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Janaina Weimer é a melhor marcadora do Torreense: "Acredito muito no meu potencial"

Janaina Weimer em destaque no Torreense
Janaina Weimer em destaque no TorreenseSCU Torreense, Flashscore
O Flash Feminino é a nova rubrica quinzenal do Flashscore, dedicada a destacar as principais protagonistas da Liga Feminina. Neste espaço, traremos entrevistas exclusivas com as jogadoras que brilham nos relvados nacionais. A nossa 18.ª convidada é Janaina Weimer, jogadora do Torreense.

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"Sempre foi um sonho jogar na Europa"

- Quais as primeiras memórias relacionadas com o futebol?

- O que me lembro, ainda muito nova, era de ver o meu irmão a jogar futebol com os amigos. A partir daí, comecei a gostar e até me inscrevi numa escolinha de futsal em Arabutã, quando tinha oito anos.

- Como era nessa altura? Era normal ver meninas a jogar?

- Não, não era comum. Por isso, eu jogava com os rapazes. Mas era tranquilo com eles.

Janaina deixa elogios ao Torreense
Janaina deixa elogios ao TorreenseOpta by Stats Perform, SCU Torreense

- Quando percebe que dava para seguir o caminho de jogadora de futebol?

- É difícil explicar. Antes de vir para Portugal, eu estava num clube que me oferecia uma bolsa de estudos para a faculdade (Direito), então dividia o meu tempo entre os estudos e o futebol. O futebol era, na verdade, a prioridade, porque o objetivo era conseguir a bolsa. Mas depois veio a pandemia e o clube mandou as jogadoras embora. Ou seja, o projeto do Criciúma acabou, e surgiu a oportunidade de vir para Portugal. Não pensei duas vezes, até porque estava sem clube e sempre foi um sonho jogar na Europa.

- Esse momento ainda no Brasil foi difícil?

- Primeiro, tive que interromper a faculdade, o que não agradou muito à minha família. Fiquei alguns meses na casa dos meus pais durante a pandemia, mudando-me para Portugal a meio da Covid. Foi uma adaptação difícil.

- Qual foi a sua ideia assim que lhe falaram sobre a possibilidade de vir para Portugal?

- Não pensei duas vezes, aceitei na hora. Estava sem clube. E seria o meu primeiro clube profissional, por isso vim.

A forma recente do Torreense
A forma recente do TorreenseFlashscore

- Como foi chegar a Portugal, um novo país, um novo continente, tudo tão diferente na sua vida?

- Foi muito desafiador, ainda é. Muito desafiador, porque ficamos longe de tudo e de todos, sem rede de apoio. Aqui, acabamos por ser muito independentes.

- Hoje em dia considera que essa foi a melhor decisão?

- A minha ideia, quando aceitei vir para Portugal, era passar uma época. Queria vir para testar, ver como era o país e me adaptar. Até falei com a minha família: "Vou ficar um ano, se não gostar, volto." Acabei por ficar mais tempo, porque gosto muito de Portugal. A nível profissional, o país acolheu-me muito bem. Foi aqui que me tornei profissional, onde ganhei visibilidade, e por isso quero continuar aqui.

- Encontrou muitas diferenças?

- Sim, sim, acho que todos notam essa diferença. Taticamente falando, acho que consegui adaptar-me bem, sempre com muitos golos.

- Satisfeita com o que tem feito?

- Estou muito satisfeita e, sem dúvida, quero fazer ainda mais.

Janaina cumpre segunda época no Torreense
Janaina cumpre segunda época no TorreenseSCU Torreense

"Só preciso de oportunidade para mostrar o que posso fazer"

- A Janaina está na segunda época no Torreense. Como foi essa mudança?

- Tenho de ser sincera. Agora as coisas estão a correr bem, mas não foi nada fácil. Na época passada joguei pouco, tive poucas oportunidades, por isso não foi uma fase muito positiva para mim...

- Chegou a ser notícia por ser a "suplente de luxo", porque fazia golo sempre que entrava, sem precisar de muitos minutos. Mas as coisas estão a melhorar...

- Olha, sinceramente, acho que nenhuma atleta se sente confortável ao ver uma manchete como “Banco de Luxo”. Eu sentia-me muito incomodada, porque era uma jogadora a treinar arduamente todos os dias, a lutar pelo meu espaço. Mas, por estratégia ou decisão do treinador, acabava por não jogar. Foi difícil, e ainda é, lidar com isso.

