Júlio conversou por quase uma hora com o Audio Country Manager do Flashscore no Brasil, Ricardo Oliveira Duarte, num restaurante em Cascais, na Área Metropolitana de Lisboa. Nascido em Duque de Caxias-RJ, o antigo guarda-redes escolheu a capital portuguesa para viver pelas semelhanças com o Rio de Janeiro.
Júlio César relembrou o começo no Flamengo, o clube do coração, e contou todos os detalhes do "conto de fadas" no Inter de Milão, incluindo a relação com José Mourinho. Assumiu muita frustração pela queda do Brasil no Mundial-2010 e falou, é claro, sobre tudo que aconteceu de errado no famigerado 7-1 em 2014.
Já reformado, Júlio exerceu um papel fundamental na negociação que levou Jorge Jesus para o Flamengo e mudou a história do clube. O ídolo rubro-negro revelou os bastidores dessa história e de muitas outras.
Começo no Flamengo
- Em 2023 ficou em nono lugar na lista dos melhores guarda-redes do século XXI, da FourFourTwo. Tantos anos depois da estreia pelo Flamengo, em 1997, imaginou estar neste lugar?
- Deus deu-me muito mais do que eu imaginava. Fazer uma estreia com 17 anos num clube como o Flamengo, de expressão, maior claque do Brasil, é muito gratificante. E aí despertas alguma curiosidade para os entendedores do futebol: quem é esse guarda-redes de 17 anos que já está a jogar uma meia-final da Taça do Brasil contra um Palmeiras de Velloso, Djalminha, Viola?
- Sempre quis ser guarda-redes ou foi um acaso? Muita gente começa como avançado…
- Eu tenho jeito com os pés, e no futsal comecei à frente, mas rapidamente fui para a baliza. A minha paixão era a baliza, então não havia como escapar.

- Quais são as memórias mais fortes dos primeiros anos de Flamengo?
- Em 1997, depois da estreia, tive a oportunidade de jogar alguns jogos como titular, mas o Flamengo ficou com receio de me lançar tão jovem no Brasileirão, e acabei por ser a segunda opção. Aproveitei para aprender com os guarda-redes mais experientes. Tenho memórias muito boas, e também não tão boas, porque eu apanhei um Flamengo que estava a atravessar um momento financeiro muito complicado. Caso o clube tivesse dinheiro naquela época, investiria em guarda-redes, e talvez eu não teria a oportunidade que tive tão jovem. Ganhei alguns títulos, nada de expressão, mas foi um trabalho maravilhoso. Esse problema financeiro acabou por passar para dentro de campo. De 2001 a 2004, dos quatro campeonatos em que joguei, o Flamengo lutou para não cair em três. Por isso existe uma identificação muito forte do Júlio César com a claque do Flamengo. É como se fosse um título para os adeptos, ter um clube que nunca jogou a segunda divisão. Muitos adeptos que não são flamenguistas, por terem vivido períodos na segunda divisão, queriam que o Flamengo também jogasse. E eu ajudei nesse feito.

Inter de Milão
- Depois assina contrato com o Inter de Milão, mas vai para o Chievo e fica por lá um ano. Como foi essa mudança? Era um jovem ainda, de 24 anos.
- Eu saí do Flamengo com meu passe livre. O meu pai estava a conversar com o FC Porto, e aí o Inter de Milão apareceu e demonstrou interesse. Obviamente, por questões financeiras e outras situações, a proposta do Inter acabou por ser melhor. Só que eu fui numa janela de janeiro e não tinha passaporte comunitário, então contava como jogador estrangeiro. O Inter deu-me a opção de ser emprestado a clube de menor expressão ou ficar no Flamengo até junho. Eu optei por já ir para a Itália porque queria aprender o idioma, a cultura e o futebol do país, para chegar ao Inter mais preparado, porque sabia que a competição seria muito grande. Falamos de Francesco Toldo, guarda-redes da seleção italiana na época, Fabián Carini, da seleção uruguaia. Eu estava a meter-me numa disputa de gigantes.
