Apologia do risco
A participar pela terceira vez na fase de grupos da Liga dos Campeões, o SC Braga apetrechou o plantel de Artur Jorge para fazer boa figura na principal prova europeia de clubes. E se é certo que a equipa conta com José Fonte e João Moutinho, habituados a grandes jogos, o técnico acabou por deixar os principais nomes de fora.
Serdar Saatçi formou dupla com Niakaté, o que permitiu à defesa dar uns passos mais à frente em termos de pressão. Joe Mendes tomou o lugar do lesionado Víctor Gómez na direita, e Álvaro Djaló foi o escolhido para o lugar de Bruma, com dificuldades físicas.
No lado merengue, Vinícius Júnior e Rodrygo eram as sentas apontadas à baliza arsenalista, com Bellingham a municiá-los.

Em casa mando eu
Este foi, talvez, o adversário mais sonante que o SC Braga defrontou e a expectativa era palpável nas bancadas do Estádio Municipal bracarense. O orgulho de ver a equipa na elite do futebol europeu misturava-se com o desejo de assistir in loco aos nomes que maravilham o futebol mundial e que parecem saído dos videojogos.
Ainda assim, o SC Braga conseguiu dominar um eventual assoberbamento e entrou muito bem na partida. Personalizada, a equipa de Artur Jorge assumiu o controlo do jogo como anfitrião. Apesar da linha de cinco (Vítor Carvalho intrometeu-se entre os centrais), a equipa defendia com um bloco médio-alto e apostava na qualidade de Al Musrati para ligar com Álvaro Djaló.

Os génios são assim
Pese embora o relvado dar uma impressão contrária, a diferença entre os plantéis de SC Braga e Real Madrid, em termos de qualidade individual é grande. A equipa merengue entrou algo apática no Minho, talvez com a soberba de quem sabia ser superior confiando nas individualidades.
E o gigante espanhol acabou por ter razão. A apologia do risco praticada pelos arsenalistas ia dando resultados em termos ofensivos, mas no lado defensivo a fatura foi paga. Sem referências ofensivas, Serdar Saatçi e Niakaté viram-se muitas vezes obrigados a lidar com as arrancadas de Vinícius Júnior e Rodrygo.

E foi assim que o Real Madrid chegou ao golo. Nacho lançou Vinícius Júnior, o extremo brasileiro virou Serdar Saatçi e colocou a bola em Rodrygo (16 minutos), que se antecipou a Niakaté na área. Os génios são assim e quando é preciso fazem a diferença.
A necessidade de um plano B
O SC Braga não abanou com o golo sofrido (ficou meso perto do golo aos 20, com Bellingham a negar o remate a Al Musrati). A equipa tentou reencontrar-se e retomar a postura de controlo que tinha mostrado nos minutos finais. O problema? O Real Madrid já tinha encontrado o antídoto.
Percebendo que Rodrygo e Vinícius Júnior apareciam constantemente em situações de um para um e com espaço para correr, a equipa merengue aproveitou-se dessa moleta para esticar o jogo e assim sair com perigo.
Matheus negou Vinícius Júnior aos 27 minutos e já a chegar ao final do primeiro tempo, o extremo brasileiro teve má pontaria e foi só assim que o marcador se manteve com a vantagem mínima ao intervalo.
À entrada para os balneários, uma coisa era certa: O SC Braga precisava de um plano B.

Reveja aqui as principais incidências da partida
Coragem em excesso
A segunda parte não trouxe plano B. É certo que ninguém pode apontar o dedo ao SC Braga pela forma como se apresentou diante daquele que pode ser considerado como o maior clube de mundo, e deve-se elogiar a coragem de uma equipa que procurou sempre a vitória.
Contudo, a coragem de cair de pé acabou por ser o pecado capital dos arsenalistas. A insistência numa constante exposição ao risco da defesa (que se via envolvida em duelos individuais com jogadores mais habilidosos) foi explorada por um Real Madrid que se mostrava cada vez mais confortável no jogo.
É assim que surge o segundo golo do Real Madrid. Rodrygo disparou na direita, cruzou para Vinícius Júnior. A bola acabou por sair demasiado larga, mas o extremo brasileiro atraiu todo os olhares e libertou Bellingham que teve a pontaria certa (minutos antes tinha obrigado Matheus a uma grande defesa) para fazer o segundo golo merengue aos 61 minutos.
Linha de vida
O Estádio Municipal de Braga silenciou-se. A derrota sempre pareceu o resultado mais certo, mas se há motivo pelo qual o futebol é apaixonante é porque dentro de campo nada é certo e a ilusão de que tudo é possível está presente em cada apito inicial. Contudo, o 2-0 era um frio banho de realidade para os adeptos arsenalistas.
Que durou pouco. Dois minutos depois de ter sofrido o segundo golo, o SC Braga conseguiu reduzir. Numa jogada construída pelo lado direito, Joe Mendes cruzou a bola rasteira, com Banza a amortecer para Álvaro Djaló fuzilar a baliza de Kepa.
Uma das figuras do SC Braga esta época, o extremo espanhol agarrou o conjunto arsenalista ao jogo, fez renascer a esperança.
O conjunto minhoto pareceu revigorado na perseguição de um resultado que ficaria inscrito na história do clube.
E ninguém mais apto a ser herói do que Ricardo Horta. O capitão teve nos pés uma oportunidade de ouro aos 70 minutos, mas Kepa Arrizabalaga conseguiu, desajeitadamente, desviar o remate.
Do mais experiente, para o estreante. Acabado de entrar, Diogo Fonseca (que se estreava na Liga dos Campeões) ficou a centímetros de ter um cabeceamento do qual não mais se ia esquecer.
Apesar de um último aperto final, o SC Braga acabou por não conseguir quebrar a defesa merengue e somou a segunda derrota nesta fase de grupos da Liga dos Campeões, curiosamente, as duas em casa. Ainda assim, ficará recordada a imagem de ousadia da equipa de Artur Jorge, ainda que nem sempre bem medida.
O Real Madrid está isolado na liderança com nove pontos, mais três que o Nápoles, no segundo lugar. O SC Braga encontra-se no terceiro posto, com três pontos, enquanto o Union Berlim ainda não pontuou.
Homem do jogo Flashscore: Vinícius Júnior (Real Madrid).