- Marcou dois golos no último jogo - vitória sobre o Damaiense (2-0). Importante para ganhar confiança?

- Acho que não é uma questão de confiança — eu acredito muito no meu potencial. Só preciso mesmo é de oportunidade para mostrar o que posso fazer e fazer as coisas acontecerem.

Janaina celebra com as companheiras de equipa
Janaina celebra com as companheiras de equipaSCU Torreense

"Torreense oferece tudo o que precisamos para estarmos ao mais alto nível"

- Para quem não conhece a realidade, como apresenta o Torreense?

- Bom, eu sei que você já entrevistou a (Carolina) Correia, e vou muito ao encontro do que ela disse. O Torreense oferece tudo o que precisamos para estarmos ao mais alto nível. Temos vindo a consolidar bons resultados e, em termos de estrutura, é muito boa. Fornecem-nos tudo, não tenho nada a apontar.

- Estamos na reta final da temporada e o Torreense já estabeleceu a melhor pontuação da sua história na Liga, esteve nas meias-finais da Taça da Liga e ainda vai jogar as meias da Taça de Portugal. O que ainda podem fazer até ao final?

- É uma pergunta difícil, porque são poucos jogos e todos decisivos. Em relação à Taça, a equipa está muito unida, muito confiante, e acreditamos no nosso trabalho e que coisas boas ainda podem acontecer.

- Qual é a sua opinião sobre a Liga?

- Acho que, a partir desta época, foi quando se sentiu mais competitividade na Liga. Todas as equipas estavam claramente bem preparadas, com boas estratégias, excelentes atletas e equipas técnicas competentes. Isso contribuiu imenso para a visibilidade da nossa Liga, inclusive lá fora.

Torreense ocupa 5.º lugar da tabela classificativa da Liga
Torreense ocupa 5.º lugar da tabela classificativa da LigaFlashscore

- O que distingue o vosso grupo? Sente-se bem integrada no plantel?

- Claramente, sinto-me muito abraçada. A nossa equipa é muito unida, tanto dentro como fora de campo, e isso reflete-se nos resultados — acaba por nos favorecer bastante. (...) É uma boa equipa, um ótimo balneário. É muito bom estar com elas.

- E no início da época pensavam que era possível fazer o que estão a fazer?

- Pelo grupo, sim, porque sempre acreditamos muito no nosso potencial. Temos jogadoras inteligentes, com características distintas, o que nos permite adotar estratégias variadas.

- A Janaina é a melhor marcadora da equipa, com 13 golos. O que justifica esse estatuto?

- Sou uma jogadora muito frontal, objetiva, sempre com os olhos na baliza. Procuro o golo de todas as formas, o tempo todo. Trabalho intensamente para isso, foco bastante na finalização e fico o tempo que for preciso para melhorar. Estou sempre em busca de evolução.

- Consegue apontar o melhor golo que fez em Portugal? Recordo-me de um ao Marítimo na temporada passada...

- Esse foi bom, sim, mas o que mais gostei de fazer, o que mais me emocionou, foi o golo contra o Benfica aqui em casa, quando estávamos a ganhar 1-0. Acho que foi o melhor golo da minha carreira até agora, principalmente pelo nível competitivo da outra equipa. Acho que toda a gente quer marcar contra as grandes equipas, e foi muito importante para mim.

Resumo da partida entre Torreense e Benfica
FPF

- Por falar nisso, como é para vocês jogadoras defrontarem equipas como Sporting, Benfica e/ou SC Braga, claramente com outro tipo de recursos?

- Acho que, por serem essas equipas, entramos com uma motivação extra, querendo mostrar o nosso melhor — tanto a nível individual como coletivo. Entramos com muita vontade, muita garra, e sempre com a mentalidade de vencer. Independentemente da equipa adversária, queremos sempre dar o nosso melhor e enfrentar o jogo da melhor forma possível.

Janaina é a melhor marcadora do Torreense
Janaina é a melhor marcadora do TorreenseSCU Torreense

"Evoluí bastante graças ao mister Nuno Cristóvão, sou muito grata a ele"

- Está há cinco anos em Portugal. É hoje muito diferente do que era quando veio para o nosso país?

- Sim, claramente. Com o passar dos anos, vamos ganhando mais sabedoria e capacidade. Uma coisa que sempre falo e gostaria de acrescentar é que, a nível desportivo, a Janaina que sou hoje não é a mesma que era no Brasil. Aqui, aprendi muito e evoluí bastante.