- O Inter é o clube onde fica mais tempo, e podemos dizer que é onde foi mais feliz, porque ganhou tudo que havia para ganhar…
- Em termos de títulos foi muito bom. Mas onde fui mais feliz foi no Mengão. Eu fui muito feliz no Flamengo. Não estou a ser hipócrita. Toda a gente sabe que o Flamengo é o meu clube de coração. Poder sair da bancada para o campo, jogar e representar o clube de coração, não tem preço. Mas em termos de títulos e de prestígio individual, com certeza o Inter de Milão.
- Em 2009, é considerado o terceiro melhor guarda-redes do mundo pela IFFHS. Em 2010, segundo. Tinha Casillas, Buffon… Quem era esse Júlio César?
- Entre 2008 e 2010, eu entrava em campo e sentia-me o Super Homem, com aquela capa vermelha. Haviam jogos em que eu entrava e dizia: "Hoje não vou sofrer nenhum golo". E precisas de ter cuidado quando estás com essa confiança, porque o excesso de confiança é traiçoeiro. Foi um momento em que eu não via ninguém na minha frente. Com todo o respeito, com toda a falta de modéstia. Não via nem Buffon, nem Casillas, nem ninguém. Até o meu amigo Dida, por quem tenho um respeito enorme, um grande guarda-redes, e com quem aprendi muito.
- E aquele Inter campeão europeu com José Mourinho?
- Foi uma família em que pude participar. Foi realmente incrível, um conto de fadas. Ganhar as três competições mais importantes no mesmo ano… Poucos clubes conseguiram esse feito, e o Inter de Milão foi um deles.
- E um clube que era um outsider, não era propriamente o grande favorito porque havia o Barcelona de Guardiola…
- Mourinho fez um trabalho espetacular em termos de gestão de grupo, fez com que todos os jogadores remassem na mesma direção. Era realmente uma família. Tinha muitos jogadores de nome, bem-sucedidos, respeitados no mundo do futebol. E dentro do balneário conseguimos fazer com que não existisse vaidade.
- O Mourinho extraiu o máximo de vocês?
- Sem dúvida. Era a forma dele de trabalhar. Ele apanhava quem estava a viver um momento normal e transformava no melhor jogador dessa posição. Eu lembro-me que na distinção dessa Liga dos Campeões, todos os jogadores eram do Inter de Milão. Júlio César, melhor guarda-redes; Maicon, melhor defesa; Sneijder, melhor médio; e Milito, melhor avançado e melhor jogador. O que mais podíamos querer?
- O que disse Mourinho quando chegou ao estádio para a final contra o Bayern de Munique?
- O melhor do mister não foi só na final. Foi o momento em que vimos que poderíamos ganhar as três competições. Lembro de uma reunião em que ele foi bem breve e disse assim: 'Temos três competições para ganhar. Vocês escolhem'. Ele colocou a responsabilidade em nós. 'O que eu podia fazer, fiz, que é preparar esta equipa para chegar onde chegou agora'. É óbvio que ele tem que preparar a tática e tudo mais, mas em termos de grupo, de homens vencedores, já com aquela confiança inflamada… Eu lembro-me perfeitamente dessa reunião. E aí foi onde tudo começou a fazer sentido.

- E teve alguma preparação especial?
- Não. Quando começas a ganhar, ganhar e ganhar, a vitória traz outra vitória. Isso foi uma frase do Eto’o. Entras num ciclo sem fim e ficas a sentir que és imbatível. É óbvio que dá o friozinho na barriga, entrar para uma final da Liga dos Campeões, que é o sonho de todo jogador. Mas depois de a bola rolar, começas a concentrar para tentar fazer o trabalho da melhor maneira possível.
- Há algum lance dessa final que se lembra?
