguém que valoriza muito a rotina — não gosto de grandes mudanças, a não ser que sejam por uma boa razão e para melhor. Dou muita atenção à alimentação. Trabalho com uma empresa de nutricionistas há mais de um ano e estou muito satisfeita. A verdade é que, se não fosse esse acompanhamento, talvez conseguisse atingir os meus objetivos na mesma, mas seria muito mais difícil. A alimentação tem um impacto enorme, e eu senti uma grande diferença desde que comecei a trabalhar com eles.

Ágata contabiliza três internacionalizações
Ágata contabiliza três internacionalizaçõesOpta by Stats Perform, SC Braga

Dou também muita importância ao sono — é das minhas maiores prioridades. E, claro, foco-me não só no trabalho de campo, mas também em tudo o que posso fazer fora dele para estar sempre bem fisicamente e corresponder ao que o treinador quer e ao que a equipa precisa, jogo após jogo.

- E como é que vê o futuro do futebol feminino, especialmente em Portugal?

- Eu acredito, sinceramente, que o futebol feminino vai continuar a crescer. Aliás, pelo que temos vindo a vivenciar, nota-se que há cada vez mais aposta na modalidade — e não há razão para que esse crescimento abrande. O futebol feminino já é muito mais valorizado hoje em dia, tanto em Portugal como lá fora, mas em Portugal houve um avanço enorme nos últimos anos, e não me parece que estejamos num caminho de retrocesso. Muito pelo contrário, acredito que vamos continuar a evoluir. Nós, enquanto mulheres atletas, merecemos. Trabalhamos muito todos os dias para que esta valorização seja uma realidade constante, e é gratificante ver esse esforço começar a ser reconhecido.

- A paixão que tem hoje pelo jogo é a mesma de quando começou no Martim?

- A paixão que sinto pelo futebol é algo que acredito que vai durar para sempre. Claro que, com o passar dos anos e com a maturidade emocional, começamos a ver as coisas de forma diferente — e a trabalhar de forma diferente também. Quando temos dez, onze, doze anos, não temos sequer consciência do que é preciso fazer por amor a algo tão forte como o que sinto pelo futebol.

Com o tempo, com as oportunidades que tive e com a passagem pelos diferentes clubes, esse trabalho foi exigindo evolução e grandes ajustes para que hoje, aos vinte e nove anos, possa ter um bom currículo, estar em boa forma e continuar a viver o futebol como paixão e como profissão.

Os próximos jogos do SC Braga
Os próximos jogos do SC BragaFlashscore

Acredito, sim, que mesmo com vinte e nove anos, ainda consigo jogar a um alto nível por mais cinco ou seis anos, ou até mais, desde que continue a cuidar de mim como tenho feito. E enquanto continuar a sentir isto pelo futebol, e o corpo me permitir, vou continuar a dar o meu melhor e a manter-me nesta modalidade — até que chegue o momento em que a vida me diga: “Olha, gosto muito, mas está na hora de começar a repensar um pouco a minha vida.”

- Ágata, o que gostaria que dissessem sobre si no dia em que decidir terminar a carreira?

- Acima de tudo, ao longo de todos os meus anos enquanto jogadora profissional, gostava que dissessem que a Ágata foi sempre um exemplo — tanto como profissional como como pessoa. Sempre demonstrou uma postura irrepreensível, dentro e fora de campo. Foi uma profissional dedicada, trabalhadora, comprometida, alguém que vive o futebol com seriedade e paixão. Um verdadeiro exemplo de profissionalismo, da cabeça aos pés.

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