José Mourinho faz 61 anos: como o técnico português revolucionou o futebol

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José Mourinho faz 61 anos: como o técnico português revolucionou o futebol

Treinador português celebra 61 anos
Treinador português celebra 61 anosProfimedia
O sprint até à bandeirola de canto em Old Trafford, a defesa do Inter Milão em Camp Nou, o festejo de joelhos no Bernabéu, com Cristiano Ronaldo a imitar, ou a primeira conferência de imprensa no Chelsea, onde se declarou um treinador... especial. José Mourinho faz esta sexta-feira 61 anos e o Flashscore leva-o numa viagem à carreira de um homem que mudou, em definitivo, o futebol.

José Mourinho está diretamente envolvido no futebol desde os anos 80. Primeiro como jogador, depois como treinador, começando como tradutor do inglês Bobby Robson, em Portugal e em Espanha, antes de começar a treinar no campo, tornando-se peça importante no staff de sir Bobby Robson.

Porém, dado o que sabemos, hoje, de José Mourinho, isso nunca seria suficiente.

A carreira de José Mourinho como treinador principal começou em Portugal, na viragem do milénio, com o Benfica a abrir-lhe as portas, antes de se dar a conhecer ao mundo, já depois da passagem pela União de Leiria, quando em duas épocas e meia no FC Porto ganhou... tudo: campeonato, Taça de Portugal, Taça UEFA e, claro, a histórica Liga dos Campeões.

Em 2004/2005 José Mourinho saiu de Portugal rumo ao Chelsea e nunca mais voltou. Quase 20 anos depois, a verdade é que o treinador deixou a sua marca no campeonato.

O arranque, do Benfica a Leiria e ao FC Porto

Em 2000/2001, José Mourinho chegava ao Benfica, como um perfeito desconhecido, vindo do Barcelona, onde era treinador adjunto. Uma aposta arriscada na altura, num jovem treinador, tentando quebrar com o conservadorismo de Jupp Heynckes na Luz, num clube em plena crise interna. O plantel, esse, era analisado como mediano mas José Mourinho começou a ser... José Mourinho, quando publicamente falou sobre Sabry, uma das figuras da equipa, que exigia mais tempo de jogo, e respondeu, ponto por ponto, às críticas do extremo egípcio.

José Mourinho fez apenas onze jogos no Benfica, ganhou seis deles mas as eleições trouxeram Manuel Vilarinho para a presidência dos encarnados e com ele Toni para o comando técnico. José Mourinho não teve a renovação pretendida, esteve praticamente garantido no Sporting mas deu um passo atrás na carreira, assumindo o comando técnico da União de Leiria.

"O Benfica era o meu primeiro clube. Depois de ultrapassar as dificuldades iniciais, a equipa ganhava, jogava, tinha crença, havia empatia com os adeptos e pensava-se já que naquela própria época que a equipa podia ter sido campeã. Mas, ao mesmo tempo, foi um ponto marcante desta carreira", recordou, recentemente, José Mourinho.

Em seis meses em Leiria, José Mourinho levou a União ao quarto lugar, a jogar o melhor futebol em Portugal, e rapidamente saltou para o FC Porto, levando consigo nomes como Nuno Valente e Derlei.

No FC Porto, Mourinho continuou a ser... Mourinho. Para a história fica a famosa conferência de imprensa. "Somos a melhor equipa do país. Em condições normais, somos melhores. Em condições normais, vamos ser campeões. E em condições anormais também vamos ser campeões", disse José Mourinho, dando um murro na mesa.

E Mourinho... foi campeão. Não só em Portugal mas na Europa. Depois de ter vencido a Taça UEFA venceu a Liga, a Supertaça e, apesar de um empate e uma derrota nos dois primeiros jogos da fase de grupos, conquistou também a Liga dos Campeões, de forma clara, derrotando o Monaco (3-0) em Gelsenkirchen.

Dois dias depois, José Mourinho estava a caminho do Chelsea. Na altura, foi dito que "celebrou a Liga dos Campeões no iate de Abramovich". 

Entre 2004 e 2023, muita coisa aconteceu com José Mourinho, o filho pródigo, cuja natureza rebelde virou cabeças e corações de todos os adeptos de futebol em Portugal. A sua relação com o FC Porto e os seus adeptos tem sido um misto de desconfiança e orgulho mútuos. 

José Mourinho é uma espécie de D. Sebastião, rei promissor que desapareceu na batalha de Alcácer Quibir e prometeu voltar num dia de nevoeiro. Mourinho conquistou Portugal e os adeptos ainda esperam pelo seu regresso para conduzir a Seleção Nacional. Esteve perto, no início de 2023, após a saída de Fernando Santos, mas não aconteceu. E, como o antigo herdeiro ao trono, também aqui a esperança de um dia de nevoeiro que traga de volta o Special One começa a desvanecer-se.

