O tema é futebol e os olhos de Laura Luís brilham. Conhecida como a "menina das bicicletas", é um verdadeiro exemplo para as novas gerações de como se deve estar no futebol: com paixão, humildade e entrega.
Depois de mais uma passagem pela ilha da Madeira, ponto de partida após encerrar um capítulo bonito no SC Braga, a experiente avançada regressou ao Continente para abraçar um novo e exigente desafio no Clube de Albergaria.
O desfecho não foi aquele que idealizou quando assinou, mas a experiência já serve como "aprendizagem" para o futuro - porque no futebol, como na vida, cada etapa deixa ensinamentos. E o bom do futebol é que há sempre uma nova oportunidade.

"Inicialmente, o meu desejo era mesmo voltar ao continente. Tive uma lesão e queria recuperar cá. Tinha as expectativas em alta, via muita vontade, mas a falta de recursos do clube acabou por ditar aquilo que foi a época e fez com que não conseguíssemos os melhores resultados. No entanto, nós, jogadoras, somos as principais responsáveis. Não correu bem", admite a experiente avançada, em conversa exclusiva com o Flashscore.
"Tinha tido o ato de coragem de deixar o SC Braga, onde estava um pouco acomodada. Queria jogar mais. No Marítimo fiz uma boa época e, este ano, apesar de só ter começado em novembro — foi difícil porque não tive pré-época —, houve bastante gestão, tanto por parte da equipa técnica como da minha parte, para aguentar a época. Foi um grande desafio. Acho que, mesmo assim, a nível pessoal correu bem: algumas assistências, alguns golos. Custa muito ter no currículo uma descida de divisão, mas é algo que temos de encarar como aprendizagem", reforça.

"Aos poucos começo a pensar muito no futuro após o futebol"
O período de férias serve para refletir. Aos 32 anos, a avançada madeirense sente que ainda tem força para continuar a jogar "mais um ou dois anos", mas vai também pensando no futuro. Ou melhor, vai refletindo e preparando o terreno para estar em condições de abraçar novos desafios — também eles ligados ao futebol.
"Aos poucos começo a pensar muito no futuro após o futebol. Tenho 32 anos, mas ainda sinto que posso dar mais ao futebol. As propostas têm surgido, ainda que lentamente, inclusive de fora do país. Está tudo em análise. Vejo-me com vontade de voltar a jogar no estrangeiro, talvez por um ou dois anos", revela.
"Estou a aguardar para tomar uma decisão — seja para continuar a jogar, seja para abraçar outro projeto, porque tenho formação na área da gestão e sou treinadora UEFA B. Se surgir algo interessante, por que não? Já tive várias lesões ao longo da carreira, por isso também não fecho a porta a terminar já. Não é aquilo que mais desejo, mas se for um bom projeto... quem sabe. A primeira opção, ainda assim, é jogar mais um ou dois anos. O futuro está em aberto", sublinha.
Laura passou dois anos nos Estados Unidos e quatro na Alemanha, antes de regressar a Portugal no verão de 2017. Oito anos depois, sente-se pronta para uma nova experiência além-fronteiras: "Assusta um bocadinho, claro, mas já passaram oito anos. A maturidade agora é outra. Não consigo dizer se estou completamente preparada — não sei —, mas se surgir uma boa proposta para esta fase final da minha carreira, acho que vou abraçar o desafio. Temos de ter coragem para dar esse passo e depois perceber se estamos ou não preparados."
Mas no horizonte está também, naturalmente, um possível papel numa equipa técnica — e já houve contactos nesse sentido: "Considero-me uma jogadora inteligente, gosto de colocar as minhas colegas a jogar e a marcar. É algo que vários treinadores já reconheceram, até porque alguns já me abordaram para integrar as suas equipas técnicas. É sinal de que a minha visão do jogo coincide com a deles. Se surgir um bom projeto para trabalhar com um desses treinadores que já manifestaram interesse, acho que seria muito interessante. Uma experiência muito boa, que tem de começar por algum lado."
"Sempre procurei conciliar os estudos com o futebol. Sou mestre em gestão desportiva e continuo a frequentar vários cursos, nomeadamente da Portugal Football School e outros. Tento sempre manter-me atualizada, também na vertente de treinadora. A intenção é continuar a evoluir. Sei que a formação em gestão me vai ajudar muito. Também estudei nutrição. Todas estas áreas ligadas ao desporto acabam por se complementar e vão ser sempre uma mais-valia", remata.

"Acredito que será a primeira vez que Portugal se vai apurar"
Laura Luís é um dos nomes que pode falar com propriedade sobre o rumo do futebol feminino em Portugal. Esteve presente na primeira fase final de um Campeonato da Europa disputado por Portugal e acompanhou de perto o boom da modalidade no nosso país. Apesar de algumas dificuldades sobejamente conhecidas, a avançada mostra-se confiante em relação ao futuro.
"Em relação à nossa liga, penso que está cada vez mais competitiva. Há cada vez mais clubes a pensar em profissionalizar o futebol feminino, e isso é excelente para o nosso crescimento. A nossa seleção está a atravessar uma fase delicada, mas o trabalho, o talento e a evolução continuam lá. É apenas uma fase. Precisamos que a seleção continue a crescer para que a nossa liga também se fortaleça. A FPF e os clubes têm apostado cada vez mais no futebol feminino", considera.

Já em relação à Seleção Nacional, a internacional lusa em 53 ocasiões (com oito golos) tem um feeling: "Os resultados mais recentes não têm sido os melhores, mas quero acreditar que no Euro vai ser diferente. É o palco onde qualquer jogadora quer estar. Vão dar tudo em campo. (...) Estarei presente num dos jogos e espero que a seleção consiga estar em destaque. Acredito mesmo — estou confiante — que será a primeira vez que Portugal se vai apurar".
E como gostaria Laura de ser recordada no dia em que decidir colocar um ponto final na sua carreira de jogadora? "Como uma pessoa amiga, humilde, que está sempre disponível para ajudar. No futebol, gostava de ser lembrada como "a menina das bicicletas". É algo que levo para a vida e de que tenho muito orgulho."