Dois, sete, dois, um, quatro, oito, três e seis. Total: 33. Os números impressionam. Susana Rocha é a melhor marcadora dos campeonatos nacionais femininos em Portugal. Aos 26 anos, a avançada aceitou o desafio no Lusitânia de Lourosa, da 3.ª divisão, e o resultado da soma da felicidade é traduido em golo. Ou golos. Muitos golos.
Com passado na primeira e segunda divisões, a camisola 9 do emblema do distrito de Aveiro não se mostra desapontada pelo seu presente num escalão secundário. O mais importante, garante, é estar "feliz" a jogar futebol.
"Sei do que sou capaz e do que consigo fazer, e sei que tenho capacidades para estar num patamar acima. Mas acho que foi importante voltar a encontrar-me e acreditar em mim. Estar feliz, acima de tudo, é o mais importante para mim", admitiu a avançada, em declarações ao Flashscore.
"Já passei pela Liga, era mais nova, depois estive na Segunda. Afastei-me um bocado da minha zona de conforto, e não estava a ser fácil a adaptação. Optei por regressar e, agora, o mais importante é estar feliz", justifica.
"Se surgir uma oportunidade para um patamar mais acima, vai aparecer com naturalidade. Não escondo que o meu desejo seria conseguir estar em palcos maiores", sublinha.

"'Quando está difícil, a Su aparece'"
A paixão pelo futebol floresceu em criança. Susana era desafiada pelos rapazes para juntar-se a eles nos torneios da escola. Aos 13 anos teve o primeiro contacto com uma equipa feminina e, ao longo dos anos, procurou arranjar sempre um espacinho bem generoso na sua vida para o futebol.
O destino quis que 2024/25 fosse passado no Lusitânia de Lourosa, longe dos palcos que começam a ganhar nome na Liga. Susana e as suas companheiras de equipa treinam às segundas, quartas e sextas, sempre depois das 20:00, até porque 95% das jogadoras tem no futebol uma segunda vida para lá do trabalho e/ou estudos.
"É amor, mesmo! Não imagino o que é um fim de semana sem jogo e, quando não há, penso: 'O que vou fazer!?'", conta, entre risos.
Se ainda há espaço para crescimento no principal escalão, imagine-se o caminho que ainda há a percorrer na terceira divisão, onde vemos com relativa frequência resultados muito desnivelados.
"A terceira divisão tem vindo a evoluir. Para muitas jogadoras este é o primeiro contacto com a bola, mas vão aos treinos e continuam a manter o gosto pelo futebol. Não é fácil ir para os jogos e sofrer muitas goleadas. Mas são felizes...", aponta.

Felicidade. É a palavra de ordem desta entrevista. Susana está feliz com o momento que está a viver no Lusitânia de Lourosa. 33 golos em oito jornadas do campeonato. Como é possível?
"Sou uma jogadora muito veloz, estou sempre à procura da desmarcação e sou muito assertiva no meu jogo. Mas o que me deixa mais feliz é conseguir ajudar a minha equipa. Se estiver feliz, os golos surgem com naturalidade e não vivo obcecada com isso", explica.
"Agora, claro que é bom marcar golos. E sinto que, por conseguir marcar e destacar-me, a minha equipa conta comigo para isso. 'Quando está difícil, a Su aparece'. É um bocado isto. Meta de golos? Não tenho. O que eu quero é mesmo ajudar a minha equipa a atingir o objetivo, que está próximo, se possível com golos. É isso que me motiva", acrescenta.
Um sonho azul e branco
Susana Rocha está feliz e comprometida com o Lusitânia de Lourosa. Os números nem sequer dão margem para dúvidas. Mas o sonho é de outras cores: azul e branco.
"Jogar no FC Porto é um dos meus sonhos. Sou portista e, desde que abriram a secção, o meu sonho passou a ser vestir essa camisola. Sei que é muito complicado, mas tenho sempre essa esperança. Mas vivo um dia de cada vez, estou feliz onde estou", assinala a avançada.

"Não posso esconder que é o meu grande objetivo. Se a proposta chegasse, acredito que iria chorar. Eu e os meus pais. Seria um privilégio", sustenta.
O passado está lá atrás, o presente é muito promissor e o futuro encontra-se quando tiver de ser. Até lá há uma mensagem importante a deixar às jovens jogadoras: "Nunca desistam, por muito que pareça impossível. Há espaço para todas. E, acima de tudo, sejam felizes".
"O futebol, para mim, é paixão e vida". E golos. Muitos golos.