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Kevin Mac Allister vive há mais de dois anos na Bélgica, onde é um dos capitães do Royale Union Saint Gilloise. Filho e irmão de jogadores de futebol, entre eles o campeão mundial Alexis, que joga no Liverpool, falou em exclusivo ao Flashscore sobre como vai encarar o desafio desta noite contra o Inter de Milão. Sem esquecer de dois ex-jogadores italianos que o inspiraram.
- Teve uma estreia de sonho na Liga dos Campeões. Na sua estreia e na da sua equipa, uma vitória com um golo em casa do PSV.
- Sem dúvida, o primeiro jogo foi... Não sei se lhe hei-de chamar surpresa, mas foi tudo como um sonho. Ganhámos o nosso primeiro jogo de sempre na Liga dos Campeões e eu marquei um golo, fora. Penso que também ajudou o facto de estarmos muito perto de casa, pelo que os adeptos puderam vir, e vieram em grande número: eram dois mil, três mil. Mesmo antes de o jogo começar, os nossos adeptos estavam a fazer mais barulho do que os adeptos da casa. Começar assim a Liga dos Campeões foi incrível para nós.
- Como festejou esse golo histórico?
- Lembro-me muito bem do festejo desse golo. Abraçámo-nos todos, até os membros do banco de suplentes. Perguntam-me sempre o que prefiro, entre um golo e uma defesa em cima da linha, e eu prefiro sempre a segunda opção. Mas aquele golo gerou um sentimento de grande felicidade. Foi uma loucura e coroou um momento maravilhoso: a minha mulher estava no estádio, e estamos à espera de um filho em meados de dezembro.
- Depois veio a goleada de 0-4 em casa, contra o Newcastle....
- Bem, é uma daquelas coisas que sabemos que podem acontecer, porque enfrentamos equipas do mais alto nível. Mas agora vamos pensar no Inter. Na minha opinião pessoal, é uma das melhores equipas da Europa.
- Está entre as cinco melhores?
- Sim, para mim sim. Falando com amigos, sempre que começa a Liga dos Campeões e fazemos previsões sobre quem vai chegar à final, digo sempre que o Inter parece-me uma equipa capaz de chegar lá facilmente. No ano passado, de facto, chegou à final e, este ano, na minha opinião, continua a ser um dos candidatos, porque penso que é uma equipa muito versátil. Quando saiu o sorteio, devo dizer que também fiquei um pouco contente. Mas todos sabemos que vai ser difícil.
- Mas jogam em casa. É uma vantagem jogar em casa contra uma grande equipa, não é?
- Sim, é. A verdade é que a nossa gente, os nossos adeptos, são loucos, apoiam-nos a toda a hora, a todo o momento. É um pouco estranho, claro, porque quando jogamos em casa na Europa temos de o fazer no estádio do Anderlecht, devido às exigências da UEFA, mas os nossos adeptos estão sempre prontos a apoiar-nos, onde quer que vamos.
- Vai ter de enfrentar o Lautaro, que tem a sua idade e praticamente a mesma altura. Alguma vez se defrontaram na formação?
- Jogámos várias vezes um contra o outro quando éramos jovens e também partilhámos um período na seleção de sub-20, quando nos preparávamos para um torneio sul-americano no Equador. Eu estava na lista final, enquanto ele era obviamente uma das estrelas da equipa, mas lesionei-me uma semana antes e não pude participar.
- O seu irmão Alexis também ganhou o Campeonato do Mundo em 2022.
- Têm uma relação muito boa, porque partilharam muitas coisas. Também gosto muito do Lautaro e tenho um grande respeito por ele. Foi uma grande revelação para o futebol argentino, e tudo o que fez, está a fazer e fará no Inter é extraordinário. Sem dúvida, será um daqueles jogadores que ficarão na memória.
- Já pensou em como marcá-lo?
- Vi muitos jogos dele e acompanho-o frequentemente aos fins de semana, ou quando joga na Liga dos Campeões. Por isso, já o conheço bem: é um jogador de classe mundial, já se sabe quais são as suas virtudes e preparamo-nos mentalmente, tentando cuidar dos pormenores para o enfrentar no seu melhor momento do jogo. Mas ele tem algo de especial: é muito imprevisível, é um jogador que se pode movimentar entre as linhas. Mas também pode atacar em profundidade, descer ao meio-campo para participar na construção do jogo, ou espalhar-se pelos flancos. Ele é demasiado inteligente para que possamos dizer "é assim que o vamos marcar". Por isso, é preciso improvisar de acordo com as instruções do treinador sobre a marcação.
- Lembro-me daquele episódio de Lautaro com Otamendi, à saída do túnel antes de um jogo Benfica-Inter. Os dois olham um para o outro a perguntar "estás bem?", mas com aquela cara séria...