Mourinho, o Legendary One

Do FC Porto ao Chelsea, José Mourinho voltou a ter sucesso nos blues, algo que não foi tão notório, no reinado inglês, quando orientou Manchester United e Tottenham.

Ao todo, foram doze anos de José Mourinho na Premier League, inúmeros soundbytes do treinador português, começando desde logo com a sua apresentação no Chelsea, onde defendeu ser... especial.

No Chelsea, liderou aquela que muitos dizem ser uma das melhores equipas alguma vez vistas na história da Premier League, solidificando talentos ingleses como John Terry e Frank Lampard, acrescentando outros nomes de culto como Didier Drogba, Petr Cech e Arjen Robben.

Pelos blues, José Mourinho mudaria a forma de ver o jogo em Inglaterra, apostando numa antítese do estilo swashbuckling do Manchester United de sir Alex Ferguson e da serenidade do Arsenal de Àrsene Wenger, as duas equipas que mais dominavam a Premier League antes da chegada do treinador português.

O estilo defensivo de José Mourinho, o famoso 'park the bus' - autocarro estacionado - aborrecia a maioria dos adeptos do Chelsea, que rapidamente mudariam de opinião, com os títulos de 2004/2005 e 2005/2006, duas Taças de Inglaterra, uma Taça da Liga e uma Community Shield.

Mourinho fez história no Chelsea
Mourinho fez história no ChelseaProfimedia

José Mourinho deixaria o Chelsea, três épocas depois da chegada, como o treinador de maior sucesso da história do clube londrino, vencendo seis troféus e deixando um enorme vazio na hora da despedida. Juntamente com Abramovich e os petrodólares, mudou a face do futebol inglês e deixou um 8 e 80 no sentimento dos adeptos: odiado por uns, amado por outros, Mourinho estava onde queria estar no coração dos amantes do desporto-rei.

O regresso de José Mourinho a Stamford Bridge aconteceria em 2013, depois das passagens por Inter Milão e Real Madrid. A Premier League era mais competitiva mas Mourinho venceria novamente campeonato e Taça da Liga, em 2014/2015, com muitos dos seus antigos jogadores em atividade.

Durante o reinado inglês, ficaram famosas as suas disputas com outros treinadores, nomeadamente com Àrsene Wenger, a quem chamou de "especialista em falhanços", depois de um desentendimento público entre ambos na segunda passagem de Mourinho pelo Chelsea.

Na sua passagem pelo Manchester United, entre 2016 e 2019, José Mourinho era criticado pela aparente falta de ligação com os adeptos, por não jogar da forma como os red devils estavam habituados, a denominada "the Man Utd way". Agora, olhando para trás, Mourinho conseguiu um segundo lugar na Premier League, em 2017/2018, apenas e só a melhor classificação de um treinador pós-Ferguson.

Em 2016 venceu igualemente uma Community Shield e, em 2016/2017, juntou a Taça da Liga à Liga Europa, fazendo de Mourinho um dos treinadores com mais sucesso na história do Manchester United, algo que fez questão de sublinhar inúmeras vezes em conferências de imprensa.

Antes de assumir o cargo de treinador do Tottenham em 2019, José Mourinho tornou-se uma cara comum na televisão britânica, ora fazendo aparições intrigantes como comentador, ora com presenças em jogos de cariz social, nomeadamente a presença em Loftus Road, em 2017, quando assumiu a posição de guarda-redes, com momentos hilariantes que ficaram na memória dos ingleses.

Em 2019 assumiu então a liderança do Tottenham, proclamado como "The Humble One", o humilde, naquele que foi o seu único clube em que saiu sem troféus - de resto, algo que não é exclusivo ao treinador português nos spurs.

Ainda assim, guiou o Tottenham a uma final da Taça da Liga, no meio de uma pandemia, e tendo por trás as câmaras da série All of Nothing, da Amazon. Inexplicavelmente, José Mourinho foi demitido uma semana antes da final, a primeira do Tottenham numa década, e os spurs viriam mesmo a perder, com Ryan Mason no comando.

José Mourinho é um treinador que não deixou apenas um legado no futebol inglês, é indubitavelmente um ícone na história da Premier League. Faz parte da história daquele campeonato, trilhando e abrindo caminho a outros nomes como Jurgen Klopp, Pep Guardiola e Antonio Conte, que entraram em grandes equipas e imprimiram as suas próprias filosofias, à maneira de Mourinho.

O Special One, o Humble One. No final, o Legendary One.

Ligação inquebrável com o Inter

José Mourinho deixou o Chelsea na sua primeira passagem numa autêntica nuvem de fumo, mas encontrou rapidamente uma nova casa em Itália, no Inter Milão, onde voltaria a levantar uma Liga dos Campeões e, claro está, onde voltaria a ser controverso.

