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Ellie Walker: "SC Braga proporciona-nos as condições necessárias para lutar pelo título"

Ellie Walker em destaque no SC Braga
Ellie Walker em destaque no SC BragaSC Braga, Flashscore
O Flash Feminino é a nova rubrica quinzenal do Flashscore, dedicada a destacar as principais protagonistas da Liga Feminina. Neste espaço, traremos entrevistas exclusivas com as jogadoras que brilham nos relvados nacionais. A nossa nona convidada é Ellie Walker, jogadora do SC Braga.

Acompanhe o SC Braga no Flashscore

"Tinha deixado de jogar e apareceu uma oportunidade em Portugal"

- Conte-nos um pouco sobre a sua história e como é que o futebol aparece na sua vida?

- Sou de Vancouver, Washington, e quando digo Vancouver, as pessoas pensam que sou do Canadá, e se eu disser que sou de Washington, pensam que sou de Washington, D.C. São coisas bem diferentes (risos). Então, a minha mãe dizia sempre para dizermos Portland, Óregon. Cresci a ir aos jogos da Universidade de Portland. Naquela altura, tinha como exemplo nomes grandes no futebol como Megan Rapinoe e Christine Sinclair

E quando comecei a levar as coisas mais a sério, acabei por jogar no FC Portland, que estava muito envolvido com a Universidade de Portland (n.d.r. Ellie estudou Ciência Política). Joguei lá durante cinco épocas e terminei em dezembro de 2021. 

Ellie Walker destaca grandeza do SC Braga
Ellie Walker destaca grandeza do SC BragaSC Braga, Opta by Stats Perform

A NWSL é uma liga muito competitiva nos Estados Unidos. Muitas equipas, muitas jogadoras e é muito difícil entrar. O timing de quando terminamos a escola é no meio da época e a janela de transferências de inverno é muito pequena. Então, acabei por parar de jogar. O que eu não sabia na altura, e acho que essa era a parte difícil também, é que não conhecia muitas pessoas que jogassem profissionalmente no estrangeiro. Mas percebi isso e pensei: 'Ok, isso é uma possibilidade'.

- Passou a existir essa vontade?

- Eu tinha esperança, sabia que queria continuar a jogar, mas comecei a trabalhar... Estava a seguir em frente, mas comecei a sentir a falta de jogar e sabia que ainda podia jogar. E acho que foi por volta de maio que comecei a trabalhar com um agente e soube que havia uma oportunidade de jogar em Portugal. Não sabia nada sobre o futebol português. Nada. Mas acabei por vir parar aqui e já estou no meu terceiro ano no país.

- Quais foram os principais desafios no início?

- Acho que a barreira linguística foi realmente um grande desafio. Eu não falava português e as pessoas ficavam um pouco tímidas para falar inglês comigo. Só algumas colegas falavam e e eu pensei: 'isto vai ser difícil' (risos). Além disso, eu vivi em Torres Vedras, que é uma cidade pequena, muito diferente do que estava habituada. Quando estamos em casa, temos outras rotinas fora do trabalho, seja o que for. E não ter isso no início,passei muito tempo sozinha. Por isso, acho que foi um choque. Acabei por sentir sentir falta da minha rotina, daquilo a que estamos habituados. 

Ellie ao lado da internacional portuguesa Patrícia Morais
Ellie ao lado da internacional portuguesa Patrícia MoraisSC Braga

"Estando aqui, consigo perceber a grandeza do SC Braga"

- Recordo-me que fez um golo contra o SC Braga no final da época passada. Acha que foi determinante para a mudança ou já tinha recebido a proposta na altura?

- Não acho que essa parte seja realmente importante (risos). Nós queremos dar sempre o nosso melhor, sobretudo quando temos a oportunidade de defrontar grandes clubes, pois queremos mostrar que merecemos uma oportunidade para continuar a crescer. Portanto, apesar de estar aqui hoje, naquela altura pensava: 'Desculpem, mas estou aqui para fazer o meu trabalho e para ajudar a minha equipa' (risos).