- Também me lembro bem disso (risos). Mostra um pouco da mentalidade argentina, não é? Dois jogadores que passaram cinco ou seis anos juntos na seleção e que se olham no túnel como se não se conhecessem. Em campo, porém, não há amizade nem afeto, apenas respeito desportivo. E o respeito nunca deve fazer-nos recuar as pernas, e penso que também será esse o caso desta vez. Não creio que esteja ao nível de Otamendi para dizer alguma coisa ao Lautaro, mas a atitude será a mesma. Vou simplesmente cumprimentá-lo, perguntar-lhe como está e depois, uma vez em campo, não há amigos, não há compatriotas, nada interessa.
- O Kevin e o seu irmão Alexis são uma das melhores duplas de irmãos do futebol. Competem com os Thuram e os Hernández, que estão na seleção francesa. A poucos meses do próximo Campeonato do Mundo, ainda sonha em jogar com o seu irmão com a camisola da seleção argentina?
- Pessoalmente, acho que estou um pouco abaixo do Alexis, ele está mais perto do topo, mas sim, o sonho existe. O Mundial está a chegar, mas sabemos que é difícil, especialmente porque os rapazes que já estão na seleção estão a ir muito bem. Uma das grandes qualidades desta seleção argentina é o grupo: vê-se que todos estão em sintonia, todos remam para o mesmo lado, e penso que Scaloni preocupa-se muito com este espírito e tenta mantê-lo o mais possível. Pela minha parte, claro que gostaria muito, trabalho todos os dias para isso: é um sonho que perdura, mas também sinto que os rapazes merecem estar onde estão.
- O encontro com o seu irmão Alexis antes do jogo contra o Liverpool permitiu-lhe realizar outro sonho de infância?
- Normalmente, nunca entro em campo antes do jogo, mas naquele dia pareceu-me bem fazê-lo. Esperei pelo Alexis no relvado, mas ele não vinha e mandei-lhe uma mensagem para o despachar (risos). E partilhámos um mate (bebida típica argentina) num lugar mítico como Anfield. Foi um momento de arrepiar, muito bonito. Penso que, juntamente com o momento em que joguei com os meus dois irmãos (Alexis e Francis) no Argentinos Juniors, foi um dos melhores momentos da minha carreira. Jogar com ou contra um irmão é uma lembrança indelével, tanto em Anfield quanto no Diego Armando Maradona.
- Há outro Diego Armando Maradona, não na Argentina, mas em Nápoles.
- Sim, sim, no sorteio da Liga dos Campeões todos esperávamos ter o Nápoles como rival. Ir a Nápoles, para nós argentinos, é especial. Eu nunca lá estive, mas toda a gente diz que é incrível. Quando soubemos que o Inter e a Atalanta iam lá estar, lamentámos não ter os Azzurri como rivais. O mesmo clube fez um vídeo no dia do sorteio em que eu disse: "Gostava de ir ao Nápoles!" Quem sabe, talvez no próximo ano....
- Não é um defesa muito alto (1,75 metros), mas é bom na frente. Quem é que o inspirou, enquanto defesa-central, para ter um desempenho desse nível?
- No ano passado, antes de jogar contra o Ajax, disse a um jornalista neerlandês que o Lisandro Martínez era um pouco como um espelho para mim, apesar de ele ter um pé esquerdo de nível louco. Mas, fisicamente, somos parecidos: baixos, fortes, agressivos. Então é verdade, há sempre um preconceito em relação ao defesa-central baixo, especialmente contra atacantes altos.
- Fabio Cannavaro, Bola de Ouro, media 1,73 metros...
- A minha primeira recordação futebolística é o Campeonato do Mundo de 2006, e foi incrível vê-lo jogar tão bem apesar da sua altura. E ganhar. Lembro-me de uma vez ter falado em tom de brincadeira com o De Rossi, durante a sua passagem pelo Boca Juniors, e ter-lhe dito: "Não faltes ao respeito ao Cannavaro!" (risos).
- Como é que foi jogar com um campeão do mundo como o De Rossi?
- Foi uma loucura. Basta pensar que um dia entrei no balneário e encontrei lá o De Rossi: loiro, cheio de tatuagens... Ao princípio parecia um sonho. Revelou-se uma pessoa muito humilde, que comunicava com todos, dos mais novos aos mais experientes, e fazia com que todos se sentissem parte do grupo.
- Ele falava espanhol quando chegou ao Boca?
- Sim, já falava bem. E dentro de campo foi sempre muito inteligente, sempre com o timing certo e com uma visão de jogo incrível. Falava muito, sobretudo com o meu irmão Alexis, que jogava na esquerda, e procuravam sempre uma ligação. É uma pena que não tenha conseguido recuperar fisicamente, mas para todos nós que pudemos partilhar esses momentos com ele foi uma experiência inesquecível.