Em Itália, José Mourinho é hoje visto como um símbolo, um exemplo de grande história, um cataclismo de amor e ódio ao mesmo tempo.

O treinador português tem o seu nome escrito a letras de ouro no futebol italiano, graças às conquistas alcançadas no Inter Milão. Um clube histórico mas que estava destinado a falhar nas grandes decisões, até à chegada do treinador português, que trouxe de volta a mentalidade vencedora. E é por isso que, apesar de ter treinador a Roma, tem ainda uma ligação inquebrável com os adeptos do Inter.

Foi precisamente dez anos depois desse conto de fadas em Milão, onde ganhou tudo o que havia para ganhar, que José Mourinho regressou à Serie A para assumir a Roma. Um amor à primeira vista entre adeptos e treinador mas que demorou a traduzir-se nas exibições da equipa.

José Mourinho voltou a Itália para treinar a Roma
José Mourinho voltou a Itália para treinar a RomaAFP

O ponto de viragem aconteceu há duas épocas, na Liga Conferência, o primeiro troféu depois de uma autêntica travessia no deserto dos romanos. E desde aí que a ligação entre clube, treinador, jogador e adeptos foi evoluindo, solidificando, provando uma vez que José Mourinho é muito mais do que um treinador, mesmo no momento em que é despedido.

A polémica, porém, anda e sempre andou de mãos dadas com o treinador, que faz questão de a criar quando parece não existir. Dos inúmeros gestos icónicos de Mourinho em Itália, o mais forte talvez tenha sido o gesto das algemas, no Inter-Sampdoria, em 2010, que lhe valeu uma suspensão de três jogos.

É uma imagem que espelha e resume o que é Mourinho em Itália: um showman, um centralizador mas, acima de tudo, um aglutinador de pessoas.

Última paragem: duelo com Guardiola

A nossa última paragem nesta viagem pela carreira de José Mourinho é em Espanha, e em Madrid, onde José Mourinho esteve três anos, entre 2010 e 2013, com a grande missão de acabar com o reinado de domínio do Barcelona de Pep Guardiola.

Depois da sua primeira passagem por Espanha como tradutor e adjunto de Bobby Robson, o reinado de Mourinho no Real Madrid deixa memórias agridoces, sobretudo nos clássicos tensos com o Barcelona, que afetaram até a sua relação pessoal com jogadores da seleção espanhola, sobretudo depois do terrível, controverso e embaraçoso episódio em que enfiou um dedo no olho do falecido Tito Vilanova.

Controvérsias à parte, José Mourinho deixou uma vez mais a missão... cumprida: pôs fim à hegemonia do Barça de Guardiola.

Depois de um triplete na época anterior, o Barcelona parecia invencível. Um golo de Cristiano Ronaldo no prolongamento da final da Taça do Rei, na época de estreia, mostrava que Mourinho tinha outra ideia. No ano seguinte, a La Liga era do Real Madrid, precipitando a saída da Catalunha do agora treinador do Manchester City.

Duelos entre Mourinho e Guardiola ficaram para a história
Duelos entre Mourinho e Guardiola ficaram para a históriaProfimedia

Ficou a faltar a Mourinho, claro está, a Liga dos Campeões. Nos três anos em que orientou os merengues, ficou sempre pelas meias-finais.

Durante os anos de seca de título de campeão espanhol do Real Madrid, o nome de José Mourinho sempre ecoou nos corredores. Mas a decisão de não voltar a contratar o treinador foi mais influenciada pela erosão que o própriou foi causando com os adeptos - divididos entre os valores tradicionais do clube e os antagónicos defendidos pelo técnico - do que pelos seus feitos desportivos.

Mourinho e os duelos com o Barça de Messi
Mourinho e os duelos com o Barça de MessiProfimedia

Desde o seu humilde início em Portugal até chegar ao topo do futebol mundial, José Mourinho conquistou corações e mentes ao longo da sua carreira - e nem sempre da melhor maneira. Agora, ao completar esta quinta-feira 60 anos, estamos a assistir ao amadurecimento de um caráter forte. 

À medida que o seu legado continua a crescer, é pouco provável que a estrela de José Mourinho diminua. No máximo, os seus feitos só serão ainda mais reverenciados. Um feitiço na gestão internacional da sua carreira parece ser o passo mais lógico após a Roma e, dada a sua afinidade com a terra natal, esse parece ser o destino ideal.

Uma coisa é certa: não vamos deixar de ouvir falar do especial tão cedo.

Nota: Artigo publicado originalmente a 26 de janeiro de 2023, quando José Mourinho completou 60 anos, atualizado a 26 de janeiro de 2024.