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Exclusivo com Azpilicueta (parte 1): "Mourinho estava sempre um passo à frente"

Azpilicueta trabalhou com Mourinho no Chelsea
Azpilicueta trabalhou com Mourinho no ChelseaČTK / AP / Matt Dunham, Flashscore

César Azpilicueta teve – e ainda tem – uma carreira futebolística repleta de êxitos, com a grande maioria dos seus dias de glória no seu antigo clube, o Chelsea. Desde ser peça-chave nas equipas campeãs da Premier League com José Mourinho e Antonio Conte, até levantar a Liga dos Campeões com Thomas Tuchel, a passagem do espanhol por Stamford Bridge foi um verdadeiro sonho.

Na primeira parte de uma entrevista exclusiva ao Flashscore, Azpilicueta fez um balanço de mais de uma década a competir por títulos sob as ordens de alguns dos melhores treinadores do mundo.

Entrevista a César Azpilicueta
Flashscore

- César, obrigado por aceitar o nosso convite. 11 anos, 11 temporadas e mais de 500 jogos pelo Chelsea. Existe algum hábito invisível que tenha tido de manter ao longo de 11 temporadas no Chelsea?

Sou muito disciplinado. Tento sempre manter rotinas para estar em forma e disponível. Isso é algo a que dediquei muito tempo, porque o meu objetivo foi sempre pensar no jogo seguinte. Estou muito grato porque contei com a confiança de muitos treinadores durante as minhas 11 temporadas lá, e desfrutei de grandes momentos.

- A que se refere com disciplina? Como é o seu dia a dia? Trata-se de treinar, da alimentação? Tem algum ritual?

Tudo. Também manter o equilíbrio entre os jogos, tanto quando se ganha como quando se perde. Mentalmente, sou muito autocrítico e estou sempre à procura da perfeição. Mesmo quando faço um bom jogo, penso em como poderia ter feito melhor. Dedico tempo a ver vídeos, à recuperação, fisioterapia, alongamentos, tudo o que possa fazer para estar a 100%. Porque em Inglaterra, sobretudo, a exigência é máxima, por isso fiz tudo o que podia para estar preparado.

- Não podemos falar consigo sem mencionar José Mourinho. Ele reconverteu-o de lateral-direito em lateral-esquerdo, e ele próprio disse que foi o melhor lateral-esquerdo da liga na temporada 2014/15, quando o Chelsea ganhou a Premier League. O que tinha de especial o "Special One"?

Ele controlava tudo. Acho que a sua experiência, a sua visão do futebol, a forma de competir, notava-se que estava sempre um passo à frente. Essa é a realidade. Pessoalmente, aprendi imenso com ele. No início não foi fácil. Cheguei um pouco mais tarde porque estava na Taça das Confederações com Espanha, por isso a equipa já estava mais consolidada e eu tentava aprender, não fazia parte do onze, mas senti sempre a sua confiança. Sempre acreditou em mim. Incentivou-me a continuar a trabalhar e a esperar pela minha oportunidade. Branislav Ivanovic era o nosso lateral-direito. O que posso dizer? Era fortíssimo, muito bom. Ashley Cole era o lateral-esquerdo, uma lenda tanto em Inglaterra como no Chelsea. Não foi fácil, mas tive a oportunidade de aprender com eles e com o José, e pouco a pouco fui conquistando o lugar de lateral-esquerdo. Depois chegou ao Chelsea Filipe Luís, que na altura talvez fosse o melhor lateral-esquerdo. Isso deu-me concorrência, obrigou-me a ajudar a equipa e a aportar algo diferente, por isso tive de dar um passo em frente e, sim, joguei muito e desfrutei. Joguei ao lado de John Terry à esquerda, o que para mim foi uma lição magistral de como defender. Estou muito grato por ter tido a oportunidade de aprender com ele.

- Também encontrei uma frase de José Mourinho que dizia: "Se tivéssemos 11 Azpilicuetas, ganharíamos a Liga dos Campeões." O que significa para si ouvir isso agora?

Quando ouvi isso dele, a verdade é que... não estava à espera, deixou-me um pouco surpreendido. Mas, claro, é incrível ouvir isso do seu treinador, alguém como o José, que é um dos melhores do mundo. Por isso, sim, estou grato, e isso motivou-me a tentar ser sempre a referência.

- Teve grandes treinadores, um deles Antonio Conte. Como o descreveria e as mudanças que fez no plantel quando chegou ao Chelsea?

Era muito exigente e teve a coragem de mudar o sistema assim que chegou. Quis jogar com um 4-2-4, depois passámos para o 4-3-3 e os resultados não apareciam. Depois, ao começar a semana seguinte, planeou tudo para jogar com um 3-4-3. E a partir daí, somámos 13 vitórias seguidas, as seis primeiras sem sofrer golos. Isso deu-nos um impulso e muita confiança, e acabámos por vencer 30 jogos em 38 na Premier League, que era o recorde na altura. Além disso, joguei numa nova posição, como defesa-central direito, e a verdade é que gostei muito.

- Depois chegou Thomas Tuchel, que aterrou a meio da temporada, e apenas alguns meses depois levantaram a Liga dos Campeões. Qual foi a maior mudança que introduziu na equipa?

Não é fácil mudar de treinador a meio da temporada. Não estávamos no nosso melhor momento, mas quando chegou ao Chelsea, deixou muito claro como queria que jogássemos. Fomos ganhando ritmo, passo a passo. Sobretudo, defensivamente, estivemos muito sólidos, embora não trabalhássemos tanto a defesa nos treinos. Jogávamos muito, mas a forma como queria que tivéssemos a bola permitia-nos recuperar muitas bolas à frente e criar ocasiões. E em cinco meses acabámos por nos qualificar para a Liga dos Campeões, ganhámos a Liga dos Campeões e perdemos a final da Taça de Inglaterra. Transformámos o grupo, porque éramos os mesmos. E sim, foi algo muito especial.

- Mencionou antes John Terry. Voltando ao plantel campeão de 2014/15: jogou todos os jogos, os 90 minutos. Como conseguiu isso? Via-o no balneário e em campo. O que aprendeu com ele e como se sentia ao jogar ao seu lado?

Aprendi muito com ele, e depois consegui eu próprio em 2017. Foi um grande exemplo. Motivou-me, claro. Sobretudo porque jogava todos os jogos e sempre ao mais alto nível. Era o capitão e notava-se que tinha um peso enorme na equipa. E quando tive a oportunidade dois anos depois, tentei replicar isso.

- N'Golo Kanté também foi um dos jogadores-chave desse Chelsea. Lembra-se de algum lance, algum treino, quanto aportava ao Chelsea, não só nos jogos, mas também no dia a dia?

Mandava no meio-campo. Era capaz de cobrir qualquer espaço. Com a bola era muito bom, porque procurava sempre a melhor opção. Às vezes eram passes simples, mas tinha muita inteligência para isso. E na defesa, chegava a todo o lado e recuperava bolas quando todos pensavam que o médio ou o avançado já o tinham ultrapassado; ele já lá estava. Por isso, era fundamental para a equipa e para nós, defesas. Quando o tínhamos à frente, sabíamos que ele ia estar lá a ajudar.

Quer acompanhar mais de perto a carreira de César Azpilicueta? Agora pode fazê-lo na aplicação Flashscore!