Vale a pena notar que, mesmo antes de se instalar na capital francesa, o espanhol já tinha uma reputação distinta.
Apesar de Pep Guardiola ter sido muitas vezes apontado como o melhor treinador da sua geração - talvez o melhor de sempre, na opinião de alguns -, muitas vezes não se sabe que o período de Luis Enrique como treinador do Barcelona foi mais bem sucedido do que o do seu antigo colega de equipa.
Por isso, o sucesso era esperado no PSG e, embora o derradeiro prémio da Liga dos Campeões ainda não tenha sido conquistado, os parisienses estão certamente mais perto desse sonho, como o demonstra o seu recente desempenho em Anfield.
O que mudou? Para começar, o PSG parece agora mais uma equipa do que tem sido nas últimas temporadas repletas de estrelas.
Luis Enrique está a tirar o melhor partido de Dembélé
Apesar de ter trabalhado com Lionel Messi, Luis Suárez e Neymar no Barça, Luis Enrique nunca se deixou enganar e quem não estiver disposto a sacrificar-se pela equipa será posto de parte.
Ousmane Dembélé, um jogador com problemas disciplinares no clube catalão, chegou ao Barça alguns meses depois da saída de Luis Enrique, que agora está a tirar o melhor partido do primeiro.
O campeão do mundo francês está em grande forma esta temporada e já marcou 32 golos em todas as competições, além de ter dado sete assistências.
A título de comparação, a sua época de maior sucesso ao serviço do Barcelona (2018/19) foi de 14 golos e oito assistências.
Apesar de se ter tornado um ponto fulcral para a equipa - o seu recorde de golos coloca-o apenas atrás de Mbappé e à frente de Messi, Neymar e outros - está longe de ser uma superestrela como esses grandes nomes foram. Isso porque Luis Enrique simplesmente não o permite.
Na ala oposta a Dembélé, Bradley Barcola também tem demonstrado ser uma linha de abastecimento regular para a equipa. 23 golos e 24 assistências em apenas 84 jogos é um bom resultado para o jogador de 22 anos.
A velocidade com que ele e Dembélé partem muitas vezes dá o tom dos ataques do PSG, não só dificultando a vida aos defesas, como também permitindo uma presença ofensiva suplementar de jogadores como Achraf Hakimi (cinco golos e 12 assistências esta época) e dando a Désiré Doué espaço para executar de forma francamente inacreditável.
Com apenas 19 anos, Doué já marcou 10 golos e fez 11 assistências em 2024/25, o que o coloca à frente de Marco Asensio, Angel Di Maria e outros em termos de rendimento.
Dembélé, Barcola, Doue e Hakimi também figuram entre os 20 melhores jogadores do PSG a partir de 2021/22 em termos de estatísticas de passes, o que indica que não é apenas em frente à baliza que se concentra a sua excelência.
Por exemplo, apenas Marquinhos fez mais passes do que os 9 679 de Hakimi, dos quais 8 667 foram concluídos, o que lhe dá uns brilhantes 89,5% de conclusão de passes.
Para reforçar a confiança que Doué já demonstrou, o jovem fez 1.277 passes em 41 jogos pelo PSG, o que não fica muito atrás dos 1.970 de Barcola, apesar de este último ter jogado no clube por mais uma temporada (84 jogos no total).
Sem Zlatan, Mbappé, Neymar ou qualquer outra grande estrela que exija que os seus egos sejam alimentados em todas as oportunidades, Luis Enrique pôde implementar um estilo de jogo diferente no PSG, que é mais propício ao sucesso.
Para dar um pouco mais de contexto, esta semana o PSG joga contra o Angers precisando de apenas um ponto para garantir o título da Ligue 1 - enquanto ainda está invicto.
A seis jornadas do fim do campeonato, os parisienses teriam a oportunidade de se tornarem na primeira equipa da história da primeira divisão francesa a ficar invicta durante uma época, algo que não conseguiram fazer nem com os maiores nomes do futebol a vestir a camisola do clube.
Além disso, o clube continua a ser um dos favoritos à conquista da primeira Liga dos Campeões e já está na final da Taça de França contra o Reims.
No que diz respeito à manutenção da invencibilidade, o mais próximo que alguém chegou de ser "invencível" em França foi na temporada 94/95, quando o Nantes foi derrotado apenas uma vez no campeonato.
O Nantes também detém o recorde de invencibilidade mais longo do campeonato, com 32 jogos.
Mais história para o PSG e Luis Enrique
O PSG está há 27 jogos sem perder e a recente vitória por 6-1 sobre o Saint-Étienne também aumentou a invencibilidade fora de casa na primeira divisão francesa para 38 partidas.
O recorde europeu foi igualado pelo AC Milan na Serie A - nenhuma derrota entre 1991 e 1993 - e o PSG pode superá-lo quando viajar ao Stade de la Beaujoire no dia 22 de abril, coincidentemente para enfrentar o Nantes.
Para onde quer que se olhe no plantel do PSG, há uma história de sucesso no momento, com todos parecendo puxar na mesma direção.
Em relação a Unai Emery, Thomas Tuchel, Mauricio Pochettino e outros, talvez a postura exigente de Luis Enrique tenha convencido a direção do clube a apoiar o espanhol até ao fim, quando antes era possível dizer que as estrelas tinham todo o poder.
O lema de Luis Enrique era "A equipa antes de mim", se ele tivesse a responsabilidade de levar o PSG à terra prometida.
Mais do que qualquer jogador, a contratação do técnico de 54 anos foi, sem dúvida, o melhor negócio recente do Paris Saint-Germain.