- E como está a correr? Muito diferente do que tinha no Torreense?

- É definitivamente algo diferente e não sei bem como expressar isso. Estando aqui, consigo perceber a grandeza do clube. Até quando caminho pela rua, se estiver a usar uma camisola do SC Braga ou algo relacionado com o clube, as pessoas acabam por me reconhecer. Reconhecem o símbolo, claro, e também dizem: 'Ah, ela é jogadora de futebol'. E eu: 'Hey' (risos). Sinto que as pessoas têm muito orgulho neste clube e sente-se isso em todos os desportos, em todos os atletas, em todas as equipas, e também na comunidade, que é grande.

Tabela classificativa da Liga
Tabela classificativa da LigaFlashscore

- Ainda não perderam esta temporada. Qual tem sido o segredo?

- Acho que temos um bom espírito de grupo. Temos jogadoras muito talentosas, com várias habilidades e capacidades diferentes. Diria que temos muita versatilidade. Temos várias jogadoras a marcar golos e o desejo de ganhar está muito presente na nossa equipa. 

- Peço-lhe então para apontar três pontos-chaves da equipa.

- Eu diria a nossa competitividade. Também temos objetivos coletivos muito claros. E acho que há muito... Há tantas coisas. Sinto que, no fundo, é simplesmente o trabalho árduo que colocamos em cada coisa que fazemos. O nosso esforço é, no final do dia, o que nos faz ter sucesso. 

- Como se sente do ponto de vista pessoal? Está a gostar desta nova vida no SC Braga e em Braga?

- Adoro. Na verdade, gosto mesmo. Acho que tem muito a ver com o ambiente em que estou inserida. Quando não estás stressada com tudo o que se passa à tua volta, podes concentrar-te no que estás a fazer. Por isso, acho que o ambiente aqui ajuda nesse sentido. Seja com as minhas colegas de equipa, as minhas colegas de casa. Vivo com pessoas maravilhosas. Tudo isso torna tudo muito melhor. (...) Tens de criar um lar para ti quando estás longe de casa. E sinto que aqui é o mais próximo de um lar que já tive até agora.

Ellie cumpre primeira temporada no SC Braga
Ellie cumpre primeira temporada no SC BragaSC Braga

"Somos capazes de lutar pelo título, é o nosso objetivo"

- É a sua terceira temporada na Liga portuguesa. Qual a sua avaliação?

- A liga cresceu imenso nas últimas três épocas. Acho que, em parte, houve muita exposição, o que sem dúvida ajudou no crescimento. E acho que a seleção nacional de Portugal ter feito um bom trabalho no Mundial também ajudou muito a elevar a liga.  Sinto que a Liga portuguesa está mais no mapa. As pessoas já sabem mais sobre ela e posso dizer que tenho antigas colegas de equipa que querem jogar em Portugal. E acho que isso por si só mostra muitas coisas, porque quanto mais atenção houver, mais ela vai crescer. E quanto mais pessoas quiserem entrar, mais difícil se torna a competição. No meu primeiro ano, parecia que havia uma grande diferença entre o topo e o fundo, mas agora a competitividade aumentou.

- E é possível o SC Braga lutar pelo título?

- Com certeza, com certeza. Esse é definitivamente o nosso objetivo e é algo para o qual estamos totalmente capazes. Não há dúvida disso.

- Como será a luta com clubes como Benfica e Sporting?

- Acho que vai ser uma competição renhida porque, se fizermos o nosso trabalho e as outras equipas também fizerem o delas, torna-se mais difícil. Portanto, será sempre uma questão de qual vai ser a equipa mais forte em determinado momento. Mas, sim, acho que somos capazes de competir pelo título. É esse o nosso objetivo.

- O SC Braga oferece-vos todas as condições para lutar por esse objetivo?

