Numa noite em que voltou ao palco de alguns dos seus maiores triunfos, José Mourinho não conseguiu convencer o mundo de que ainda há mais conquistas à vista.
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O termo pode só foi criado alguns meses depois, mas o Special One nasceu numa noite de Liga dos Campeões em Inglaterra, em março de 2004. Nessa noite, José Mourinho ficou conhecido mundialmente ao correr pela linha lateral de Old Trafford para celebrar, depois de o seu FC Porto eliminar o Manchester United nos oitavos de final.
Agora, 11 anos depois, liderava um emblema do seu país em solo britânico pela primeira vez desde aquela noite histórica, comandando o Benfica frente ao seu antigo clube Chelsea, onde se afirmou como um dos maiores treinadores do mundo.
Entre essas duas noites, conquistou vários troféus, incluindo duas Ligas dos Campeões, mas também foi despedido várias vezes, incluindo nas três últimas funções, todas marcadas por mais momentos difíceis do que bons. A questão, ao encarar o seu passado, era se os seus dias de glória pertenciam mesmo ao passado, ou se o Special One de todos aqueles anos ainda existia.
Bastaram dois minutos de jogo para ficar claro que continuava especial, pelo menos aos olhos dos adeptos do Chelsea, que cantaram o nome do antigo treinador enquanto lhes enviava um beijo. No entanto, pouco mais teve para sorrir na primeira parte, com a sua equipa a ficar em desvantagem por 1-0, aos 18 minutos, e sem nunca dar sinais de conseguir empatar antes do intervalo. Pouco depois, os adeptos da casa voltaram a cantar o seu nome, o que mostra o quanto viam Mourinho e o Benfica como ameaça; teriam feito isso se achassem que ele ia estragar-lhes a noite?
Quando o fizeram pela terceira vez, já nos minutos finais, parecia mais um gesto de compaixão. Como se tivessem encontrado um ex-namorado que não estava bem e tentassem animá-lo. Perder por 1-0 fora contra o Chelsea com uma equipa teoricamente mais fraca não é propriamente um desastre para qualquer treinador, mas Mourinho não é qualquer treinador. Ele é o Special One.
Há pouco mais de duas décadas, venceu um Manchester United muito mais forte do que este Chelsea, numa partida em que a diferença entre as equipas era bem maior. E, mesmo assim, desta vez nunca pareceu que conseguiria repetir a surpresa.
Os números podem indicar que esteve perto, mas o Benfica nunca deu realmente sinais de marcar, e o Chelsea nunca precisou de acelerar. Como é habitual, Mourinho mostrou-se confiante após o jogo. Na conferência de imprensa, defendeu que teve sucesso em todos os clubes por onde passou, mesmo nos tempos mais recentes, e acredita que pode fazer o mesmo no Benfica.
"A minha carreira levou-me a um patamar em que todos pensam que tenho magia para fazer as coisas acontecerem. Saí do Manchester United depois de conquistar títulos. Saí do Tottenham depois de levar o clube a uma final. Saí da Roma após duas finais europeias. (Mas) comigo nunca é suficiente. Nunca é suficiente. Por isso, se estou no cargo, é porque gosto de me desafiar todos os dias. Estou desesperado para vencer a próxima partida. É a natureza das coisas", afirmou.
Apesar de continuar carismático e motivado, até ele deve questionar se ainda é o treinador que já foi. No fim, é preciso ter coragem para, quando tudo terminar, perceber que os melhores momentos já passaram.