- No começo da segunda parte, logo na saída de bola do Bayern de Munique, eu fico cara a cara com Mario Gomez ou Thomas Müller, não sei qual dos dois. Ele toca, eu caio para o lado esquerdo e consigo salvar com os pés. Foi uma defesa muito importante porque foi na saída de bola, estávamos ganhar por 1-0. Existe uma entrevista do Mourinho, inclusive, em que ele fala desse lance. O Mourinho era o tipo de treinador me dizia antes do jogo: 'Preciso de ti uma ou duas vezes por partida. E quando eu precisar tens de estar lá”. Para ver o tamanho da responsabilidade que eu tinha nas costas, porque quando se joga num clube como o Inter de Milão, quando és guarda-redes de grandes equipas, não tens tanto trabalho. E quando a bola chega, tens que estar preparado, senão colocam outro no teu lugar.
- E agora, como olha para José Mourinho? Está noutra fase da carreira. Teve aquele super Real Madrid, contra Guardiola, e virou algo épico. Mas e depois? Vê um homem diferente?
- Em termos profissionais é difícil falar, porque depois do Inter de Milão, nós não tivemos mais oportunidade de trabalhar juntos. Mas dentro daquilo que posso falar, vejo um mister mais calmo, mais tranquilo. Um Mourinho mais leve, digamos assim.
Seleção Brasileira
- Teve um auge duradouro até ao Mundial-2010, quando passou por um momento problemático na eliminação com os Países Baixos. Há uma cobrança muito grande em cima do Júlio César, um desentendimento com Felipe Melo…
- O Sneijder coloca uma bola para dentro da área, e eu e o Felipe acabamos por ir ao lance. Embatemos um no outro, a bola passa pelos dois e acaba por entrar. Marcou não pelo erro em si, mas pelo momento que a gente estava a viver no jogo. Estávamos muito bem, os Países Baixos não estavam a fazer muita coisa. E depois deste golo, a história mudou um pouco, mas estávamos bem na partida. Isso é o que me entristece mais.
- Houve muita cobrança no Brasil?
- Eu sou um jogador muito autocrítico, então sei quando erro, cobro a mim próprio e nunca me escondi. Depois dessa partida, dei uma entrevista ao Tino Marcos, da Rede Globo. Estava num momento muito emotivo e tive que segurar a emoção por causa da eliminação. Eu cheguei ao Mundial como o melhor guarda-redes do mundo, e o excesso de confiança às vezes te atrapalha, acaba por ser traiçoeiro. A equipa não estava a render mais o que conseguiu render na primeira parte. Acabámos por ser surpreendidos também com o segundo golo, num canto do Sneijder, e fomos eliminados. Aquele grupo do Mundial-2010 estava unido, sabe? Por isso que me magoa tanto. Eu não sei se íamos ser campeões, mas aquele grupo merecia jogar a final com a bola dourada contra a Espanha.
- De Mundial em Mundial, vamos para 2014. Chega numa posição completamente diferente porque é suplente do Queens Park Rangers. Vai para o Toronto…
- Mas existe uma situação. O treinador (do QPR) era muito amigo do Robert Green (o outro guarda-redes), e aí não há como. Eu agarrei muito no Queens Park Rangers, fiz um excelente trabalho, e as imagens não me deixam mentir. Foi um ano espetacular individualmente falando. Mas chegou o Harry Redknapp, que temos de respeitar, sendo amigo ou não. E aí realmente eu passei por um momento complicado em que não estava a jogar, mas o Felipão estava a convocar-me. Então eu tinha que arranjar um clube até para justificar a minha chamada, e aí fui parar no Toronto.
- “Fui parar”. Essa expressão é sintomática.
- Não, eu “fui parar” porque nunca me imaginei… O Mundial estava a aproximar-se, e o guarda-redes tem que ter ritmo de jogo. Foi uma passagem rápida, mas muito, muito boa porque eu conheci o futebol norte-americano, mesmo a morar no Canadá. Foi uma experiência maravilhosa. E desde já agradeço ao Toronto FC por ter me dado a oportunidade de ir lá, demonstrar meu trabalho e conseguir ritmo de jogo para o Campeonato do Mundo.