Isso foi graças ao mister Nuno Cristóvão. Sou a jogadora que sou hoje por ter passado por ele. Ele foi o meu treinador no Racing Power, e sou muito grata por essa experiência, porque ele transformou-me numa ótima avançada.

- Você passou pelo futsal antes de se dedicar ao futebol. A transição foi difícil? De que forma o futsal contribuiu para o seu desenvolvimento no futebol?

- O futsal ajudou bastante na técnica, habilidade e agilidade. (...) Não tive dificuldades na transição do futsal para o campo, e acredito que isso contribuiu muito para a jogadora que sou hoje. Busquei o futebol pela visibilidade que ele oferece. Caso contrário, teria continuado no futsal. Mas precisei de mais visibilidade e oportunidades, e encontrei isso no futebol. Ao transitar para o campo, acabei por me identificar com novos espaços e diferentes realidades.

- Nem sempre é fácil ir atrás de um objetivo. Algum arrependimento por ter ido atrás do futebol?

- Quando decidi que queria ser jogadora, não havia barreiras nem obstáculos na minha cabeça. Sempre olhei para o futuro, com muita determinação. Acho que foi esse tipo de pensamento que me trouxe até onde estou hoje. Sempre segui em frente, independentemente das dificuldades, sem me focar nos obstáculos. Só fui para a frente.

- E o que gosta mais de Portugal?

- Eu gosto muito de viver aqui. A vida é diferente, e se perguntarem a qualquer brasileiro, eles vão dizer o mesmo. Gosto muito do futebol que é jogado aqui e, em breve, já sou portuguesa também. Trocava facilmente o Brasil por Portugal. Já até falei isso com a minha família, mas pena que eles não querem vir (risos).

Janaina mudou-se na altura da pandemia para Portugal
Janaina mudou-se na altura da pandemia para PortugalSCU Torreense

"Eu dou tudo dou tudo pelo futebol, e ele me dá tudo"

- Aos 25 anos, quais são os sonhos da Janaina?

- Como qualquer jogadora, também sonho em chegar à seleção. Quero também jogar nos melhores campeonatos, ao lado das melhores jogadoras, e estar sempre ao mais alto nível.

- É tudo uma questão de oportunidade… Acredita que tem capacidade para responder se tiver essas oportunidades?

- Sim, sinto-me muito confiante e segura. Tenho plena confiança nas minhas características. Assisto outras jogadoras em outras ligas e sinto que tenho a competência necessária para jogar em equipas de alto nível, em ligas de grande exigência.

- Imagine que eu sou um diretor de um clube e você é a empresária da Janaina. O que diria para me convencer a contratá-la?

- Olha, sou uma pessoa que não aceita muito elogios, sou a primeira a me criticar. Por isso, é difícil para mim falar sobre isso. Mas vou ao encontro do que ouço diariamente, do que as pessoas me dizem: que sou uma boa finalizadora, que consigo finalizar com os dois pés. Isso é o meu grande diferencial, além da minha capacidade física e leitura de jogo. (...) A minha velocidade também é um ponto forte.

Os próximos jogos do Torreense
Os próximos jogos do TorreenseFlashscore

- E do ponto de vista mais pessoal?

- Sou uma pessoa tranquila, boa de grupo. Acho que em todas as equipas por onde passei, sempre fui uma boa companheira. Uma pessoa amiga, disposta a ajudar sempre que for necessário.

- Que conselho daria às jogadoras mais jovens, especialmente no Brasil, que sonham em vir para a Europa, mas ainda têm dúvidas sobre como alcançar esse objetivo?

- O mais importante é acreditar em si própria e seguir o que o coração deseja. Eu acreditei no meu sonho, não precisei que ninguém me dissesse o que fazer. Então, arrisquei, e é esse o conselho que dou: arrisquem.

- Janaina, o que gostaria que dissessem sobre si no dia em que decidir terminar a carreira?

- Gostaria de ser reconhecida pelo que fiz, ter o reconhecimento e respeito que mereço. Quero ser uma jogadora exemplar, tanto dentro como fora de campo.

- E o que acha que vai dizer sobre Portugal nessa altura?

- Portugal representa o símbolo de gratidão, porque foi aqui que encontrei um verdadeiro lar. Foi em Portugal que dei os meus primeiros passos profissionais, os quais consolidaram uma carreira brilhante.

- Por fim: o que significa o futebol para si?

- Para mim, o futebol é a minha grande paixão. Eu dou tudo dou tudo pelo futebol, e ele me dá tudo.

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