- Temos as condições necessárias para isso. Jogamos e treinamos em relva e, como sabes, nem sempre é fácil no norte do país, por causa do clima, mas o clube faz um bom trabalho nesse sentido, porque toda a gente sabe que é algo muito importante para nós. E também, quero dizer, o SC Braga vai construir um novo estádio para a equipa feminina, o que vai ser ótimo. Especialmente porque vai fazer parte da Cidade Desportiva. Acho isso muito giro, porque vamos ter a nossa equipa feminina perto da nossa equipa masculina, que é reconhecida a nível mundial. Acho que isso mostra a intenção do clube para o lado feminino também.

Ellie Walker espera inspirar as gerações mais jovens
Ellie Walker espera inspirar as gerações mais jovensSC Braga

"É importante que as gerações mais jovens percebam que é possível"

- O futebol jogado por mulheres tem crescido muito em Portugal e no Mundo. Como imagina o crescimento nos próximos anos?

- As redes sociais assumem um papel muito importante na divulgação, até mesmo no sentido de trazer as gerações mais novas para o futebol e garantir que elas se sintam incluídas no processo, e que vejam que é possível. E acho que, do meu ponto de vista, ao sair do futebol universitário sem saber nada sobre o mundo internacional do futebol, perceber que isso é acessível, que há oportunidades em tantos outros países. Acho que, só o facto de as pessoas perceberem isso e saberem que vai continuar a crescer, é algo importante. Ou seja, vai continuar a crescer, vai haver mais adeptos e vai haver mais pessoas a querer envolver-se de várias formas.

- A Ellie vem de uma realidade completamente diferente. Como explica o sucesso do feminino nos Estados Unidos?

- Acho que o investimento é uma parte importante. Depois o sistema universitário que temos tem contribuído muito para a evolução do futebol feminino. Nós estudamos, mas também continuamos a jogar a um nível muito alto. Mas a distância para os outros países tem vindo a diminuir. A competição está a ficar mais forte, e isso é uma coisa muito boa para a evolução do futebol feminino como um todo. 

Os próximos jogos do SC Braga
Os próximos jogos do SC BragaFlashscore

- Que tipo de mudanças espera que aconteçam no futuro?

- Pode sempre ser melhorado do ponto de vista financeiro. Sei que os clubes menores podem não ter os recursos necessários, por isso é difícil esperar isso de forma geral. Mas acho que a coisa que as pessoas precisam de continuar a fazer, especialmente nesta indústria, é continuar a exigir, continuar a dar atenção e continuar a lutar por essas mesmas coisas, porque sinto que quanto mais atenção houver sobre o assunto, mais as pessoas vão querer mudar as coisas.

- Qual a mensagem que deixa para as jogadoras mais novas?

- Acho que o mais importante é apostares em ti mesma, confiares em ti e continuares a ter a tua própria motivação. Acho que, especialmente quando começamos a alcançar novos níveis ou estamos longe de casa, temos de estar sempre bem connosco mesmas e com o que estamos a fazer, porque, no final do dia, vão existir dias realmente difíceis. Vão haver momentos em que vamos questionar tudo. Mas aí temos de continuar e seguir em frente com base na nossa própria paixão e motivação.

- Quais os seus planos para o futuro?

- Penso muito no dia-a-dia e em fazer o meu trabalho da melhor forma possível para ajudar o clube onde estou. Acho que isso se tornou a minha prioridade. Nas duas equipas em que estive em Portugal, a primeira pergunta era sempre: como posso ajudar e como posso melhorar? Porque, no final do dia, isso ajuda a minha carreira e a ir o mais longe possível. Acaba por ser uma coisa dia-a-dia, até porque no futebol as coisas mudam tão rapidamente. E nunca se sabe com as lesões. Há tantos fatores imprevisíveis nesta carreira.

- A verdade é que também nunca pensou em vir para Portugal e...

- É muito engraçado. Do meu grupo de amigas mais restrito do final da minha carreira universitária, eu talvez tenha sido a última a ir jogar profissionalmente. E agora estou tipo: 'esta é a minha vida'. Como disse, há tantas coisas imprevisíveis que podem interferir. É dia-a-dia. Mas estou a gostar muito do que estou a viver.

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