- Se José Mourinho foi importante, o Felipão também foi, porque é o treinador que acredita em você quando pouca gente parecia acreditar.
- Às vezes a pessoa que não está dentro do ambiente não sabe o que se está a passar. Mas o Luiz Felipe Scolari é um treinador que me conhecia desde os meus 22 anos. Fiquei a lutar com o Rogério Ceni até ao final do Mundial-2002 se ia ou não, e acabou por o Rogério. Com méritos também, porque eram três grandes guarda-redes, Marcos, Dida e Rogério. Eu era um jovem. E no Brasil há essa cultura de levar um terceiro guarda-redes jovem para já preparar para a outra.
- Em 2014 existia o Jefferson em grande fase no Botafogo, mas o Felipão bate o pé e diz: “É o Júlio, vai o Júlio!”.
- Não só o Jefferson, o Victor também, a viver um momento absurdo no Atlético Mineiro. O treinador tem aquela coisa da confiança da posição. O Parreira tinha o Dida, o Felipão tinha o próprio Marcos, e depois veio a ter comigo também.
- E funcionou muito bem, porque contra o Chile tem o momento de redenção. É um dos momentos mais marcantes da sua carreira.
- Foram 200 milhões de adeptos comigo naquele jogo para parar aqueles penáltis, do Pinilla e do Alexis Sánchez. Foi incrível aquele momento. Foi uma coisa maravilhosa, porque é o momento que o guarda-redes aparece bastante.
- Lembra-se do que sentiu no momento em que defendeu aquele segundo penálti, do Alexis Sánchez?
- Muita alegria. E muito alívio também, porque jogar um Mundial já é uma pressão, imagina jogar no Brasil diante dos seus adeptos? O Mineirão estava lotado. E quando a gente consegue passar de fase, para todos do grupo, e os adeptos também… Porque o Mundial é um evento maravilhoso. Foi todo tipo de sentimento possível: emoção, alívio, alegria, felicidade. Pensava nos meus familiares também, porque o familiar sofre com a gente.
- E é inevitável… Porque poucos dias depois sofre um desgosto. Você e os 200 milhões de brasileiros sofrem um desgosto que é difícil de apagar.
- Para ver como é o futebol. Por isso que é tão apaixonante. No momento em que estás no auge, logo depois acontece o que aconteceu com a Alemanha. Para quem estava envolvido naquele jogo - jogadores, treinadores, staff - é o momento mais difícil, profissionalmente falando.
- Como foi a preparação, na hora de sair para o aquecimento?
- Nós tínhamos perdido o Neymar, que era o nosso craque, o ponto de referência. Internamente foi um golpe essa situação. Não estou aqui a justificar o que aconteceu, mas a perda do Ney, não só pelo jogador, mas pelo menino naquele momento, o que ele representava também fora de campo. Era um rapaz muito feliz, muito alegre. Sou suspeito para falar, mas Neymar, Ronaldinho… Esses jogadores são especiais. Há esses e depois vêm todos os outros. Neymar, Ronaldinho, Messi, Ronaldo, Zico… Eles têm lá a prateleira deles. Thiago Silva não jogou também, foram peças importantes. Mas a Alemanha foi merecedora, porque era um grupo que já estava a ser preparado desde 2006, muito sólido. Isso faz toda a diferença. E não conseguimos fazer um jogo que nos convencesse a nós próprios, que merecíamos ganhar aquela competição em casa. Mesmo tendo conquistado a Taça das Confederações num jogo fantástico contra a Espanha, que era a melhor seleção do mundo. O que pesou muito para esse grupo foi não ter jogado a qualificação, que dá um embalo importante.
- Lembra-se do que pensou quando foi para o intervalo?
