Após três épocas marcadas por desilusões e títulos perdidos por muito pouco, o Union Saint-Gilloise conquistou finalmente o tão aguardado troféu, o primeiro desde 1935, ao vencer de forma dramática o Gent por 3-1.
No centro deste triunfo histórico esteve o avançado ganês Mohammed Fuseini, de apenas 23 anos, cuja notável época de estreia ajudou a escrever um novo capítulo dourado na história do clube belga.
A dimensão do feito do Union Saint-Gilloise não pode ser subestimada. O emblema de Bruxelas, que caiu até ao quarto escalão do futebol belga na década de 1980, havia sido despromovido da primeira divisão no início dos anos 1960. O regresso ao topo representa uma das histórias de renascimento mais marcantes do futebol moderno, ainda mais especial por ter sido construída em torno de jovens talentos como Fuseini.
A temporada de 2024/25 de Mohammed Fuseini personifica o espírito de superação que viria a definir o sucesso do Union. O jovem avançado, contratado ao Sturm Graz em Julho de 2024, após um período de empréstimo de sucesso no Randers, enfrentou desafios significativos no arranque da temporada, obstáculos que teriam feito vacilar muitos jogadores.
"Para mim, na minha época, houve muitos altos e baixos. Mas ainda estou grato pela época que tive. No início da época, fui titular em muitos jogos, mas a certa altura lesionei-me e, quando voltei, o meu lugar estava ocupado. Não fiquei zangado, mas percebi que era altura de trabalhar muito e recuperar a minha posição", revelou Fuseini numa entrevista exclusiva ao Flashscore.
Esse contratempo acabou por se revelar um momento decisivo para o jovem avançado. Em vez de se deixar consumir pela frustração, Fuseini canalizou o infortúnio em motivação e transformou a desilusão em determinação.
"Quando voltei da lesão, não estava a jogar muito. Entrei, joguei alguns minutos e depois tive de estar pronto para a oportunidade de voltar e, quando surgiu a oportunidade de ser titular, retomei a minha posição", disse.
A sua perseverança deu frutos à medida que a época avançava. Fuseini terminou a campanha com nove golos e uma assistência em 33 jogos no campeonato.
Os números de Fuseini tornam-se ainda mais impressionantes quando analisados em contexto: uma média de 0,34 golos por cada 90 minutos, o que o coloca no percentil 90 entre os avançados da Pro League belga.
O último dia da temporada proporcionou o palco perfeito para o momento histórico do Union Saint-Gilloise, embora tenha estado perto de se transformar noutra desilusão. Com o Club Brugge a pressionar de perto, o Union chegou à derradeira jornada frente ao Gent com apenas um ponto de vantagem.
Fuseini recorda bem a tensão vivida nessa tarde inesquecível: "Sim, foi muito stressante para todos os jogadores, especialmente no último jogo, o decisivo. Quando estávamos empatados 1-1, parecia uma loucura, porque estávamos tão perto do título. Todos estavam nervosos na primeira parte, mas sabíamos que, na segunda parte, tínhamos de estar prontos e garantir a vitória e conseguimos. Fomos campeões da liga belga."
Os dois golos de Promise David na segunda parte acabaram por selar o triunfo e, com ele, o tão esperado título. No final, o alívio e a euforia eram palpáveis entre todos os jogadores e adeptos. Para Fuseini, os festejos que se seguiram foram algo único.
"Acho que não dormi durante dois dias", confessou. "Primeiro, celebrámos com os adeptos, depois com a cidade e, no dia seguinte, com os dirigentes do clube. E logo a seguir tive de viajar para me juntar à selecção nacional. Foi uma experiência incrível."
As cenas de celebração que se viveram em Bruxelas foram memoráveis. Milhares de adeptos reuniram-se na Place Van Meenen, onde o município instalou um ecrã gigante para acompanhar o jogo decisivo, criando um ambiente de festa inesquecível.
Um sonho tornado realidade
Quando soou o apito final, os adeptos invadiram o relvado do pequeno Estádio Joseph Marien e as celebrações prolongaram-se noite dentro, com os jogadores a surgirem na varanda da Câmara Municipal de Saint-Gilles por volta da meia-noite.
A conquista do título garantiu ao Union Saint-Gilloise o apuramento directo para a Liga dos Campeões da UEFA 2025/26, um verdadeiro sonho tornado realidade para jogadores como Mohammed Fuseini.
