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Depois de ter sido alvo de críticas no início da primavera, na sequência de algumas exibições menos conseguidas, Vitinha respondeu da melhor forma — elevando o seu rendimento nos momentos decisivos. O internacional português esteve em destaque na meia-final da Liga dos Campeões frente ao Arsenal, onde brilhou intensamente. Foi eleito Homem do Jogo pela UEFA na vitória no Emirates Stadium e voltou a exibir-se a alto nível na segunda mão, no Parque dos Príncipes, em maio, assumindo o papel de verdadeiro metrónomo do meio-campo parisiense.
Estes dois encontros simbolizam na perfeição a importância de Vitinha na manobra da sua equipa, bem como a progressão notável que tem vindo a evidenciar mês após mês. Vítor Machado Ferreira, que já se havia destacado na temporada anterior, atingiu o ponto mais alto da sua carreira até ao momento. Tornou-se, sem margem para dúvidas, num dos melhores médios do mundo — e vai ainda mais longe: está a fazer o que poucos conseguiram nos últimos anos, ao deixar a sua marca em jogos tão prestigiados como uma final da Liga dos Campeões.

Olhando para trás, alguns nomes vêm à mente. Rodri e Kevin De Bruyne foram excecionais com o Manchester City, assim como Jorginho e N'Golo Kanté com o Chelsea no início da década, e Luka Modric e Toni Kroos com o Real Madrid durante a Liga dos Campeões.
Obviamente, é sempre difícil estabelecer comparações diretas, mas Vitinha destaca-se pela sua rara capacidade de influenciar diretamente o desenrolar e o resultado dos jogos. São poucos os médios, nos últimos anos, com essa combinação de critério, visão e impacto em contextos de máxima exigência. Para além disso, o seu papel como criador recuado — a iniciar jogadas a partir de zonas mais baixas do terreno — tem sido particularmente interessante de observar, evidenciando a sua inteligência táctica e leitura de jogo.
Durante o Media Day da UEFA, no Campus do PSG, o internacional português, de 25 anos, não escondeu a emoção de disputar a sua primeira final da Liga dos Campeões:
“Esta final da Liga dos Campeões é muito importante para mim, vai ser o jogo mais importante da minha carreira até agora. Espero que, no futuro, existam ainda mais momentos como este — mas nunca se sabe. É por isso que temos de dar tudo. É realmente um momento incrível. Trabalha-se toda a época para chegar aqui, para ter a oportunidade de jogar uma final”, afirmou Vitinha.
Um médio versátil e "perfeito"
Em fevereiro, após a vitória por 3-0 sobre o Brest, nos play-offs da Taça de França, Luis Enrique não poupou elogios a Vitinha, descrevendo-o como o epítome do médio “perfeito”. Um adjetivo revelador, que ajuda a compreender a forma como o treinador do PSG vê o seu número 17. Há vários anos que Vitinha é a base de um meio-campo a três e, nesta época, consolidou-se como uma das peças-chave da estrutura parisiense.
Luis Enrique pode ser o cérebro da operação, mas é em campo que Vitinha assume o controlo da organização táctica. O internacional português, formado no FC Porto, é quem torna viável o jogo posicional idealizado pelo técnico espanhol — o mesmo que conduziu o Barcelona ao título europeu em 2015.
Vitinha é, quase invariavelmente, o jogador com mais toques na bola por jogo. O plano é claro: tudo deve passar por ele antes da finalização. A sua postura vertical, aliada à precisão no passe, assegura fluidez e evita que o jogo se torne estéril — uma limitação que, por vezes, afectou o PSG, mas que tem sido cada vez melhor resolvida.

Quando se analisam as suas estatísticas, é inevitável compará-lo a referências como Rodri ou Sergio Busquets nos tempos de Pep Guardiola. Há semelhanças evidentes no papel que desempenham, embora cada um traga características únicas ao jogo. E é precisamente essa individualidade que permite a Vitinha brilhar por mérito próprio.
O médio português pode não ser o jogador mais impressionante no último terço do terreno, mas compensa com eficácia sempre que sobe no terreno. É exímio da marca de grande penalidade e já demonstrou capacidade para aparecer em zonas de finalização e marcar golos importantes. O seu remate de média distância é, aliás, uma arma subvalorizada no seu repertório técnico.
Tal como aconteceu com Rodri, médio do Manchester City, na final de 2023, Vitinha poderá muito bem ser o homem decisivo no próximo sábado e abrir o marcador na Allianz Arena.
Entretanto, Vitinha lidera várias estatísticas entre os médios da Liga dos Campeões desta época. É o jogador da sua posição com mais passes completados (1.222), mais passes longos bem-sucedidos (84) e mais dribles eficazes (22). Não se limita a distribuir jogo — é também quem conduz a bola com critério e verticalidade, fazendo-a progredir no terreno com inteligência e segurança.
Mas o impacto de Vitinha não se esgota no plano ofensivo. Sem bola, é o primeiro a pressionar e um dos motores da intensidade que tornou o PSG uma equipa temida na Europa. O volume físico da equipa parisiense tem sido impressionante, e o médio português é um dos rostos desse esforço coletivo. Os números falam por si: 52 duelos ganhos, 20 interceções e 84 recuperações de bola nesta edição da Liga dos Campeões.

Falta-lhe agora apenas um jogo para completar uma época histórica. E se tudo correr bem na Allianz Arena, Vitinha poderá inscrever definitivamente o seu nome no hall of fame do futebol francês — juntando-se ao círculo restrito dos melhores médios da sua geração.