- Eu não vou dizer que é clima de velório, porque não se pode comparar futebol com a perda de um ente querido, mas é complicado. Jogar uma meia-final no Brasil, a perder 5-0 e voltar para o segundo tempo. Existiu muito silêncio no balneário. O Thiago Silva, como era o capitão e não pôde estar em campo, começou a tentar levantar toda a gente, mas realmente era muito difícil. Porque a Alemanha estava a jogar um futebol redondinho, estava tudo a funcionar. Nuncan os encontrámos naquele jogo, a verdade é essa.

Jorge Jesus
- Vamos sair desse 7-1 que não vale a pena. Depois vai para Portugal, no Benfica, e cruza-se com Jorge Jesus.
- O Mister era um amigo.
- Ele disse numa entrevista que foi fundamental para a ida dele para o Flamengo e importante no sucesso, por ter falado com os capitães. Como foi isso?
- Quando o Flamengo estava começar a falar com o Jorge Jesus, uma pessoa importante do clube ligou-me a perguntar como é que era ele. E eu disse: 'Olha, assina para ontem'. Disse que o Mister tinha um jeito especial de ser, mas, se não era o melhor com quem trabalhei, era um dos melhores. 'Ele realmente é fantástico e, se entender direitinho para onde está a ir, tem tudo para dar certo'. E aí depois me ligaram Diego Alves, Diego Ribas, Márcio Tannure (médico), querendo saber quem era o Jorge Jesus. Eu nunca contei isso publicamente, mas disse: 'O que posso dizer é que ele tem um jeito especial de ser, sim, mas vai atrás das ideias dele. Unam-se a ele porque vão ter grandes hipóteses de ter sucesso juntos. Quando ele começar com os gritos, entra no ouvido, sai pelo outro'. A minha conversa com os capitães foi essa. 'Acredita nele'. Foi incrível.
- E depois, começou a receber muitos feedbacks a dizer que tinha razão?
- O Diego Alves ligava e dizia que eu fazia parte daquilo. Mas obviamente os jogadores foram inteligentíssimos, entenderam o que o Mister queria deles. Só que o Mister também diz que se não foi o melhor grupo, foi um dos melhores com que ele trabalhou. Aquele grupo de 2019 era fantástico, porque às vezes ele queria dar folga e os jogadores não queriam. Ele ia pedir algum tipo de trabalho extra e os jogadores já estavam a fazer. Encaixou tudo.
- E o Jorge Jesus falou com você em algum momento desse período no Flamengo? Ligou para dizer “obrigado”?
- Não, não, mas sou muito amigo do Mister, adoro o Mister. Principalmente depois do que ele fez com o meu clube.
- Celebrou muito?
- Claro. Aquela final de 2019 da Libertadores foi maravilhosa, eu estava com meu filho na bancada. Eu não tinha dúvidas. Óbvio que a bola tem que entrar, futebol é assim, mas eu não tinha dúvidas que o Mister ia fazer um excelente trabalho lá. E ele hoje reconhece isso, a claque do Flamengo, o quão gratificante foi para ele. Não sei se ele vai voltar, vamos ver.

- E a Seleção Brasileira? Via o Jorge Jesus lá?
- Sim, sim. Respeitando os treinadores do Brasil, que adoro e são super competentes, mas o Jorge Jesus na Seleção Brasileira ia fazer um trabalho magnífico, sem dúvida nenhuma.
- Ele pode ser a reviravolta que Brasil está a precisar? Porque os jogos não estão a ser muito agradáveis…
- Seleção Brasileira é complicado porque não há muito tempo para trabalhar, não é igual a um clube, com dia a dia. O Dorival está a tentar, está a fazer um trabalho excelente, mas as coisas têm que acontecer. No último jogo, contra o Uruguai, jogaram bem e criaram algumas oportunidades, mas a bola não entra. O Dorival é um excelente treinador, a gente não pode nunca desmerecer o trabalho dele. O que ele está fazer nos últimos anos, os títulos que conquistou…
- Sem sair dos treinadores, na primeira temporada no Benfica trabalhou com o Ruben Amorim, que era jogador e agora treina o Manchester United. Já via ali um técnico à sua frente?
