Todas estas finais representam uma celebração do futebol europeu. No entanto, há 39 anos, uma delas terminou em tragédia. Em 1985, em Bruxelas, o Estádio Heysel foi palco de um dos episódios mais negros da história do desporto: o desastre de Heysel, que manchou para sempre a final da Taça dos Campeões Europeus.
Na noite de quarta-feira, 29 de maio de 1985, o mundo do futebol vivia um clima de grande tensão e expectativa. Milhões de adeptos esperavam ansiosamente pela final da Taça dos Campeões Europeus — hoje conhecida como Liga dos Campeões — entre dois gigantes do futebol europeu: o Liverpool e a Juventus.
Os ingleses queriam defender o título conquistado no ano anterior e alcançar a sua quinta Taça dos Campeões, enquanto os italianos procuravam redimir-se da derrota na final de 1983, frente ao Hamburgo.
Era suposto ser uma noite de festa, mas, em vez do habitual entusiasmo que antecede o apito inicial, os espectadores viram imagens de caos e desespero. Equipas de socorro invadiam o relvado, adeptos ensanguentados corriam em pânico e, nas bancadas, corpos permaneciam imóveis.
Cerca de uma hora antes do início previsto da partida, a tragédia abateu-se sobre o envelhecido Estádio Heysel, em Bruxelas. A infraestrutura precária, a má gestão do público e a violência entre adeptos resultaram numa avalanche humana que provocou a morte de 39 pessoas — a maioria italianos — e deixou mais de 600 feridos.

Caos, pressão do público e queda de um muro
Depois da final tensa do ano anterior entre Liverpool e Roma, os organizadores da Taça dos Campeões Europeus de 1985 abordaram o jogo com precaução redobrada. Procuraram evitar confrontos ao separar os adeptos nas bancadas: os setores atrás das balizas foram reservados, respetivamente, aos ingleses do Liverpool (de vermelho) e aos italianos da Juventus (de preto e branco). As tribunas laterais ficaram para espectadores considerados mais pacíficos.
No entanto, a segurança revelou-se falível. Várias dezenas de adeptos da Juventus conseguiram entrar numa das zonas "neutras", próxima da bancada destinada aos adeptos do Liverpool. Tinham adquirido bilhetes no mercado negro. Embora muitos fossem adeptos comuns, a sua presença naquele local foi suficiente para acender o rastilho.
Os hooligans do Liverpool romperam a frágil barreira que separava os sectores e avançaram em massa contra os adeptos italianos. Em pânico, estes tentaram fugir na única direção possível — havia apenas uma saída para aquele sector sobrelotado. A multidão recuava sob pressão, até que o muro que separava a bancada do relvado cedeu à força humana.
O colapso foi fatal. Muitas pessoas foram esmagadas contra as barreiras ou espezinhadas no caos. O balanço final foi devastador: 39 mortos — a maioria italianos, mas também belgas — e cerca de 600 feridos.
Do outro lado do estádio, os adeptos da Juventus, ao perceberem o que se passava, tentaram avançar em represália, mas a polícia conseguiu, a custo, evitar uma nova tragédia.
Jogar ou não jogar
Enquanto o caos se desenrolava nas bancadas e os feridos eram socorridos, nas entranhas do Estádio Heysel decorria uma acalorada discussão sobre o destino da final.
A decisão lógica seria o cancelamento imediato da partida. No entanto, os responsáveis temiam que essa medida pudesse desencadear ainda mais violência no exterior do estádio, onde milhares de adeptos das duas equipas se concentravam nas ruas de Bruxelas.
Inicialmente, os jogadores de Liverpool e Juventus recusaram-se a entrar em campo. Só após intensa pressão por parte dos dirigentes da UEFA é que aceitaram disputar o encontro — uma decisão polémica, ainda hoje debatida.
O jogo decorreu num ambiente profundamente sombrio e silencioso. As bancadas estavam parcialmente vazias, com muitos adeptos a dirigirem-se aos hospitais da cidade em busca de familiares e amigos desaparecidos.
O único golo da final foi marcado por Michel Platini, de grande penalidade, aos 56 minutos, dando à Juventus o seu primeiro título na mais prestigiada competição de clubes da Europa. O clube italiano dedicou simbolicamente o troféu às vítimas do desastre, numa noite que ficou para sempre manchada na história do futebol.
Consequências do massacre
A tragédia de Heysel teve repercussões muito para além do que aconteceu dentro das quatro linhas.
A UEFA apontou os adeptos do Liverpool como principais responsáveis pelo desastre. Vários foram levados a tribunal e 14 acabaram condenados por homicídio involuntário. Em resposta à gravidade dos acontecimentos, todos os clubes ingleses foram banidos das competições europeias — uma suspensão que durou cinco anos. Para o Liverpool, a sanção foi inicialmente fixada em dez anos, mas viria a ser reduzida para seis.
O impacto foi profundo e duradouro. O desastre marcou uma viragem no futebol inglês, obrigando os clubes e as autoridades a repensar a segurança nos estádios e o comportamento dos adeptos.
A tragédia de Heysel acelerou também reformas em toda a Europa, com medidas que se tornaram padrão nas décadas seguintes: maior separação entre claques, controlo rigoroso da venda de bilhetes, instalação de sistemas de videovigilância, restrições ao consumo de álcool e a transição gradual para estádios exclusivamente com lugares sentados.
Mais do que um simples jogo, a final de 1985 tornou-se um símbolo da necessidade urgente de mudar o futebol — para torná-lo mais seguro, mais civilizado e digno da paixão que inspira em milhões de pessoas.