"É um dos meus maiores sonhos a tornar-se realidade", confessou Fuseini, visivelmente entusiasmado ao falar da possibilidade de disputar a Liga dos Campeões. "Já participei na fase de qualificação da Liga dos Campeões, mas nunca cheguei à verdadeira fase de grupos. Jogar na principal competição europeia significa muito para mim."
O entusiasmo do avançado era contagiante, especialmente ao imaginar os adversários que o Union poderá defrontar. "Estou ansioso por jogar contra grandes equipas como o Real Madrid, PSG, Liverpool e outros gigantes europeus. Vai ser uma experiência inesquecível."
Apesar da dimensão mais modesta do Union face aos colossos do futebol europeu, Fuseini mostrou-se confiante na capacidade do grupo. "Acredito que podemos ultrapassar a fase de grupos. Temos um bom plantel, um excelente treinador e acho que tudo é possível."
Esse otimismo espelha o espírito que alimentou a ascensão notável do Union Saint-Gilloise. Sob o comando de Sébastien Pocognoli, que conquistou o título na sua época de estreia como treinador principal, a equipa desenvolveu uma mentalidade destemida que se revelou fundamental nos momentos decisivos.
Serviço nacional
A época excecional de Mohammed Fuseini não passou despercebida no panorama internacional. As suas exibições de alto nível ao serviço do Union Saint-Gilloise valeram-lhe a primeira convocatória para a seleção principal do Gana, para disputar a Unity Cup 2025, em Londres.
Assim que se juntou ao estágio das Estrelas Negras, Fuseini ficou impressionado com o ambiente acolhedor.
"Todos me receberam muito bem, especialmente os jogadores mais experientes, o capitão e os outros líderes do grupo. Fizeram-me sentir em casa desde o primeiro momento. Estava muito entusiasmado e sempre pronto para este desafio. E, como se pode ver pela forma como joguei, estava preparado para aquele momento e para a oportunidade que me foi dada", recordou o jovem avançado.
A estreia de Fuseini aconteceu na meia-final frente à Nigéria, onde somou alguns minutos como suplente. No entanto, foi no jogo de atribuição do terceiro lugar, frente a Trinidad e Tobago, que o jovem ganês brilhou verdadeiramente no palco internacional.
"Antes do jogo, quando soube que ia ser titular, sabia que ia marcar. Era um momento especial para mim, e queria dar tudo para o tornar ainda mais inesquecível com um golo. No final, consegui e fiquei muito feliz por isso", concluiu.
O golo que Fuseini marcou aos 42 minutos, na vitória do Gana por 4-0 frente a Trinidad e Tobago, foi um exemplo puro de instinto e finalização clínica. Terminou esse estágio internacional como um dos jogadores em destaque. No entanto, ao perspectivar o futuro na selecção, sobretudo com vista à fase de qualificação para o Mundial, o jovem avançado demonstrou um optimismo cauteloso em relação à possibilidade de manter um lugar no plantel.
"Acho que é possível, porque acredito que os treinadores sabem o que posso trazer à equipa. Só tenho de estar preparado, dar o meu melhor no clube, e depois logo se verá", afirmou Fuseini.
Apesar dos progressos notáveis, o jogador mantém os pés assentes na terra e o foco total na sua evolução.
"Quero melhorar em muitos aspetos, como a minha forma física, garantir que não tenho mais lesões e conseguir manter-me em forma durante toda a temporada. Além disso, quero evoluir na minha capacidade de finalização e no um contra um", destacou.
À medida que o Union Saint-Gilloise se prepara para disputar a Liga dos Campeões pela primeira vez desde o regresso à primeira divisão, Fuseini sublinha a importância de manter o sucesso interno, sem perder o foco nos desafios europeus.
"Penso que a ambição do clube passa por continuar no topo e manter o bom desempenho no campeonato. Claro que queremos defender o título e também fazer uma boa campanha na Liga dos Campeões."
A participação na Liga dos Campeões será o verdadeiro teste ao crescimento do Union e à afirmação de Fuseini. Para um clube que há apenas algumas décadas militava na quarta divisão belga, a possibilidade de enfrentar a elite do futebol europeu representa o ponto mais alto de uma história absolutamente extraordinária.