- Ele é merecedor. Eu conheci pouco o Ruben. Foi minha primeira temporada, acho que ele não jogou tanto. Mas o jogador de meio-campo tem essa facilidade, esse feeling de treinador.
- Guardiola, Pirlo…
- O jogador de meio-campo atua numa posição em que a leitura do jogo é quase fundamental. Mas o Ruben fez um grande trabalho no Sporting, o adepto olha para ele como um dos grandes ídolos. Ele tem tudo para fazer um grande sucesso como treinador, não só ele, mas como o Filipe Luís agora também no Flamengo. Fico feliz de ver ex-companheiros a entrar nesse mundo.
- Ficou surpreendido com a escolha do Filipe Luís? Como tem avaliado o trabalho?
- Não fiquei, não. A partir do momento que o Filipe começa a treinar a formação, acho que o Flamengo já estava a desenhar alguma coisa. Apesar de jovem, é uma pessoa inteligentíssima, que trabalhou com grandes treinadores. O Filipe Luís no Flamengo não era um jogador veloz na posição dele, não tinha tanta força, mas era inteligentíssimo a jogar. Quem percebe de futebol ficava encantado com o jeito que o Filipe se comportava em campo.

Pós-carreira
- Eu queria voltar ao Mundial-2010 porque, na despedida da concentração da Seleção, fez um discurso emotivo e prometeu voltar em 2014.
- É a primeira pessoa que fala sobre isso. Aquele grupo já estava a viver coisas juntos há três anos e não merecíamos sair naquele momento da competição. Eu pedi a palavra e falei pelo Dunga, nosso treinador, que era fantástico, principalmente em termos de gestão de grupo. Era um alguém que batia de frente com a imprensa, blindava muito o nosso grupo, e que ele tinha escolhido aqueles 23 para representarem o Brasil. Foi um discurso bacano, emocionante, e muitos jogadores depois vieram comentar comigo, o próprio Dunga também.
- Os ex-colegas e amigos dizem isso, que é alguém com o dom da palavra, que consegue motivar as pessoas. Nunca pensou em ser treinador?
- Então dá para ser político, se eu tenho o dom da palavra (risos). Treinador, não, nunca me passou na cabeça.
- Agora queria saber o que faz desde que parou jogar futebol.
- Estou a agenciar jogadores de futebol, tentar trazer um pouco da minha experiência, de ter trabalhado com alguns grandes empresários, de ter tido coisas negativas e positivas, até extracampo. Quero trazer uma mistura disso tudo e trazer para dentro da JC12 Sports, que é a minha empresa, para que consigamos representar alguns atletas e fazer com que eles realizem os seus sonhos e se tornem jogadores profissionais, bem-sucedidos.
- Já está a trabalhar com alguém de destaque no mercado ou está a começar?
- Tenho alguns jogadores jovens e outros mais cascudos, mas eu prefiro não dizer.
- Como é a sua vida agora, aos 45 anos?
- Vivo em Lisboa, viajo bastante, faço alguns eventos da FIFA, UEFA… A JC12 Sports é uma empresa que está a migrar agora para o mundo empresarial e espera poder ajudar muitos atletas a serem bem-sucedidos não só dentro de campo, mas fora também, saber gerir o património, porque sabemos que a carreira de jogador de futebol é curta, então tem que pensar no futuro.
- Por que escolheu Lisboa? Por que não Milão, Rio de Janeiro?
- Porque Lisboa é uma cidade muito parecida com o Rio de Janeiro. Em termos de clima, tudo. E eu como um bom carioca, já fora do Brasil desde 2005, não me vejo a morar de novo no Brasil. Escolhi Lisboa porque é uma cidade muito parecida com o Rio.